Câmbio

Dólar sobe 10% e fundos cambiais lideram ranking em julho

Moeda norte-americana acumulou valorização de 10% apenas no mês de julho

Por Folhapress
Publicado em 31 de julho de 2015 | 19:17
 
 
 
normal

SÃO PAULO. O dólar voltou a subir nesta sexta e encerrou o dia cotado a R$ 3,42. A moeda norte-americana foi pressionada por preocupações com a situação fiscal do país, após o governo anunciar que o déficit primário das contas públicas atingiu R$ 45,7 bilhões nos últimos 12 meses terminados em junho. O dólar à vista, referência no mercado financeiro, subiu 1,54%, para R$ 3,420, no maior nível desde 20 de março de 2003, quando a moeda fechou a R$ 3,480. Na semana, o dólar subiu 2,36%, enquanto no mês a alta foi de 10,08%. Em 2015, a valorização chega a 29,2%.

O dólar comercial, usado em transações no comércio exterior, fechou com alta de 1,63%, para R$ 3,425, também no maior patamar desde 20 de março de 2003, quando a moeda encerrou cotada a R$ 3,479. Na semana, avançou 2,30%, e no mês, 10,1%. No ano, o dólar comercial sobe 28,7%.

Já a Bovespa teve alta de 1,94%, para 50.864 pontos. No mês, o Ibovespa, principal índice do mercado acionário local, caiu 4,17%, enquanto no ano a Bolsa sobe 1,71%. “O déficit primário registrado nas contas públicas ameaça o selo de bom pagador concedido ao país pelas agências de classificação de risco”, afirma Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da Treviso Corretora. A situação está ruim, com a possibilidade de rebaixamento da nota de crédito, completou. Não há uma notícia boa que possa amenizar a situação do país no curto prazo, avalia.

Nesta semana, a agência de classificação de risco Standard & Poor’s manteve a nota de crédito do país, mas alterou a perspectiva para negativa, o que significa que o país pode perder o selo de bom pagador.

“O rebaixamento da nota já está no preço do dólar”, afirma Tarcísio Joaquim, diretor de câmbio do Banco Paulista. “Até porque o Brasil tem grau de investimento, mas o investidor não vem para o país”, completou. A valorização da moeda norte-americana no Brasil se deu na contramão do comportamento do dólar no exterior. Das 24 principais moedas emergentes, 19 se apreciaram em relação à divisa norte-americana. O real sofreu a segunda maior desvalorização do dia, perdendo apenas para o rublo russo, que caiu 3,47%.

Inflação. O BC rolou pouco menos de 60% dos swaps (leilão de dólar) que vencem na segunda-feira que vem, a menor proporção em mais de um ano. O mercado questiona se a autoridade monetária continuará com a estratégia de reduzir as rolagens diante da escalada recente da moeda dos EUA, que tende a pressionar a inflação.

O dólar alto tira um dos maiores pilares da concorrência na economia, que é o importado. “Será que BC acha que a taxa de juros alta e o câmbio desvalorizado podem conter a inflação?”, questiona Tarcisio Joaquim, do Banco Paulista.

Com dólar alto

QUEM GANHA

- Empresas exportadoras
- A indústria que gasta em reais para produzir e vende em dólares
- Empresas que produzem e vendem no Brasil
- As que não precisam importar matérias-primas
- Turismo nacional
Com os preços de passagens e a fatura do cartão de crédito em dólar, ficou mais caro viajar para o exterior. Assim, os destinos nacionais ficam em alta

QUEM PERDE
Indústria que importa peças e matéria-prima
-Setor de tecnologia e até padarias dependem de insumo importado, que fica mais caros
-Quem tem dívida em dólar
-Débitos crescem quando convertidos para a real
-Viagem ao exterior
-Os preços das passagens aéreas, dos hotéis e das compras lá fora ficam mais caros
-Importadores
-Com preço em dólar, produtos ficam mais caros

DÓLAR

A valorização de 10% do dólar no mês foi provocada por uma conjuntura de fatores externos -com as turbulências na Grécia e na China- e internos, com as dúvidas sobre a capacidade do governo de evitar um rebaixamento da nota de crédito do país.

"As especulações em torno de uma bolha acionária na China e as intervenções do governo chinês no mercado financeiro afetaram os preços de commodities e geraram dúvidas sobre o crescimento da segunda maior economia do mundo", afirma Aldo Moniz, analista da Um Investimentos.

Já a Grécia se viu perto de sair da zona do euro, mas conseguiu costurar um acordo para se manter na área de moeda comum.

A expectativa com a elevação da taxa de juros nos Estados Unidos ainda em 2015 também pressionou a cotação da moeda americana no Brasil.

Caso o Federal Reserve (Fed, banco central americano) aumente os juros, os investidores poderiam retirar o dinheiro de países emergentes, como o Brasil, e aplicar nos títulos americanos, considerados mais seguros. Com a perspectiva de maior saída de dólares na economia brasileira, a cotação da moeda sobe.

No Brasil, as preocupações com a situação fiscal pressionaram a moeda americana no mês. O governo anunciou redução da meta fiscal de R$ 63,3 bilhões para R$ 8,75 bilhões.

Depois da sinalização, duas agências de classificação de risco indicaram que podem cortar a nota de crédito do país: Fitch e Standard & Poor's.

"A alta do dólar foi mais influenciada pelo lado doméstico do que pelo exterior. Temos uma instabilidade política somada a uma crise econômica e ao descontrole das contas públicas, o que acaba influenciando na decisão do mercado", afirma Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da Treviso Corretora.

A perspectiva para a moeda americana ainda é de alta, avalia. "A gente estava na perspectiva de dólar a R$ 3,25. Mas a alta que estamos vendo agora é muito recente. A questão fiscal ainda gera dúvidas. Tem que ver se o mercado está propenso a manter a taxa nesse patamar ou não", ressalta.

OURO

A alta do ouro em 12 meses se deve basicamente à valorização do dólar no Brasil. O preço da commodity aqui é formado pela cotação do dólar no Brasil e pelo valor do ouro no exterior -o metal acumulou desvalorização de 6,77% no mercado internacional em julho.

Para investir em ouro, é possível comprar contratos negociados na BM&FBovespa, que são padronizados em 250 gramas. O grama hoje está R$ 119,50. Quem quiser comprar uma barra terá de desembolsar R$ 29.875. Há corretoras, porém, que oferecem contratos com quantidades menores do metal.

O metal é considerado uma opção segura de investimento e, por isso, é mais procurado em momentos de instabilidade no mercado financeiro, como o atual. O ouro é isento de Imposto de Renda para movimentações até R$ 20 mil.

BOLSA

A Bolsa voltou a fechar um mês no vermelho, após subir 0,61% em junho. Em julho, o Ibovespa, o principal índice do mercado acionário brasileiro, caiu 4,17% e em 12 meses a queda chega a 8,9%. A desaceleração da economia brasileira e a instabilidade política elevaram a aversão ao risco no mês.

"Os problemas internos interferiram na Bolsa, mas também houve preocupações no exterior com China e Grécia que afetaram os mercados emergentes", afirma Aldo Moniz, analista da Um Investimentos.

A perspectiva para a Bolsa ainda é preocupante, avalia Roberto Indech, analista da Rico Corretora. "Principalmente pela dificuldade de aprovação dos ajustes fiscais. É preciso monitorar a volta do Congresso e saber se as medidas serão aprovadas. Caso contrário, o país pode inclusive sofrer um rebaixamento da nota de crédito", ressalta.

RENDA FIXA

O aumento do juro básico (Selic) vem favorecendo os fundos de renda fixa e DI, que tiveram valorização de 10,32% e 10,10% em 12 meses (após o desconto de IR), respectivamente. No mês, as altas foram de 0,73% e 0,86%.

Esses produtos aplicam em títulos cuja remuneração acompanha a tendência do juro básico, ou que estão atrelados à própria Selic.

A poupança -tanto para depósitos até 3 de maio de 2012 quanto após essa data- rendeu 7,53% em 12 meses e 0,73% em julho.

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!