O início do tarifaço nesta quarta-feira (6/8) escalou o temor por demissões em setores afetados pela cobrança de 50% aplicada por Donald Trump às exportações brasileiras. Apesar de uma lista que isentou quase 700 produtos, a medida da Casa Branca atinge cerca de 36% das negociações brasileiras aos Estados Unidos, conforme o governo federal. Com o início da cobrança cresce, nas cadeias impactadas, a movimentação para busca de renegociações contratuais.

Na cafeicultura, além da revisão de termos negociados anteriormente, exportadores também têm procurado empresas brasileiras para dividir o custo adicional gerado pela tarifa. “Alguns operadores do mercado já vêm buscando entender e renegociar contratos futuros, buscando repartir partes dessas tarifas com produtores, exportadores e cooperativas, de modo a impactar de maneira diminuída o consumo no mercado norte-americano”, ressaltou o diretor executivo da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA), Vinicius Estrela. 

Em meio a este cenário, o setor também segue dialogando não só com o governo brasileiro, mas com representantes da indústria cafeeira estadunidense, para que o café seja tratado como um produto natural e fique isento de taxas da Casa Branca - possibilidade aventada anteriormente pelo governo do republicano. Internamente, o governo brasileiro prepara um plano de socorro às cadeias produtivas afetadas, com foco em pequenos produtores que têm relações comerciais estabelecidas com os Estados Unidos. 

As medidas devem ser oficializadas via medida provisória. “Trata-se de um produto que os EUA não cultivam em escala para atender o mercado interno, lembrando que eles são os maiores consumidores mundiais, absorvendo mais de 24 milhões de sacas ao ano. Na eventualidade disso não ocorrer, seguiremos trabalhando para que o café entre na lista de isenções do Brasil”, pondera o diretor-geral do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), Marcos Matos.

O representante do Cecafé sinaliza que uma isenção ao mercado brasileiro deixaria o país em condições de igualdade ou até vantagem em relação a outros países que também exportam aos EUA, como Vietnã e Colômbia. Matos diz que o movimento de aumento de consumo em novos mercados na Europa e na Ásia é importante, mas ainda insuficiente para suprir a demanda norte-americana. 

“O Brasil, como maior produtor global, é o único país capaz de atender a essa demanda crescente, contudo, não se trata de uma absorção do volume de 8,1 milhões de sacas que exportamos aos EUA. Não podemos relativizar o mercado norte-americano, que é nosso principal comprador, onde respondemos por 30% da oferta. Ou seja, há uma relação de interdependência entre Estados Unidos e Brasil”, crava. 

À espera de negociações 

O setor calçadista brasileiro estima que 20 mil empregos poderão ser eliminados com efeitos diretos do tarifaço. O cálculo é da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados). A entidade afirma que 80% das empresas exportadoras relataram que terão impactos em decorrência da taxa de 50% às exportações brasileiras. 

Para evitar a onda de demissões, o setor diz que espera uma solução para o impasse entre os dois países. A curto prazo, o cálculo é que 8 mil empregos diretos possam ser perdidos. Mas se considerados todos os postos de trabalho gerados no setor por fornecedores de materiais e lojas do varejo, o número sobe a 20 mil. “Estimamos, nos próximos 12 meses, uma queda de 9% nas exportações, queda que será puxada pelos Estados Unidos”, calcula o presidente da Abicalçados, Haroldo Ferreira. 

Ele ressalta que o impacto direto sobre empregos e exportações reforça a necessidade de medidas de caráter emergencial em proteção ao setor calçadista nacional. “Entre os impactos já relatados há atrasos ou paralisação em negociações, queda do faturamento em decorrência da medida e cancelamento de pedidos, parte, inclusive, já produzidos ou em produção”, alerta. 

Historicamente, o principal destino internacional do calçado brasileiro, os Estados Unidos respondem por mais de 20% do valor total gerado pelas exportações do setor, segundo a Abicalçados. Apesar do cenário internacional adverso, a associação diz que o setor vinha, ao longo do ano, recuperando as exportações de calçados aos Estados Unidos. 

No primeiro semestre de 2025, o Brasil exportou 5,8 milhões de pares de calçados àquele país, 13,5% mais do que no mesmo intervalo de 2024. “Com a sobretaxa de 50% o ciclo será interrompido, com efeitos econômicos e sociais importantes para o Brasil”, crava a Abicalçados.