Tecnologia

Carro deixa de ser o sonho de consumo dos jovens no Brasil

55% dos brasileiros que usam serviços de compartilhamento questionam se precisam do bem

Por Ludmila Pizarro
Publicado em 14 de agosto de 2017 | 03:00
 
 
 
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Antes ícone da passagem da infância para a vida adulta, a aquisição do carro próprio está perdendo relevância no país. No Brasil, 55% das pessoas que utilizam serviços de carro compartilhado, como Uber, Cabify, Zazcar e Pegcar, questionam a necessidade de ter um veículo próprio. E, entre os representantes das gerações Y (nascidos a partir dos anos 1980) e Z (entre 1990 e 2010), esse número é ainda maior: 62%. Os dados são de uma pesquisa realizada pela Deloitte, em 2016, em 17 países. Nos Estados Unidos, esse índice sobe para 64%.

“Nossos filhos não terão carros. E nem se interessarão em tirar carteira de motorista”, afirma o professor de ciência política do Ibmec Adriano Gianturco. Para ele, a base do sucesso do modelo compartilhado está na economia convencional. “O modelo aumenta a produtividade de um recurso, no caso o carro particular, e diminui o custo. Isso é novidade em termos de estilo de vida e de negócios. Mas, economicamente falando, não é nada novo”, diz. Gianturco admite não ter mais carro. “Prefiro usar Uber e Cabify. Quando preciso de um veículo por mais tempo, alugo um”, explica o professor.

O agrônomo Luiz Bambini, 32, mora na capital paulista e abriu mão do carro em 2014, depois de nove anos dirigindo. “Vendi meu carro e passei a usar mais Uber e táxi. Para viagens longas, alugo um carro”, afirma. Bambini conta que também utiliza aplicativos de aluguel de carro, como o Zazcar, dentro da metrópole.

Em São Paulo, o aplicativo Urbano permite o aluguel de carros elétricos, com zero emissão de poluentes, que também são uma tendência, segundo a pesquisa da Deloitte. Ela aponta que, na China, 53% dos entrevistados das gerações Y e Z têm interesse em automóveis com fontes alternativas. Nos EUA, esse índice é de 26%.

Os investimentos da hidrelétrica de Itaipu em mobilidade elétrica – eles já fabricaram de carro a avião elétricos – também passam pelo compartilhamento. A empresa mantém 11 unidades do quadriciclo elétrico Twizy, que são compartilhadas pelos funcionários para realizar tarefas como inspeções internas e manutenção. O compartilhamento é feito por um aplicativo interno. “Essas tendências vão levar à diminuição da frota de carros no mundo”, aposta o coordenador do programa Veículo Elétrico (VE) de Itaipu, Celso Novais.

Tendências como o carro elétrico e o compartilhamento “já estão inseridas no espírito da sociedade e vão mudar a indústria”, diz o coordenador do MBA para empresas da cadeia automotiva da FGV-Rio, Antônio Jorge Martins.

Superou. Os modelos elétricos da BMW venderam mais (41.875 unidades) do que os esportivos a combustão (38.098) no primeiro semestre de 2017, segundo a empresa alemã.

Compartilhamento gera renda

A renda extra tem sido o principal incentivo para a popularização do site Pegcar, que permite o aluguel de carros entre pessoas físicas. A opinião é do cofundador da startup, que desenvolveu a plataforma web, Conrado Ramires. “O principal incentivo das pessoas que nos procuram é a renda extra que entra no orçamento familiar sem fazer muito esforço”, conta.

Ramires afirma, ainda, que, do outro lado, o aluguel direto também gera economia. “Comparando com serviços convencionais de aluguel, o compartilhamento fica até 30% mais barato”, afirma o empresário.

“A questão de sustentabilidade conta, mas as pessoas optam pelo compartilhamento porque é mais barato. Quem faz a conta conclui isso”, explica o professor de ciência política do Ibmec Adriano Gianturco.

Para o coordenador do programa Veículo Elétrico (VE) de Itaipu, Celso Novais, o compartilhamento vai diminuir o interesse das pessoas pelo carro. “O uso compartilhado vai baratear o veículo até ele ser visto como um recurso, como um serviço de transporte”, diz.

As empresas que apostam no compartilhamento também ganham. Ramires conta que a Pegcar, que atua em São Paulo, Curitiba e Belo Horizonte, deve triplicar neste ano o faturamento de 2016.


Mais mobilidade

A tecnologia não está mudando apenas os veículos. Alguns estudos prometem melhorar o trânsito nas cidades nos próximos anos.

Leitura de placas. O reconhecimento de placas permite identificar veículos que não atendam exigências de trânsito, não inspecionados e que possam quebrar ou poluir.

Semáforos. Câmeras inteligentes podem ir além da segurança e atuar como sensores que detectam a presença de veículos e controlam o semáforo de acordo com o volume de carros.

Estudos de tráfego. Uso de sensores e câmeras pode ajudar a definir fluxo e tipo de veículos e horários de retenção.

Monitoramento remoto. Softwares de reconhecimento podem auxiliar no cumprimento de regras, como uso de cinto de segurança, respeito a vagas para idosos e estacionamento irregular. 

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