Após mais de cinco meses de portas fechadas, os restaurantes de Belo Horizonte enfrentam, na reabertura, a redução das vendas e, agora, o aumento dos custos das mercadorias. Com o valor do arroz e do óleo em disparada e o da carne e do feijão nas alturas, está difícil para os estabelecimentos manterem os preços cobrados ao consumidor final. Ao mesmo tempo, existe o receio de que cobrar mais caro afaste ainda mais os clientes.

No Restaurante Mineirinho, que vende o tradicional PF há mais de 20 anos no mesmo ponto, na rua Espírito Santo, no centro da capital, não deu mais para segurar: os preços dos pratos tiveram um aumento de R$ 0,50 nesta semana e passaram para R$ 12 e R$ 14,50. Antes da pandemia, a casa atendia até 700 clientes por dia. Hoje, são cerca de 300.

"Estamos vendendo de 50% a 55% do que vendíamos antes, e o aumento do arroz e do óleo foi absurdo. Tivemos que aumentar, mas não vai cobrir a perda, para acompanhar teriam que ser R$ 2 de alta. O pessoal entende, mas ainda reclama", conta o proprietário José Alves. Segundo ele, o estabelecimento gasta, atualmente, em torno de 600 kg de arroz por mês e mais de 30 caixas de óleo.

Alves já teve de demitir cinco de 31 funcionários, mas teme que o pior ainda esteja por vir. "Hoje o pessoal ainda está recebendo o auxílio emergencial, tem o fundo de garantia, tem dinheiro no mercado ainda, mas creio que, quando isso acabar, vamos sentir a queda da pandemia mesmo. Se o governo não ajudar, vai ficar difícil", diz.

No Café Palhares, no centro da cidade, o arroz é a base do famoso kaol. O estabelecimento ficou 75 dias fechado, depois, começou a funcionar só com delivery e, agora, atende presencialmente, com espaço reduzido em 50%. O movimento está cerca de 60% do que era antes da pandemia e, mesmo com todos os aumentos de custos, a casa vai tentar manter o preço do prato, que sai por R$ 20,80.

"Está difícil, porque as coisas não aumentaram 10% ou 20%, algumas aumentaram até 100%. O que está pesando mais é o arroz e o óleo. A carne já vinha aumentando o ano inteiro e está chegando a um preço alto, e nossa embalagem de delivery subiu 40%", afirma o responsável pelo local, André Palhares. "Não tem jeito de diminuir o arroz no prato, são 82 anos de tradição, a gente prefere perder um pouco do que mexer na qualidade. Estamos esperando manter o preço, até porque está todo mundo em crise, as pessoas tiveram redução salarial. Vamos manter até onde der".

No Xok Xok, que funciona no Maletta, o preço também não mudou: o PF sai por R$ 15 há cerca de dois anos. Após a reabertura, as vendas estão em torno de 40% menores, e os clientes, que antes eram 150 clientes por dia, hoje são cerca de 70.

Setembrino Pereira, que comanda o estabelecimento há 36 anos, diz que nunca passou por dificuldades como agora. Ele conta que tentou empréstimos, sem sucesso, e teve que investir uma reserva financeira para salvar a casa. "Vamos ver se vamos conseguir aguentar manter o preço ou não. Estou dando um tempo para ver se o movimento melhora. Se aumentar agora, pode ser pior".

Dificuldades podem levar a fechamento de mais restaurantes

O aumento do valor cobrado pelos restaurantes pode se tornar inevitável se as despesas continuarem a crescer, na avaliação do coordenador do Mercado Mineiro, Feliciano Abreu. Uma pesquisa realizada pelo site em 85 restaurantes da capital no final de agosto já apontava alta: em relação a fevereiro, o preço médio do prato feito tinha subido de R$ 17,09 para R$ 19,88, um crescimento de 16%.

"A partir do momento em que há disparada da carne, que é o grande problema, e do arroz, que prejudica ainda mais, é muito difícil os restaurantes não aumentarem com um certo tempo. Neste primeiro momento, eles podem até segurar, porque estão vendo como vai ser a reação da população, mas chega um ponto em que começam a ver que estão tomando só prejuízo", afirma.

O problema, segundo Abreu, é que os preços altos podem espantar os consumidores, que passam a comprar em outros locais ou levar comida de casa para o trabalho. "Fica aquela coisa: se aumentar para o consumidor, ele não compra. Se colocar na ponta do lápis, vê que o negócio é inviável", pontua.

Na avaliação do presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes em Minas Gerais (Abrasel), Ricardo Rodrigues, as restrições de horário e funcionamento, criadas como forma de prevenção ao coronavírus, também têm causado prejuízos.

"Essa volta traz redução do horário de funcionamento, mas não traz redução das despesas fixas. As pessoas que tinham desconto no aluguel perdem isso e, junto, vem o aumento de preços. É um desafio para bares e restaurantes sobreviverem, não ao período de fechamento, porque quem sobreviveu até aqui está de pé. Agora o problema é sobreviver à reabertura, principalmente com a alta de preços dos produtos que são básicos", conclui.