A mobilidade vem se tornando cada vez mais compartilhada: as caronas para ir ao trabalho, à faculdade e a passeios já são a modalidade de consumo colaborativo mais utilizada pelos brasileiros, segundo pesquisa da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil).
Aplicativos de compartilhamento de carros, patinetes e bicicletas já se consagraram.
A Moobie, plataforma de aluguel de automóveis de pessoa para pessoa, chegou a Belo Horizonte no fim do ano passado. Quem tem um veículo parado na garagem consegue obter renda extra de R$ 500 a R$ 1.000 por mês, às vezes mais, dependendo da frequência da locação.
Já quem precisa de carro pode alugar por pouco mais de R$ 70 por dia, na região Centro-Sul. O pagamento é por meio do aplicativo, que fica com 20% do valor.
“Os carros, em geral, ficam parados 90% do tempo. A gente não coloca mais veículo nas ruas e faz uso racional dos que já estão aí”, diz a fundadora, Tamy Lin. No primeiro semestre, a empresa cresceu mais de 400%.
A psicóloga Renata Caldas Ribeiro, 32, passou a oferecer o carro no aplicativo em janeiro e tem embolsado cerca de R$ 500 por mês. “No fim de semana, o carro ficava parado, e decidi testar. O dinheiro me ajuda a manter o veículo, a pagar uma conta, sempre dá uma forcinha. Nós estamos entrando nessa nova era de compartilhamento”, diz.
A Grow, formada pela fusão de Grin e Yellow, começou a operar na capital em janeiro e, em julho, o número de corridas de bicicletas já tinha quase dobrado, enquanto o volume de corridas de patinetes cresceu dez vezes.
“O jovem hoje não tem mais o sonho de ter carro, ele quer ter acesso a algum tipo de locomoção”, afirma o professor do programa de pós-graduação em administração da PUC Minas Marcelo de Rezende Pinto.
Segundo Rezende, a experiência em si é outro atrativo do consumo colaborativo. “As pessoas trocam vivências e têm contato com outras formas de pensar”, afirma.
Os desafios, porém, ainda são muitos. A mineira Target Share precisou recolher os cinco veículos que colocou nas ruas da capital por oscilações na tecnologia.
Funcionava assim: após ter o cadastro aprovado no aplicativo, o usuário podia pegar o carro em algum posto e, depois, devolvê-lo no mesmo ou em outro estabelecimento. Hoje, a plataforma está paralisada.
“A sociedade está procurando novas formas para otimizar a utilização de recursos. O principal entrave está na mudança cultural dos nossos representantes políticos, que estão bastante acostumados com as formas tradicionais e têm medo do novo”, diz o diretor Lucas Pitta.
Seis em cada dez já compraram usados
Seis em cada dez consumidores compraram algum produto usado nos últimos 12 meses, segundo a pesquisa. Entre os que adquiriram algo de segunda mão, 96% ficaram satisfeitos.
“Em um período em que muitos enfrentam dificuldades financeiras, essa pode ser uma saída para quem deseja fazer compras a preços acessíveis ou vender objetos que só ocupam espaço em casa”, diz o educador financeiro do SPC Brasil José Vignoli.
Conforme o levantamento, os itens usados mais comprados são livros, com 51% das respostas. Em seguida, vêm móveis, automóveis e celulares. A maioria das pessoas (79%) costuma analisar a possibilidade de comprar um item usado em bom estado antes de adquirir um novo, e a internet é o meio que mais impulsiona esse tipo de transação.
O professor de filosofia Bruno Neppo, de Belo Horizonte, compra livros usados com frequência, principalmente pela internet, mas também em sebos. “Gosto por causa do melhor preço, do contato com um objeto que já fez parte da história de outras pessoas e da contribuição ambiental”, conta.
Consumidor ainda teme ser enganado
A falta de confiança entre as pessoas e o medo de ser passado para trás são as principais barreiras para a adoção de práticas diferenciadas de consumo, segundo 45% dos entrevistados da pesquisa da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil).
Mas, para o educador financeiro do SPC Brasil José Vignoli, esses obstáculos tendem a ficar menores.
“Normalmente, as pessoas têm resistência à novidade. Foi assim com Uber e Airbnb, por exemplo, e hoje se fala deles na maior naturalidade. Os sistemas vão melhorando, sendo aperfeiçoados, e isso faz com que mais pessoas usem. Quando a gente menos percebe, já está adotando”, diz Vignoli.
Vignoli acredita que o consumo colaborativo é uma tendência que só deve crescer devido à conscientização sobre sustentabilidade e à economia. “Vamos ver daqui para a frente uma grande revolução nesse assunto. Vamos ter cada vez mais serviços compartilhados”, afirma ele.
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