Apesar de não ser impactada diretamente com a tarifa de 50% aplicada por Donald Trump às exportações brasileiras, a indústria de móveis de Minas Gerais viu a luz de alerta acender no horizonte. Com o início da cobrança da alíquota, o setor observou um aumento nas placas de MDF, base para confecção de móveis planejados e para o varejo. A expansão, em alguns casos, chega a 25% e gera um temor por uma desaceleração. 

O presidente do Sindicato das Indústrias do Mobiliário e de Artefatos de Madeira no Estado de Minas Gerais (Sindimov-MG), Maurício Lima, afirma que o encarecimento da matéria-prima não tem uma justificativa no mercado e ocorre em momento de aumento de custos nas fábricas com reajustes salariais que devem chegar a 7,5%. “Esse aumento do MDF foi agora na virada do mês de julho para agosto. Um reajuste a depender da peça chegou a 25% e sinceramente não vimos uma causa. Acredito que é fruto de uma especulação de mercado”, analisa. 

Lima salienta que o setor espera um resultado contrário, tendo em vista que as fábricas de MDF têm uma corrente intensa de comércio com outros países, dentre eles os Estados Unidos. O país, inclusive, é o principal destino das exportações brasileiras de madeira e produtos derivados. No ano passado, de acordo com balanço da Câmara Americana de Comércio (Amcham), o Brasil exportou US$ 3,7 bilhões no setor, sendo 43,3% (US$ 1,6 bilhão) direcionados ao mercado americano. 

Além disso, os EUA também foram o principal comprador de móveis brasileiros, respondendo por 32,9% das exportações desse segmento. Era para acontecer o contrário, de termos um produto mais barato. Porque as fábricas produzem muito para o mercado externo e, com essa tarifa, a gente pode ter material sobrando aqui no Brasil. Foi um reajuste que assustou, porque as fábricas dependem das chapas, e nós precisamos comprar esse material”, complementa. 

Maurício Lima diz que as empresas estão em negociações de acordos coletivos e haverá dificuldades para absorver os custos adicionais de matéria-prima e mão de obra. Apesar da falta de mão de obra, e nós inclusive estamos precisando de mão de obra, esse aumento de custo de matéria-prima, com certeza, fará com que empresas não consigam absorver”, atesta. Há risco também, segundo Maurício Lima, de encarecimento dos produtos e redução nas vendas. 

O custo vai alterar, e quem paga essa conta, no final, é sempre o cliente, porque vai impactar o preço dos produtos. E isso pode diminuir as vendas no segundo semestre, que, historicamente, é um período de alta”, acrescenta ele, que também tem receios de que o problema se estenda ao primeiro semestre de 2026. “Estamos falando de um setor quase que só de micro e pequenas empresas”, acrescenta. 

Indústria nacional 

Se em Minas o impacto é indireto, a nível nacional a indústria de madeira processada é afetada diretamente e já tem trabalhadores em férias coletivas e registra demissões devido ao tarifaço prometido pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a partir de agosto. Exportações para o mercado americano foram paralisadas antes mesmo de o plano de Trump entrar em vigor, levando a um temor de colapso do setor, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente (Abimci).

"Por precaução, muitos clientes postergaram embarques ou cancelaram contratos até que se esclareça o imbróglio da taxação", afirma Paulo Roberto Pupo, superintendente da Abimci. Segundo ele, uma sobretaxa de 50% para as exportações brasileiras, como sinalizado inicialmente por Trump, deixaria o setor de madeira "fora de jogo" junto aos americanos.

"Isso fez com que nossas empresas acabassem tomando medidas internas de diminuição de produção, de corte de turnos. Muitas estão com férias coletivas em curso, e, infelizmente, já foi anunciado um pequeno número de demissões", diz. O mercado americano é considerado estratégico para o setor. Conforme a Abimci, a indústria de madeira tem cerca de 180 mil empregos diretos no Brasil e uma média de 50% da produção destinada aos Estados Unidos. Há casos em que o percentual chega a 100%, de acordo com a associação.

O Brasil vende para os americanos madeiras usadas principalmente na construção de casas. A produção no país se concentra especialmente no Sul, com cerca de 90% da capacidade instalada nessa região. Por ora, pelo menos uma indústria confirmou cortes devido à insegurança gerada pela promessa de tarifaço. Trata-se da Sudati, que produz compensados de madeira e MDF no Paraná e em Santa Catarina.