Financiamento habitacional

Caixa espera espera 150 mil contratos com nova modalidade de crédito

Mercado espera que alteração na política de juros atraia mais investidores e amplie recursos para empréstimos. Indexar pela inflação garante melhor retorno para o mercado financeiro

Por Queila Ariadne
Publicado em 21 de agosto de 2019 | 02:55
 
 
 
normal

A Caixa Econômica Federal estima que a nova modalidade anunciada ontem possa trazer 150 mil novos contratos. “O presidente da Caixa anunciou que tem R$ 100 bilhões em créditos e, desse total, R$ 10 bilhões serão disponibilizados para esse novo programa. Entretanto, ele mesmo já disse que há apetite para R$ 30 bilhões”, destaca o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), José Carlos Martins.

Segundo o executivo, todos os eixos da cadeia imobiliária vão sair ganhando com a medida, que vai trazer uma espécie de retroalimentação dos recursos. “A TR não tem credibilidade porque ninguém sabe como ela é calculada, então, quando um banco financiava uma pessoa, a instituição não conseguia vender esses créditos. Agora, com o IPCA, você começa a poder rodar esses papéis e reciclar os recursos, que ficam meio infinitos, pois vão gerar interesse de investidores que, agora, saberão que o dinheiro vai voltar com juros”, avalia Martins.

Cálculos conservadores indicam que, com a emissão de títulos, no chamado processo de securitização, a Caixa poderia dobrar sua carteira de crédito habitacional, passando dos atuais R$ 449 bilhões, no primeiro trimestre deste ano, para quase R$ 1 trilhão.

Nos Estados Unidos, o mercado de securitização imobiliária causou uma das mais graves crises financeiras mundiais. Em 2008, grandes bancos foram à lona por terem adquirido títulos podres de hipotecas americanas. Segundo o professor de economia do Ibmec, William Baghdassarian, as chances de o Brasil passar por quebradeira semelhante é bem improvável. “Temos que lembrar que foi diferente dos Estados Unidos. Eles eram bastante flexíveis e o que aconteceu foi que muita gente de baixa renda recebeu empréstimos para comprar imóveis e, quando veio a crise, não conseguiram pagar. Mas o Brasil tem critérios rigorosos para liberar financiamentos”, afirma.

O presidente da Caixa, Pedro Guimarães, mencionou que a medida vai levar a uma expansão da participação do crédito imobiliário na economia e lembrou que, enquanto nos Estados Unidos e na Europa, a proporção é de 50%, no Brasil fica abaixo de 10%.

“Eu vejo essa mudança do indexador de forma muito positiva, pois vai diversificar tanto para os tomadores como para os investidores , com novas alternativas”, comenta Baghdassarian. (Com agências)

 

Grandes bancos ainda analisam

Os grandes bancos brasileiros querem ver como será a aceitação e o funcionamento do crédito imobiliário corrigido pela inflação antes de oferecer o produto a seus clientes. Procurados, Banco do Brasil, Bradesco, Itaú e Santander dizem que avaliam a possibilidade de operar pela nova linha. A Caixa Econômica Federal deve cobrar juro de 2,95% a 4,95% ao ano mais a inflação. A taxa ainda seria menor que os 7,99% atualmente cobrados por Banco do Brasil e Santander, que oferecem as mais baixas para financiamentos com recursos da poupança.

Como a Caixa tem mais de 60% do mercado de financiamento imobiliário, a tendência é que uma redução no custo do crédito pelo banco público seja seguida pelas demais instituições financeiras. Por enquanto, porém, os demais bancos negam planos de novos cortes nos juros.

Como há menor risco de calote nessa linha na comparação com as demais, os bancos têm expandido concessões de crédito para a compra da casa própria durante a crise. O movimento segue a trajetória de queda da taxa Selic, atualmente em 6% ao ano. Isso torna o custo do dinheiro menor e permite que as taxas de juros caiam onde há competição.

O diretor executivo e de relações com investidores do Bradesco, Leandro Miranda, disse que o banco não teria problema de oferecer crédito imobiliário com taxas baseadas no IPCA. O problema, na visão dele, é se o mutuário gostaria de assumir o risco inflacionário por um período tão longo.

O presidente Jair Bolsonaro afirmou na terça-feria, dia 20, que os bancos terão de seguir o exemplo da Caixa. “Com certeza, outros bancos vão ter de ir no mesmo caminho”, disse. “Não vai ser uma imposição. Ou eles vão atrás, ou o número de clientes da Caixa vai aumentar, e muito”, acrescentou.

 

 

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!