Projeção para 2023

Do tradicional ao personagem da moda: setor de brinquedos deve faturar R$ 9 bi

Empresas de especialidades distintas dentro do setor apontam boa expectativa para o ano, com oportunidade de vendas nas plataformas digitais e lojas físicas


Publicado em 14 de abril de 2023 | 07:00
 
 
 
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O mercado de brinquedos no Brasil está otimista para 2023. De acordo com estatísticas da Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq), a indústria segue há mais de uma década com performance positiva e, neste ano, o setor espera faturar quase R$ 9 bilhões. O dado representa um crescimento de cerca de 7% em relação ao ano passado e mostra, ainda, um crescimento expressivo desde antes da pandemia da Covid-19. Em 2019, a indústria do brinquedo faturou R$ 7,2 bilhões. A sensação de otimismo é validada por lojistas e diversos empresários do ramo.

Os dados foram revelados durante a Abrin, maior feira do setor da América Latina, ocorrida em São Paulo. A fabricante Estrela, há 85 anos no mercado, esteve presente no evento e, segundo seu diretor de Marketing, Aires Fernandes, o saldo foi positivo. “Mostramos quase uma centena de lançamentos que acontecerão no decorrer de todo o ano. A coleção foi muito bem recebida, o que nos anima a buscar um crescimento de dois dígitos como meta”, diz. Para ele, movimentos governamentais recentes no Brasil culminaram em confiança para a indústria e consequente otimismo para o ano.

Quem também está confiante com o mercado brasileiro é a recém-chegada Brinquedo Livre - marketplace exclusivo para compra, venda e troca de brinquedos novos, seminovos, usados, colecionáveis e openbox. Lançada no Brasil no fim de 2022, a plataforma espera crescer 185% neste ano, com pelo menos 10 mil a 15 mil novos usuários cadastrados (para compra e venda) até dezembro. A empresa espera ainda dobrar o faturamento atual até o fim de 2023.

Lojas de BH

Na Brinkel, fundada há mais de 30 anos em Belo Horizonte, os dados de janeiro a março já mostram uma tendência de crescimento. Segundo o proprietário da loja, Altair Rezende, comparando com dados do ano passado, em janeiro, o crescimento foi de 10%, em março, 12%, e fevereiro equiparável às vendas de 2022. “Isso faz a gente ficar otimista para o resto do ano. A gente tá acreditando que deve ter um crescimento entre 5% e 10% em 2023”, diz.

A expectativa também vem dos movimentos do mercado e da procura dos clientes por personagens que estão “bombando” na mídia e nas redes sociais. Segundo ele, há produtos que nem chegaram ao mercado brasileiro, mas já têm venda certa. A boneca Wandinha (personagem da Família Addams que ganhou série própria no streaming) ainda não foi importada para o Brasil, mas já é muito procurada na loja de Altair. “A previsão de entrega é para junho, já tem pedido, quando chegar vai vender muito”, acredita.

Outros produtos citados por Altair que estão em alta são os skates de dedo e as cartas de Pokemón, que voltaram à moda. O empresário ainda destaca o Dia Mundial do Brincar, celebrado em 28 maio. Segundo ele, há um movimento entre membros do setor para transformar o dia na “Black Friday” do mercado de brinquedos, como mais uma oportunidade de vendas.

Brinquedos artesanais

No setor de brinquedos artesanais, que trabalha com materiais como madeira e tecido e possui um público com desejos mais específicos, a expectativa também é, de certa forma, positiva para o ano. Na Traquitana, no mercado há 26 anos, as vendas devem apresentar estabilidade, com crescimento de até 5%.

A loja, localizada em BH, tem uma clientela consolidada e uma demanda de mercado mais linear, que não se encaixa no boom comercial dos personagens. “Eu não trabalho com moda, é diferente, a gente vai por outros caminhos. Quem gosta desse tipo de brinquedo (artesanal) procura a gente. Por exemplo, quem tem mais interesse em materiais educativos, como professores”, comenta Ana Luiza Pires, proprietária da loja.

Para Ana Luiza, o mercado de brinquedos artesanais, por ter um púbico muito específico, é mais difícil de lidar, principalmente para quem é novo no ramo. “Imagino que para quem está começando hoje deve ser difícil, não é um mercado simples”, opina. Esse é o caso de Estefânia Trad, que iniciou no setor há pouco tempo. A loja dela, Brinquedos de Madeira BH, foi criada durante a pandemia, cresceu nas vendas online e hoje enfrenta uma fase de retração. A expectativa é que a vendas para 2023 mantenham o que foi em 2022.

“Com o fechamento do comércio e todos em casa, um artesão pediu ajuda a uma amiga minha, para que ela pudesse vender seus brinquedos. Essa amiga me ofereceu os brinquedos para comprar e eu a ajudei”, conta. “Com o tempo percebi que fazia muito sentido para mim: mãe solo, sem emprego e querendo trabalhar com algo que eu acreditasse. Informalmente, as vendas foram crescendo e abri a empresa formalmente em 2020, ainda em meio à pandemia. Com as compras digitais em alta, foi dando tudo certo”, detalha.

Mas com a abertura do comércio, Estefânia percebeu uma desaceleração do mercado virtual. “E como não tenho loja física, senti uma decrescente nas compras”, diz. No entanto, a empresária encara o mercado com muita energia e positividade e enxerga várias possibilidades no horizonte. “Acredito que com a ampla divulgação da necessidade de diminuição do tempo de telas para as crianças, com esse despertar dos pais para os brinquedos e diversão de forma lúdica e com estímulo ao desenvolvimento da criança (até mesmo por conta do impacto da pandemia nas crianças menores) há uma oportunidade de crescimento”, analisa.

Consumidores são a base

Segundo Amanda Rocha Duarte Ziderich, mãe do pequeno João Carlos, de 1 ano e 5 meses, brinquedos educativos sempre fizeram parte da sua infância e, agora, são oferecidos ao filho. "O faz de conta, brinquedos educativos, aquele 'à moda antiga', sempre estiveram presentes na vida do João desde que ele nasceu. E pretendo continuar assim", comenta.

A confeiteira revela que o filho tem preferência, inclusive, pelos brinquedos lúdicos, como ursinho, vassoura, livro, fantoche. Ela e mãe passeavam pela Savassi, na região Centro-Sul de BH, quando decidiram entrar na já conhecida Traquitana. "Compramos 2 livrinhos", diz.

Já a preferência de Miguel, de 7 anos, filho da Margarida Castelar, são os personagens da Marvel. "Ele gosta de todos os personagens da Marvel, inclusive o Homem-Aranha, mas seu favorito é o Pantera Negra", conta Margarida. Ela e o filho foram até a Brinkel, no Padre Eustáquio, região Noroeste de BH, procurar um presente específico para o coleguinha do Miguel, que acabaram não encontrando. Mas não saíram de mãos vazias. "Compramos uma espada, mas foi para meu filho", comenta.

Veja outros dados do setor, segundo levantamento da Abrinq:

  • O setor deve faturar este ano em torno de R$ 8.985 bilhões, crescimento de 7% em relação ao ano passado
  • Nos últimos cinco anos, a indústria do Brinquedo passou de R$ 7.290 bilhões, em 2019, para R$ 7.545, em 2020; R$ 7.885 em 2021; R$ 8.358, em 2022; e R$ 8.985, previsão para este ano.
  • A sozonalidade das vendas manteve-se praticamente estável, concentradas nos meses de agosto, setembro e novembro (Dia das Crianças e Natal), com mais de 51% do movimento do ano
  • Da China devem chegar quase 80% das importações
  • Para o Paraguai e Argentina, o Brasil exporta 56% da produção
  • Já o número de empregos diretos e indiretos no ano teve aumento e passou de 36.500 para 37.650 postos de trabalho

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