Frigoríficos brasileiros que exportam carnes bovinas para os Estados Unidos estão paralisando a produção com o risco da sobretaxa de 50% anunciada por Donald Trump. A tarifa entra em vigor em 1º de agosto, caso não haja sucesso nas negociações encabeçadas pelo vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, em comitê com participação de entidades do setor produtivo.
Na tarde desta terça-feira (15/07), após reunião do grupo em Brasília, Roberto Perosa, presidente da Associação Brasileira de Carne Bovina (Abiec), expressou a preocupação do setor, que já enfrentava uma taxa de 36%. “Já tínhamos uma alta taxa e esses 50% adicionais seriam praticamente inviáveis para exportação”, disse Perosa. Segundo ele, a paralisação de frigoríficos que produzem carne destinada aos Estados Unidos está diretamente ligada à incerteza sobre o fluxo comercial entre os dois países.
Atualmente, os EUA são o segundo maior comprador de carne bovina do Brasil. A indústria norte-americana responde por 17,6% das exportações brasileiras, ficando atrás apenas da China, que concentra 39,24% do volume direcionado a outros países. Perosa também destacou o impacto financeiro imediato: 'Temos 30 mil toneladas produzidas, no porto ou nas águas, e é uma preocupação de como isso se dará a partir do dia primeiro. É um volume de US$ 150 milhões a US$ 160 milhões que estão produzidos e a caminho dos EUA. É uma preocupação adicional ao produtor de uma cadeia que gera 7 milhões de empregos no Brasil'.
O presidente da Abiec ainda ressaltou que a entidade está em negociação direta com as empresas importadoras dos EUA, buscando barrar a tarifa de 50% anunciada por Trump. “A nossa sugestão de imediato é a prorrogação do início dessa taxação, pois existem contratos em andamento e não há tempo hábil, até o dia primeiro, para desfazer contratos e demais trâmites”, reforçou.
Roberto Perosa ressaltou que o mercado brasileiro complementa a produção americana. “O produto americano está hoje no menor ciclo pecuário dos últimos 80 anos. E o Brasil exporta praticamente tudo o que é utilizado na indústria americana para fazer hambúrguer, ou seja, são cortes do dianteiro do boi, carnes não tão consumidas no Brasil, mas que tem importância econômica nos Estados Unidos”, finalizou.
Exportação de frutas ameaçada
Durante a coletiva, Guilherme Coelho, presidente da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas), alertou para a situação do setor de frutas, que tem uma carga de 2.500 contêineres de manga pronta para ser enviada aos Estados Unidos. O volume diz respeito à produção em 2.500 hectares. “São dois meses e meio onde o Vale do São Francisco (no Nordeste), que produz 90% de toda a manga do Brasil, está em pânico. Não sabemos o que fazer”, relatou.
“Essa safra foi planejada há seis meses, como todo ano fazemos. Já temos reservas nos navios, tudo organizado, quem vai receber”, disse o presidente da Abrafrutas. Coelho também mencionou a dificuldade do setor, responsável por 5 milhões de empregos no Brasil, em escoar a produção para outros mercados. “Não podemos pegar essa manga e jogar na Europa, o preço vai desabar e não tem logística para isso. Não podemos colocar essa manga no Brasil porque vai colapsar o mercado”, completou ao citar a urgência de avanço nas negociações entre os países.
Também participaram da coletiva com Alckmin representantes da CitrusBR, do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) e da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic).