CÂMBIO

Dólar cai após alta; futuro é indefinido com eleições e recessão internacional

Volatilidade em torno da moeda norte-americana deve se manter nas próximas semanas, em torno da indefinição eleitoral no Brasil

Por Simon Nascimento
Publicado em 27 de setembro de 2022 | 18:33
 
 
 
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Depois de dois meses em queda, o dólar comercial voltou a subir. Os motivos são distintos e passam pelo risco de recessão global, alta da taxa de juros nos Estados Unidos e da indefinição no cenário eleitoral brasileiro. A moeda se aproximou dos R$ 5,40 no fechamento do mercado nesta segunda-feira (27). A cotação se manteve na manhã desta terça-feira (27), quando marcou os R$ 5,38, mas teve quedas durante a tarde e encerrou o dia em R$ 5,37. 

A tendência, segundo economistas, é de que os próximos dias sejam marcados por uma volatilidade em torno da moeda norte-americana, principalmente devido às eleições no Brasil e às dúvidas que cercam o futuro da política econômica que será implementada a partir de janeiro de 2023. 

Coordenador do curso de economia do Ibmec BH, Ari Francisco de Araújo afirmou que é difícil ter uma previsão exata do comportamento do dólar, tendo em vista que os períodos eleitorais são historicamente conhecidos por uma tensão em das cotações. “É muito comum que nos períodos eleitorais a taxa de câmbio sofra um pouco mais. As mudanças recentes estão amplamente relacionadas com as dúvidas eleitorais”, atesta. 

Para ele, o grande desafio é entender como será o comportamento do dólar após o término do pleito eleitoral. “Talvez um caminho de sequência de reformas, no caso uma manutenção do atual governo, poderia levar a moeda possivelmente para patamares de R$ 5,20. Em contrapartida, em um possível governo Lula, o cenário é mais duvidoso. Não se sabe claramente ainda o que será efeito”, acrescenta o professor. 

CEO da WeCambio, Caio Pilato afirma que a indefinição política no Brasil, inclusive, pode elevar a cotação do dólar até os R$ 6. “Não vejo nenhum absurdo em relação a isso, porque a gente tem uma economia brasileira totalmente deteriorada”, disse. Pilato destacou que um eventual governo de Lula (PT) deixa ao mercado uma mensagem de um Estado “intervencionista” na economia e com poder sobre empresas estatais. “Mas o governo Jair Bolsonaro, que se diz de direita, também intervém bastante e não deixa as coisas andarem como deveria. Acredito sim que o dólar pode se estressar muito”, ressalta o economista. 

Outro problema listado pelo CEO da WeCambio diz respeito à PEC Kamikaze, aprovada antes do período eleitoral para conceder benefícios à população sob o custo de R$ 41 bilhões - valor que ultrapassou o teto de gastos públicos. “Perdemos a âncora fiscal e teremos consequências a curto, médio e longo prazo. Para o ano que vem a gente está muito comprometido, muito comprometido mesmo”, aponta. 

Cenário internacional 

Na análise da alta do dólar sob o contexto internacional, o crescimento passa diretamente, conforme Pilato, com o anúncio feito, na semana passada, pelo Federal Reserve (FED), espécie de banco central dos EUA, de aumentar a taxa de juros no país em 0,75 ponto percentual. A elevação ocorreu pela terceira vez consecutiva como tentativa de frear a inflação no país. 

“Há uma recessão iminente nos Estados Unidos. O FED fez um comunicado informando que o mercado precisa desacelerar na parte também de criação de empregos. Isso assusta e todo mundo corre para o dólar”, observa o CEO da WeCambio. 

O economista projeta que a recessão nos Estados Unidos se concretize em 2023, ainda no primeiro semestre. “A gente está prevendo que o FED aperte a taxa de juros até 4,5%, seria uma surpresa muito grande se subir mais que isso. Mas vai depender da inflação, até porque os Estados Unidos demoraram muito para agir e começar a subir os juros”, pondera. 

Para ele, o cenário atual é dos mais desafiadores “dos últimos tempos", lembrando ainda a manutenção da guerra entre Rússia e Ucrânia. “Temos uma combinação de economia estagnada com inflação alta”, ilustra. No mercado de investimentos, o conselho é evitar, neste momento de volatilidade, correr grandes riscos. “Não apostaria contra o dólar, por tudo que aconteceu, e a moeda continua se valorizando. Para quem tem ação, o ideal é ser um pouco mais conservador e não apostar tanto”, sugere. 

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