Impactos na saúde e na economia caminham juntos durante a pandemia. Além dos prejuízos causados pelo fechamento temporário de setores durante a crise sanitária, a alta mortalidade no Brasil, que concentra cerca de 12% dos óbitos de todo o mundo, pode levar a impactos econômicos até 2050. 

O Produto Interno Bruto (PIB) nacional, que sofreu um baque de 4,1% em 2020 e cujas projeções para 2021 são sucessivamente reduzidas, pode continuar acumulando perdas até 2037, comparado às projeções de antes da pandemia. O consumo das famílias também demorará décadas para voltar às tendências de antes de 2020. A análise é de um estudo financiado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTIC), publicado nesta semana. 

“Você tem os impactos econômicos tanto do fechamento e restrições de atividades quanto, no longo prazo, os efeitos na renda e no consumo das famílias. Quem morreu aos 30, 40 anos, deixou de trabalhar e de gerar renda por mais 30, 20 anos. Temos essa redução de consumo e renda nos próximos anos, no médio e longo prazo. Por isso, esses efeitos até 2050 de consumo e renda são permanentes. Não tem como reverter essas perdas”, elabora o professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Edson Domingues, coordenador do estudo da Rede Clima, que reúne pesquisadores especializados em mudanças do clima e economia.

O estudo propõe um modelo matemático para estimar as perdas econômicas com a pandemia, com base nos óbitos registrados em 2020 e até os primeiros meses de 2021 e projeções econômicas de renda e consumo, por exemplo. Neste ano, o cenário de perda econômica de longo prazo se acentuou, já que a média de idades dos mortos pela doença decaiu, enquanto a vacinação avançou entre os mais velhos.

Nos primeiros anos após a pandemia, o desvio do crescimento do PIB tende a ser relativamente pequeno, de acordo com o modelo matemático, mas pode se aprofundar ao longo do tempo e chegar ao pior patamar em 2037, após perdas acumuladas. Depois disso, ocorreria uma retomada, impulsionada por alta de investimentos e exportações, projeta o estudo. O cálculo considera o tanto que o PIB poderia ter crescido nas próximas déadas, mas deixou de crescer por fatores relacionados à pandemia. Em 2037, ano de maior perda acumulada, o prejuízo chegaria a 2,59%. 

O professor de economia do Ibmec-BH Felipe Leroy pondera, por outro lado, que fatores externos, como as eleições para presidente em 2022 e um possível fortalecimento da economia mundial podem alavancar o Brasil no médio prazo. “Temos, hoje, muita gente desempregada disponível no mercado de trabalho. Nos próximos cinco anos, dependendo das eleições e do crescimento do mundo, podemos nos tornar uma encomia mais estável, com mercados menos voláteis. A vacinação será uma pré-condição para afastar de uma vez por todas o medo e retomar investimentos”, avalia. 

Minas tende a ter recuperação mais rápida que restante do Brasil

Como o restante do Brasil, Minas Gerais deve amargar crescimento do PIB abaixo da tendência prevista antes da pandemia até 2045, segundo o modelo da Rede Clima. Mas, ao contrário da maioria dos Estados brasileiros, ela tende a reverter o cenário a partir de então. Ao lado de Minas, somente Espírito Santo, Maranhão, Pará, Piauí e Tocantins devem reverter o cenário no período. 

“As economias vão se ajustando. Minas Gerais teve um ‘choque’ de fatalidades um pouco menor que outros Estados do Brasil, como o Amazonas, então esse impacto de longo prazo é relativamente menor”, pontua o pesquisador e professor de economia Edson Domingues. 

O professor do Ibmec BH Felipe Leroy acrescenta que o Estado se beneficia fortemente das eventuais melhoras da economia internacional. “Minas depende muito da retomada do setor externo, porque somos exportadores de commodities, enquanto outros Estados que dependem muito do parque industrial ainda demoram um tempo para se recuperar. Temos vantagens comparativas, como a produção de minério e o agronegócio”, completa. 

Seguindo a disparidade econômica nacional que precede a pandemia, Amazonas, Acre, Rondônia e Roraima serão os Estados que ainda sentirão mais intensamente os impactos econômicos negativos da pandemia em 2050, de acordo com a Rede Clima.