Nem sempre a ajuda para melhorar as condições de moradia de famílias carentes depende de recursos financeiros. Ela pode vir com a doação do tempo e da experiência de quem tem algo a ensinar.

Em 2013, enquanto produzia sua dissertação de mestrado na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a arquiteta Carina Guedes, desenvolveu um método para que o serviço de arquitetura alcançasse classes mais baixas, capacitando mulheres para planejar construção e reformas com mais segurança e menos desperdício. Assim nasceu o Arquitetura na Periferia, que há dois anos foi formalizado juridicamente por meio do Instituto de Assessoria a Mulheres e Inovação (Iami) e, até agora, já capacitou 61 mulheres.

Embora tenha surgido com o foco de fomentar a autonomia das mulheres, oferecendo base teórica e instrumentos técnicos para que elas consigam elaborar seus projetos de construção, o Arquitetura na Periferia também vem promovendo ações de emergência para ajudar comunidades que vivem em áreas de risco que foram afetadas pelas fortes chuvas na região metropolitana de Belo Horizonte e onde o programa já tem alguma atuação, como a ocupação Paulo Freire, no Barreiro.

“Nossas equipes de arquitetura, engenharia e obras estão fazendo visitas técnicas nas casas mais atingidas, que estão com demandas emergenciais. Nesse momento, estamos investigando soluções paliativas no sentido de redirecionar o fluxo das águas como canaletas e calhas, para melhorar a situação até que as chuvas cessem e seja possível implementar medidas mais efetivas para que essas dificuldades não aconteçam novamente”, explica Mariana Borel, uma das arquitetas da equipe.

Todas as soluções indicadas serão instaladas pelas próprias mulheres da ocupação. A moradora Chay Miguel, 31, que já foi aprendiz do Arquitetura na Periferia e hoje é uma agente do projeto, dando inclusive oficinas de assentamento de piso, só está esperando um “solzinho” para fazer as intervenções necessárias na sua casa. “Com as chuvas, o solo fica muito encharcado e um dos maiores problemas é o acúmulo de água. Eu vou fazer uma mureta de contenção e colocar um cano para escoar”, conta Chay.

Segundo a arquiteta Mariana, é preciso contextualizar que esses são locais onde o poder público normalmente se omite. “Os terrenos ocupados em Belo Horizonte muitas vezes são de difícil implantação, muito íngremes e não possuem infraestrutura urbana, como drenagem. Com as chuvas, as ruas sofrem com erosões e falta do devido escoamento das águas. Outra questão é que, por falta de condições financeiras, muitas vezes as famílias não conseguem executar as contenções no terreno, como os muros de arrimo, que podem ser caros. Com isso, algumas encostas cedem e até às estruturas das casas podem ficar comprometidas”, explica Mariana.

Segundo ela, o projeto não supre a falta de política pública, mas ajuda a disseminar o conhecimento sobre os direitos e as melhores formas de acessá-los. 

Quem quiser colaborar com o projeto Arquitetura na Periferia  pode contribuir por meio da plataforma de financiamento coletivo Catarse.