2016

Consumidor sente uma inflação mais forte do que o índice oficial

IPCA fica em 6,29%, menor que previsões; mas educação, transporte e alimentos pesaram no bolso

Por Juliana Gontijo
Publicado em 12 de janeiro de 2017 | 03:00
 
 
 
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A inflação oficial do país, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), em 2016 teve variação de 6,29%, percentual inferior ao verificado em 2015 (10,67%), abaixo do teto da meta do governo (6,5%) e menor que previsões do governo (6,4%). Entretanto, nas ruas, a sensação do brasileiro é que a taxa é superior à que foi calculada pelo IBGE. E um dos motivos para isso foram as dificuldades trazidas pela crise que eliminou mais postos de trabalho no ano passado, reduzindo a renda das famílias e criando uma sensação de empobrecimento diante das altas dos preços.

Para a orientadora social Kelly Vieira Tostes, cada pessoa sente a inflação de uma forma, dependendo do quanto ganha e do tipo de produto que consome. “Por causa da crise, com o desemprego alto, a sensação é que a inflação de 2016 foi mais intensa. No meu caso, percebi uma alta grande do leite e derivados”, diz.

O universo do IPCA é o das famílias com rendimento de 1 a 40 salários mínimos, qualquer que seja a fonte, e abrange dez regiões metropolitanas do país, além dos municípios de Goiânia, Campo Grande e de Brasília. E no caso da região metropolitana de Belo Horizonte, o acumulado de 2016, que chegou a 6,60%, ficou acima da média nacional.

A auxiliar de serviços gerais Maria Lúcia Oliveira Santos diz que, entre os artigos de alimentação, sentiu mais a alta do leite em pó. No acumulado de 2016, o produto teve alta de 26,13%. “Para continuar comprando, troquei a marca, já que a opção era mais barata. Lembro que o litro do leite longa vida chegou a custar quase R$ 4. O salário não acompanha o aumento dos preços”, diz.

Em julho do ano passado, o principal vilão da inflação de fato foi o leite, com contribuição individual de 0,19 ponto percentual no IPCA daquele mês. Os preços do leite aumentaram 17,58% de um mês para o outro. Num ano em que a produção agrícola ficou 12% abaixo da produzida em 2015, o consumidor passou a pagar, em média, 8,62% mais caro do que em 2015 para adquirir alimentos. Isto colocou o grupo alimentação e bebidas (que tem peso de 25% nas despesas das famílias) na liderança dos impactos em 2016.

Entre os alimentos consumidos em casa, tiveram aumentos significativos o feijão (56,56%) e o arroz (16,16%), que compõem o prato típico do brasileiro. Além do leite, Maria Lúcia conta que o ônibus pesou mais no orçamento. E o levantamento do IBGE confirma a observação feita pela auxiliar de serviços gerais. No grupo dos transportes, com alta de 4,22% – que detêm 18% do IPCA, peso superado apenas pelos alimentos –, destacou- se a alta de 7,78% do transporte público.

Aposentados

Reajuste. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), usado como referência para o reajuste dos benefícios previdenciários, acumulou alta de 6,58% em 2016, segundo divulgou nessa quarta-feira (11) o IBGE.


Onde estourou

A inflação ultrapassou o teto estipulado pelo governo em sete das 13 regiões metropolitanas que integram o indicador:

Fortaleza: 8,34%
Campo Grande: 7,52%
Recife: 7,10%
Porto Alegre: 6,95%
Belém: 6,77%
Salvador: 6,72%
Belo Horizonte: 6,60%
Teto da meta: 6,25%
Rio de Janeiro: 6,33%
São Paulo: 6,13%
Brasília: 5,62%
Goiânia: 5,25%
Vitória: 5,11%
Curitiba: 4,43%

Fonte: IBGE

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Poupança tem ganho de 1,9%

BRASÍLIA. A desaceleração da inflação em 2016 fez a caderneta de poupança ter o maior ganho real em sete anos. Descontada os 6,29% da inflação, a rentabilidade da poupança foi de 1,9% no ano passado, conforme levantamento da consultoria Economatica. É o melhor retorno desde 2009, quando a caderneta rendeu 2,63%. Em 2015, quando o IPCA atingiu 10,67%, o maior percentual desde 2002, a poupança teve perda de 2,28%. A poupança rende a variação da TR (Taxa Referencial) mais 6,17% ao ano.


Alívio

Previsão de índice menor em 2017

SÃO PAULO. O forte alívio inflacionário de 2016 frente 2015 deve persistir no decorrer deste ano e pode conduzir a inflação ao centro da meta de 4,5% no fim de 2017, com ajuda dos alimentos e por efeito da recessão, segundo analistas. Mas eles alertam que os preços estão em alta e sobem em cima de uma base forte do ano anterior. Só uma deflação neste ano ou um aumento de rendimento forte do brasileiro é que podem reforçar o poder de compra o trabalhador.

A desaceleração do IPCA de 2016 retrata reflete os efeitos da recessão, com o brasileiro consumindo menos e forçando a redução de preços, conforme o economista-chefe do Rabobank Brasil, Maurício Oreng. Segundo o economista-chefe para América Latina do BNP Paribas, Marcelo Carvalho, em 2017, os alimentos podem recuar de preço e fazer o índice acelerar menos com relação a 2016.


“Ninguém esperava, no fim do ano, que se chegasse abaixo da meta. A projeção para este ano é de uma redução ainda maior, para ficar, na verdade, no centro da meta”. Michel Temer, presidente

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