Como se não bastasse a inflação acumulada de 9,7% no último ano, os produtos também estão diminuindo nas prateleiras de supermercado. As caixas de bombons são um exemplo clássico – elas já pesaram meio quilo e, agora, são metade disso. Mas elas não são o único item que diminuiu de tamanho e permaneceu com o mesmo preço ou ficou ainda mais caro. Molho de tomate, salgadinhos e até paçoquinha, tudo isso diminuiu de tamanho no carrinho, pegando consumidores desavisados de surpresa e gerando revolta em quem percebe a diminuição.
“Acho que isso é uma forma de enganar o consumidor que está acostumado a uma marca e nem presta atenção na mudança. Eu mesma nunca reparei no aviso de alteração na embalagem, a não ser quando pego o produto e acho estranho que esteja menor. A redução parece pouca, mas isso deve alterar muito o faturamento das empresas. Isso devia ser repassado de alguma forma para o consumidor”, pondera a administradora aposentada Íris Reis, 63.
O coordenador do Procon da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), Marcelo Barbosa, lembra o caso emblemático do papel higiênico, no começo dos anos 2000, quando empresas diminuíram dezenas de metros dos rolos. “Sempre considerei isso uma publicidade enganosa, porque acaba induzindo o consumidor ao erro. Dizer que o aviso de mudança é ostensivo é muito relativo”, pontua.
As marcas são obrigadas, por lei, a informar a diminuição, inclusive com a porcentagem reduzida, “de forma ostensiva” na embalagem durante pelo menos três meses, sob risco de multa. A portaria federal de 2002 que estipula essa medida, entretanto, não deixa claro o tamanho que o aviso precisa ocupar no produto. Assim, os alertas de diminuição nas embalagens, muitas vezes discretos, passam despercebidos pelos consumidores mais apressados.
“Eu nem reparo na embalagem. Não é legal para o consumidor, tudo só continua aumentando. Isso tem cara de manobra de inflação”, avalia o funcionário público Benedito da Silva, 52. A manobra tem nomes: “shrinkflation” (“reduflação”, em tradução livre) ou “maquiagem de produto”. Na prática, o consumidor está pagando mais pelo item, como ocorre com a inflação.
No supermercado onde Benedito fazia as compras, por exemplo, uma nova remessa de pacotes de salgadinhos chegou na última semana com quase 8% menos produto do que antes, mas vendida com o mesmo preço, tanto para o mercado quanto para o consumidor.
Venda para mercados também é mais cara, diz gerente
“O primeiro efeito disso é a redução do consumo no supermercado, porque se o cliente percebe que o biscoito de 140g não tem uma diferença tão grande de preço do biscoito de 120g, leva o maior, e eu fico com estoque represado. O produtor diminui a gramatura e aumenta o preço, até para o supermercado. É uma sacanagem o que a indústria está fazendo”, diz o gerente da rede de supermercados Guarim Guarani, César Lima.
A Associação Mineira de Supermercados (Amis) afirma que as mudanças observadas durante a pandemia não foram maiores do que em períodos anteriores e que as alterações são decididas pelos fabricantes. “O setor supermercadista negocia exaustivamente para que não haja repasse de preços ao consumidor. A AMIS orienta à população sempre a estar atenta e comparar preços”, diz o presidente executivo da associação, Antônio Claret.
A Lei Estadual 14.689, de 2003, também obriga que informações sobre a mudança sejam afixadas próximo aos produtos no ponto de venda. Caso o consumidor note irregularidades, pode procurar o Procon do Ministério Público de Minas Gerais.
Novos hábitos de consumo e embalagem mais cara
Confira alguns produtos que tiveram o tamanho reduzido nos supermercados*
Salgadinhos Ruffles:
De 84g, para 76g. Redução de 9,5%.
Sabonete Daily Care Johnson&Johnson
De 90g para 80g. Redução de 11,2%.
Molho de tomate Pomarola
De 340g para 320g, Redução de 5,9%.
Biscoito Nesfit
De 200g para 160g, Redução de 20%.
Barra de chocolate Special Dark Hershey’s
De 100g para 85g, redução de 15%.
ATENÇÃO: As embalagens de ovo também estão menores no mercado. Tradicionalmente vendidas com 30 ou 12 unidades, agora é comum encontrar opções de 20 e 10 unidades.
Fontes: Amazon; Americanas.