Ensino

Faculdades vivem desafio de atrair alunos e Brasil fica longe de meta para 2024

Custos e falta de perspectiva de ganhos afasta juventude da educação, avaliam especialistas


Publicado em 03 de julho de 2023 | 06:00
 
 
 
normal

O momento é de mudanças no ensino superior no Brasil — e, para algumas instituições, de crise. Além dos desafios para gerenciar os negócios em uma época de ascensão da educação a distância (EAD) e manter as portas abertas, as faculdades também enfrentam problemas para atrair estudantes. A taxa de escolarização líquida no país, isto é, o número de pessoas de 18 a 24 anos no ensino superior em comparação ao volume de jovens na população, é de 17,7%, ainda muito distante da meta de 33% até 2024 estabelecida pelo Plano Nacional de Educação (PNE).

Em Minas Gerais, a taxa de escolarização líquida é maior que a média nacional e alcança 18,8%, segundo cálculo do Mapa do Ensino Superior no Brasil, divulgado anualmente pela Semesp, entidade que representa mantenedoras de ensino superior no país. Ele leva em conta o Censo de Educação do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) de 2021.

A rede privada corresponde a 87,8% do total de instituições de ensino superior do Brasil. Assim, o diretor executivo do Semesp, Rodrigo Capelato, avalia que repensar políticas públicas de financiamento estudantil é uma das medidas urgentes para ampliar a taxa de escolarização no país. “Há uma expectativa de que o novo governo federal pense em políticas públicas de acesso ao ensino superior, como ampliação do programa Universidade Para Todos (Prouni), do Fies, que hoje não representa quase nada, e talvez discuta a ampliação do sistema de cotas nas universidades públicas. Como o estudante com renda familiar de um salário mínimo e meio vai conseguir ingressar na faculdade, pagar mensalidade, pagar transporte, material? Ele tem que viver”. O Mapa da Semesp mostra que, em 2022, foram ofertadas 110 mil vagas no Fies e menos da metade, 51 mil, foram preenchidas.

A presidente da Associação Nacional das Universidades Particulares (Anup), Elizabeth Guedes, também defende que é fundamental atrair os estudantes de volta ao ensino superior, seja para a sala de aula ou para a frente do computador. “Alguns alunos não têm recursos e outros não querem entrar no ensino superior. Eles querem curso técnico, trabalhar, ganhar dinheiro. Hoje, a pessoa se forma no ensino superior e continua desempregada. Precisamos modernizar nossos projetos pedagógicos”, conclui. 

Do ponto de vista dos negócios, instituições da rede privada têm tentado se reinventar, oferecendo cursos profissionais de curta duração, os tecnólogos, e de extensão, mais voltados ao mercado de trabalho, pondera o superintendente do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino no Estado de Minas Gerais (Sinep-MG), Paulo Leite. “Hoje existe curso tecnólogo em estética com foco em podologia, que é uma profissão bastante demandada. Você vê uma dinâmica da área muito voltada para esse aspecto do entendimento da efetiva necessidade deste tempo”, exemplifica. 

Ensino precarizado ou mais acessível? Educação a distância divide estudantes e professores

O número de matrículas em cursos presenciais cai ano a ano, enquanto o de ingressantes na educação a distância aumentou 474% no Brasil em uma década. Em Minas Gerais, o salto de crescimento da EAD nas instituições privadas foi de 226% e as matrículas nos cursos presenciais, por outro lado, caíram 23,6%.

Para parte dos estudantes que cursam o ensino superior a distância, a modalidade é a única alternativa que cabe no bolso e na rotina. É o caso do professor do ensino público João Henrique do Espírito Santo, de 21 anos, que está terminando a graduação EAD em letras. “Pelo fator financeiro, foi, sem dúvidas, a melhor opção. Não tenho custo de alimentação, transporte nem a questão de sair de casa. Gosto da EAD porque, com ela, você pode trabalhar e, ao mesmo tempo, encaixar o horário do estudo”, avalia.

Já a analista de licitação Priscila Alves, 42, escolheu um curso presencial de radiologia porque sonhava com uma experiência em sala de aula, mesmo que a mensalidade fosse mais alta. A faculdade onde ela estudava, porém, interrompeu o curso e ofereceu uma transferência para uma versão a distância do curso em outra instituição, o que ela recusou. “Com EAD e aulas gravadas, não temos convívio direto com o professor”, reclama.

Um dos professores demitidos pela mesma instituição e que prefere não se identificar conta que ganhava, em média, R$ 55 por hora de aula presencial, total que caía para até R$ 25 nas aulas remotas. “A educação a distância tem prós e contras. Minas é um país e, para pessoas no interior do Estado, por exemplo, não tem outro jeito, elas precisam da EAD. Mas, nessa modalidade, o professor está falando para uma câmera e não tem relação emocional com os alunos. Essa relação é muito importante para a compreensão da matéria. Infelizmente, a educação virou exploração comercial”, diz.

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!