Atentas a tendências como a construção de imóveis menores no centro das cidades e a propensão a mais mudanças de casa ao longo da vida, construtoras começam a apostar em projetos feitos apenas para o aluguel.

A Vitacon, especializada em apartamentos pequenos perto de regiões comerciais e da infraestrutura de transportes, tem como meta não vender mais imóveis a partir de 2020, disse à reportagem seu fundador, Alexandre Frankel. “Acreditamos que comprar apartamento está perdendo sentido. Não há mais motivo para fazer um financiamento e ficar 30 anos preso a ele”, defende.

Para trabalhar no novo modelo, a companhia criou um braço digital, a Housi, que gerencia o aluguel dos imóveis da empresa e de terceiros cadastrados em sua plataforma. Além da locação, que pode ser de um dia ou de anos, a startup também gerencia itens como pagamento de IPTU, limpeza, internet e TV paga. A diária custa em média R$ 100, diz a empresa.

Segundo Frankel, são oferecidos 5.000 apartamentos pela plataforma da startup, metade produzida pela Vitacon e metade por terceiros. A Housi faz aluguéis em São Paulo, mas espera fechar o ano atendendo a sete capitais.

Na MRV, maior construtora do país e atuante no segmento popular atendido pelo Minha Casa, Minha Vida, o aluguel é feito pela plataforma Luggo, criada neste ano pela empresa. Rodrigo Resende, diretor de novos negócios da MRV, afirma que o público-alvo é formado por uma geração jovem de classe média que tende a se casar mais tarde do que os pais, ainda não tem dinheiro para comprar imóvel e está disposta a se mudar conforme troca de emprego. “É um grupo que, pelo custo do imóvel, não pode comprar em locais muito bem localizados, então precisa alugar”, afirma

O primeiro empreendimento foi inaugurado neste ano em Belo Horizonte, no bairro Betânia, na região Oeste da cidade. A MRV também já possui obras com a mesma finalidade em Campinas e Curitiba e planeja levar o modelo a dez cidades. Em São Paulo, as obras devem ficar no centro expandido. O Plano Diretor de São Paulo tem entre seus objetivos construir uma cidade mais compacta, com emprego e trabalho mais próximo, com apartamentos menores e uso mais racional de automóveis.

Facilidades

Os apartamentos da MRV darão acesso a um aplicativo no qual o inquilino poderá contratar serviços como vaga de garagem, limpeza ou pacote de internet. Eles poderão ser locados por prazo mínimo de 12 meses.

“Não queremos competir com hotel, com Airbnb. Queremos mudar a experiência de locação, competir com o aluguel avulso”, diz Resende. Segundo ele, o modelo interessou à companhia pelo fato de o aluguel ter perspectiva de crescer mais rapidamente do que a venda de imóveis.

Jovens priorizam áreas centrais

Para especialistas, a nova estratégia das empresas é resultado de mudanças de comportamento e de uma busca das cidades por aumentar a concentração de moradias em suas áreas centrais. “Há uma tendência dos jovens de preferir espaços privados menores e mais bem localizados, que permitam fazer menos deslocamentos e usar o transporte coletivo”, diz Nabil Bonduki, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP.

Nem só o apelo para os jovens é o que move as empresas que constroem apartamentos para alugar. Mirando o mercado corporativo, a JFL Living oferece aluguéis em São Paulo a partir de R$ 7.000, em unidades que vão de 40 m² a 150 m² em área nobre da cidade. “Nosso cliente é alguém que está em transição. Precisa de moradia por período mais prolongado, mas não está no momento de comprar apartamento”, diz Guilherme Vilazante, sócio da empresa.

Proprietários

Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, do IBGE, o Brasil tem 71 milhões de unidades habitacionais: 72,6% são usadas pelos proprietários e 18,1% têm inquilinos.