Que Minas Gerais é a terra do café, do queijo e da cachaça todo mundo já sabe. O que talvez nem todo mundo saiba é que o estado também se destaca na produção de peixes ornamentais. A Zona da Mata concentra cerca de 70% da produção nacional, gerando renda para mais de 400 famílias e movimentando mais de R$ 10 milhões ao ano. As informações são do Governo de Minas. 

Esse “grosso” da produção nacional se concentra especificamente em oito municípios da região: Patrocínio do Muriaé, Vieiras, Eugenópolis, Miradouro, Barão do Monte Alto, Muriaé, Rosário da Limeira e São Francisco do Glória.

O último estudo sobre o setor, de 2021, desenvolvido pelo Instituto Federal Sudeste de Minas Gerais, campus Muriaé, identificou que o maior número de produtores está concentrado na cidade de Patrocínio do Muriaé, seguido de Vieiras e São Francisco do Glória. Além disso, 85% dos produtores entrevistados têm de 30 a 49 anos e 68% da mão de obra empregada na produção da região é composta pelos próprios familiares.

É o caso da produtora rural Márcia Gomes do Nascimento, de 29 anos, cuja família descobriu os peixes ornamentais quando se mudou de Divino, também na Zona da Mata, onde a produção de café é destaque, para Patrocínio do Muriaé. Ao chegar ao novo destino, a família sentiu a necessidade de produzir mais renda. Seguindo os passos de sua vizinha, a mãe de Márcia decidiu iniciar sua própria produção.

A atividade começou de forma modesta, quando Márcia tinha apenas nove anos. Ela e a mãe construíram um poço de bambu e, juntas, conseguiram produzir seus primeiros peixes. “Já na primeira produção, as vendas nos deixaram animadas. Compramos uma lona para construir mais poços e produzir mais. Depois, nosso pai também entrou no negócio e a produção só cresceu”, conta. 

O estudo do Instituto Federal Sudeste de Minas Gerais também mostra que a Zona da Mata produziu quase 8 milhões de peixes em 2021, sendo a maior parte vendida em Minas Gerais, seguido de Bahia, Goiás, Mato Grosso, Rio de Janeiro e São Paulo.

De acordo com o Governo de Minas, a facilidade de manejo e o aspecto da agricultura familiar são fatores que colaboram para o crescimento da atividade na região. Para se ter uma ideia, com 1.000 m² já é possível ter uma boa produção dos peixes, um espaço ínfimo se comparado à produção de uma lavoura de café, por exemplo. 

“O manejo dessa cultura também requer menos esforço do que a manutenção de um plantel de bovinos de leite. Porém, o maior atrativo para os produtores de peixes ornamentais é de fato o baixo investimento para um alto retorno financeiro”, afirma o governo. 

Legislação própria

O estudo do Instituto Federal Sudeste de Minas Gerais também apontou que a produção de peixes ornamentais no estado tem potencial de crescimento. Porém, a atividade ainda é carente de assistência técnica especializada e faltam políticas públicas voltadas para o setor.

Para resolver isso, o Governo de Minas afirma que o poder público tem se mobilizado para instituir uma legislação própria para a cadeia produtiva dos peixes ornamentais - que hoje precisa seguir as normas da produção dos peixes de corte. 

A iniciativa é um esforço conjunto da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) e da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), órgãos vinculados à Seapa.

Em 2024, foi publicada a Portaria  do IMA, nº 2.325, que regulamenta a atividade de piscicultura ornamental no estado, estabelecendo critérios técnicos e legais para sua prática. De acordo com Rogério Fernandes, gerente de certificação do IMA, a certificação de peixes ornamentais tem como foco aprimorar a gestão, aumentar a sustentabilidade e fortalecer a competitividade da cadeia produtiva em Minas Gerais. 

“Ao cumprir os requisitos estabelecidos, os produtores passarão a ter ganhos concretos em rastreabilidade, boas práticas de produção e eficiência produtiva. Isso permite não só agregar valor aos produtos e acessar novos mercados, como também se beneficiar de políticas públicas, como a redução de 0,5% nas taxas de juros do Plano Safra. É mais segurança para o consumidor e mais reconhecimento para o produtor”, afirma.