As transformações tecnológicas e o mercado de trabalho cada vez mais exigente vão demandar a qualificação de 10,5 milhões de trabalhadores em ocupações industriais no Brasil até 2023, segundo dados do Mapa do Trabalho Industrial, divulgado ontem pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai).

Na avaliação de especialistas, para que o país não enfrente um “apagão” de mão de obra, a atualização profissional constante deve passar a ser prioridade de quem ocupa as vagas, de quem procura e de quem as oferece.

“Historicamente, toda vez que a economia cresce, o Brasil tem tido problemas com a falta de mão de obra qualificada. Mesmo com crescimento baixo, a gente tem visto empresas abrirem, mas não conseguem preencher. Se não houver um esforço muito grande e se isso não for uma prioridade, vamos enfrentar momentos difíceis”, afirma o gerente executivo de estudos e prospectivas do Senai, Márcio Guerra.

De acordo com o estudo, as áreas que mais vão exigir formação profissional são as transversais: profissionais que, embora tenham formação industrial, podem ser demandados em qualquer setor, como comércio e serviços. No total, 1,7 milhão de profissionais devem ser qualificados.

A demanda por qualificação inclui, principalmente, o aperfeiçoamento de trabalhadores que já estão empregados, mas também pessoas que precisam de capacitação para ingressar no mercado. “As mudanças no Brasil sempre foram muito lentas, mas a velocidade da chegada da tecnologia está fazendo com que o mercado de trabalho demande mais rapidamente esses profissionais. O profissional do futuro é quem vai estar em contínua atualização”, pontua Guerra, ressaltando que as empresas têm o papel de incentivar a qualificação de seus colaboradores.

O Senai lançou 11 cursos de aperfeiçoamento em tecnologias da indústria 4.0, como internet das coisas. Segundo Guerra, a procura por qualificação no serviço é grande, mas poderia ser maior. “O Brasil ainda precisa ampliar sua percepção em torno da educação profissional como um caminho para o mercado de trabalho. A tecnologia está entrando de forma significativa na nossa vida e vai mudar nosso trabalho, e precisamos nos preparar para isso”, diz.

A supervisora de carreiras do Ibmec-BH, Ana Paula Veloso, afirma que a tendência de as pessoas se acomodarem ao conseguir um emprego deve ser superada. “No passado, quando a gente assumia uma posição em uma empresa, ficava 20 anos fazendo a mesma coisa. Hoje, a gente muda a rotina de atividade várias vezes. O mercado é muito mais volátil”, comenta. Segundo ela, é importante que os profissionais busquem qualificações que tenham a ver com o próprio perfil, e não apenas para seguir tendências.

Conforme o professor da Fumec e especialista em desenvolvimento humano e institucional Marco Antônio Vieira Gomes, outro problema está na oferta de cursos técnicos. “Nós tivemos uma explosão de universidades, mas em cursos técnicos ainda temos uma lacuna muito grande. Ao mesmo tempo, houve perda na qualidade da educação brasileira”, diz. “Em determinadas áreas, como a tecnologia, um bom profissional qualificado dificilmente fica desempregado”, completa.

Tecnologia tem a maioria das vagas 

As ocupações que têm a tecnologia como base são as que mais vão crescer até 2023, segundo o estudo. A maior taxa de expansão (22,4%) será na ocupação de condutor de processos robotizados.

“Parte das pessoas vai sentir um impacto mais direto da tecnologia e precisar buscar novas funções para se manter no mercado de trabalho. As profissões mais manuais têm chance maior de perder relevância, enquanto as de análise, com base cognitiva maior, tendem a ganhar”, diz o gerente executivo de estudos e prospectivas do Senai, Márcio Guerra.

Para ele, a indústria 4.0 pode ser tanto uma ameaça, para quem não estiver atento às transformações, quanto uma oportunidade para os mais “antenados”. A coordenadora dos cursos de ciência da computação e tecnologia da informação do UniBH, Samara Leal, diz que é preciso desconstruir a ideia de que tecnologia é difícil e para poucos: “Há múltiplas possibilidades de atuação na área”.