Conforme o esperado pelo mercado, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu reduzir a taxa básica de juros em 0,5 p.p. nesta quarta-feira (20). Dessa forma, a partir de agora a Selic passa a ser de 12,75%. A decisão foi unânime entre os nove membros do comitê.
Este é o segundo corte em 2023. Após um ano de juros muito altos, no patamar de 13,75%, o Banco Central decidiu no mês passado iniciar o processo de redução gradual da Selic. A expectativa do setor financeiro é que, até o fim do ano, ela seja reduzida para 11,75%.
"Considerando a evolução do processo de desinflação, os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu reduzir a taxa básica de juros em 0,50 ponto percentual, para 12,75% a.a., e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano de 2024 e, em grau menor, o de 2025", afirmou o Comitê na justificativa para a redução da Selic.
O comitê afirma ainda que levou em consideração o conário externo, como a elevação das taxas de juros de longo prazo dos Estados Unidos e a perspectiva de menor crescimento na China.
Na ata da última reunião, o órgão já havia informado que a evolução do cenário econômico e a forte queda da inflação permitiram “acumular a confiança necessária para iniciar um ciclo gradual de flexibilização monetária”.
Atualmente, a inflação acumulada nos últimos 12 meses é de 4,61%, de acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). O valor está acima da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) de 3,25%, mas ainda dentro da margem de tolerância de 1,5 ponto percentual (4,75%).
Vale lembrar que a Selic é o principal instrumento do Banco Central para manter a inflação sob controle - teoricamente, quando os juros estão altos, menos pessoas tomam crédito e a economia fica mais desaquecida, evitando aumento de preços por crescimento na demanda. Por outro lado, quando os juros estão menores, as pessoas se sentem mais à vontade para tomar crédito no mercado e adquirir bens, movimentando setores de serviços e indústria.
Mais cedo, na “Super Quarta”, o Fed Reserve, banco central americano, havia anunciado a manutenção da taxa de juros dos Estados Unidos na faixa de 5,25% e 5,50% ao ano, numa nova pausa após ter promovido um aumento na reunião anterior.
Demanda por novas reduções
Os membros do Copom afirmam que há uma expectativa para novas reduções nas próximas reuniões, se o cenário atual permanecer - considerando realidades internas e externas. "Em se confirmando o cenário esperado, os membros do Comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário", escreveram.
A redução desta quarta foi comemorada pelos setores produtivos, mas isso não retira a pressão por juros mais acessíveis. "Mesmo considerando o início tardio do ciclo de queda, acredito que a decisão de hoje foi a mais acertada. Além de convergir com as expectativas predominantes do mercado, a medida tem o objetivo de conduzir a política monetária para um cenário de desinflação da economia", analisa Paulo Casaca, economista da Associação Comercial e Empresarial de Minas (ACMinas).
Para ele, há margem para mais cortes, já que a inflação está sob controle e ov pais demanda um reaquecimento da economia. "A Selic excessivamente elevada em 2023 tem afetado o desempenho de setores produtivos importantes, como a indústria e o varejo. Ambos os segmentos operam em níveis abaixo do patamar pré-pandemia", explica.
A Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) emitiu nota em que afirma considerar acertada a decisão de corte da taxa Selic pelo Banco Central brasileiro. "Contudo, a Federação acredita que esse movimento se apresentou tímido, em contraste com o processo de arrefecimento da inflação observado nos últimos meses. Adicionalmente, as expectativas de inflação demonstram uma tendência de declínio tanto para 2023 quanto para os próximos anos, conforme indicado no último boletim Focus, divulgado pelo próprio Banco Central".
Stefan D'Amato, economista chefe da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Minas Gerais (Fecomércio MG), também defende uma maior redução nos juros para acelerar a economia. "O desafio agora é manter as taxas de juros em patamares adequados para promover o crescimento econômico e garantir o bem-estar da população brasileira, ao mesmo tempo em que se busca uma gestão responsável das finanças públicas, que gere credibilidade e traga confiança ao mercado", argumenta.