Roubo

“Gatos” e vazamentos tiram 40% da água do consumidor 

De acordo com o Igam, 360.543 usuários captam água de maneira irregular em Minas Gerais

Por ludmila pizarro
Publicado em 25 de janeiro de 2015 | 04:00
 
 
 
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A cada 10 l de água destinados à distribuição, só 6 l chegam ao destino final da forma correta. O restante (40%), de acordo com a Copasa, se perde em vazamentos na rede e em ligações clandestinas – os “gatos”, responsáveis por roubar água dos mananciais.

Em um dos reservatórios da Copasa, integrante do sistema Paraopeba, a lagoa Várzea das Flores, é possível observar várias construções com abastecimento de suas caixas d’água diretamente do reservatório. “Pelo menos 25% das construções na orla da lagoa Várzea das Flores são clandestinas”, diz o presidente da Associação de Proprietários da Vargem das Flores, Jeferson Rios Domingues. A lagoa está com 28,31% de sua capacidade, segundo a Copasa.

A situação não se limita a esse reservatório. Segundo o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), Minas Gerais tinha, em outubro do ano passado, 360.543 usuários com captação de água de maneira irregular. Esse uso ilegal representa cerca de 400 mil litros de água por segundo retirados dos cursos d’água. Conforme cálculos do Igam, o roubo equivale a 100 vezes o que o Estado espera conseguir com obras no Rio Paraopeba, anunciadas por Fernando Pimentel na última sexta-feira.

O ‘gato’ nem sempre é realizado por quem não tem condições de pagar pela água. Na lagoa Várzea das Flores, as construções que retiram água do reservatório são de alto padrão. Segundo o secretário de Meio Ambiente de Contagem, o Ministério Público, responsável por receber as denúncias de irregularidade nessas construções clandestinas, faz acordos economicamente viáveis para os donos das propriedades, tornando o “crime recompensável”. “Os acordos judiciais feitos com o Ministério Público, as multas aplicadas, não afetam os donos das propriedades. Para quem tem condição fica barato”, avalia.

Na região de Janaúba, no Norte do Estado, a situação se repete. Para o presidente da comissão gestora do rio Gorutuba, Aroldo Cangussu, o planejamento do uso da água do rio é prejudicado pela captação irregular do recurso. “O comitê faz reuniões com usuários, produtores e o Igam. Depois definimos a vazão de cada um para não faltar para ninguém. Mas falta, por causa do clandestino, que tira água sem outorga”, afirma Cangussu.

Para ele, o problema não é o pequeno produtor. “São os grandes fazendeiros (que retiram água clandestinamente), aquele que planta mogno ou banana. Eles têm canais de irrigação e mesmo assim captam diretamente do rio. Eles mudam o leito do rio, fazem barragens clandestinas”, denuncia.

Situação. De acordo com a Copasa, os reservatórios da região metropolitana de Belo Horizonte estão com apenas 30,25% de sua capacidade. A meta do governo é reduzir em 30% o consumo.

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