Na mira

Justiça bloqueia bens de Sergio Gabardo por indícios de fraudes

Ação visa garantir a integralização do capital social da transportadora Ag Log e o pagamento de dívidas; Causador de rombo de R$ 55 milhões, ele usou de violência contra possível sócia

Por Da redação
Publicado em 31 de julho de 2021 | 16:25
 
 
 
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A Justiça mineira determinou o bloqueio de 14 bens imóveis de Sergio Gabardo, ao compreender que existem fortes indícios de que o empresário do ramo de transportes é o sócio oculto da empresa Ag Log, que acumula uma dívida milionária com credores, tributos e passivos trabalhistas. Ainda não há um levantamento dos valores dos imóveis, mas estima-se que a soma ultrapasse os R$ 55 milhões.

A decisão do juiz Lauro Sergio Leal, da 2ª Vara Cível de Betim, garante que os imóveis não poderão ser vendidos ou doados enquanto o caso não for concluído judicialmente. O bloqueio visa garantir a integralização do capital social da transportadora Ag Log e o pagamento das dívidas.

Na sentença, o juiz retoma um bloqueio que já havia sido determinado há cerca de cinco anos, em uma ação de R$ 54 milhões movida por Ana Cristina Silva de Aquino, que assinava como dona da empresa. Porém, logo após a primeira liminar que determinou o bloqueio, sob forte coação e ameaças violentas, a empresária foi obrigada a trocar de advogados e desistir da ação.

“Ela foi levada à força para Porto Alegre, mantida trancada num quarto de hotel. Foi obrigada a assinar uma procuração em que autorizava advogados do Rio Grande do Sul a pedir o término do processo”, explica Marcelo Rezende, advogado da empresária.

Mas, com advogados de Minas, Ana Cristina conseguiu convencer a Justiça a permitir a retomada do processo. Não houve ainda sentença sobre a responsabilização de Gabardo como verdadeiro dono da Ag Log, mas a decisão da última terça-feira, assinada pelo juiz Leal, cita que os bens ficarão bloqueados até a finalização do processo.

Histórico

A história de Gabardo com a empresa mineira de transporte de veículos começou há aproximadamente 11 anos. O nome do empresário gaúcho não aparecia entre os donos da empresa, mas sua presença estava por todos os cantos. O nome no logotipo era Ag Log, mas toda a identidade visual da empresa era baseada nas cores e nos desenhos da Gabardo Transportes de Veículos, sediada em Porto Alegre.

Por meio de e-mails, depoimentos em cartório e fotos, os advogados de Ana Cristina mostram que Gabardo se apresentava como verdadeiro dono da Ag Log. Uma foto de Mário Sérgio Gabardo, filho de Sergio que foi morto aos 20 anos em 2005, era estampada no hall de entrada da empresa em Betim.

Entre os e-mails apresentados nos autos, há um em que Gabardo promete à Ana Cristina o pagamento por uma grande festa de 15 anos para a filha dela. O evento custou mais de R$ 1,5 milhão e apareceu em revistas de celebridades de circulação nacional.

O drama de Ana Cristina começou quando Gabardo apareceu com um contrato de exclusividade de transporte de veículos para a Renault. A intenção era, com isso, buscar investimentos para a Ag Log para comprar mais cegonheiras. A empresária não sabia naquele momento, mas o documento era forjado e não havia contrato com qualquer grande montadora. Os investimentos milionários caíram na conta da Ag Log, mas a transportadora não fez o trabalho esperado, e as dívidas logo se multiplicaram.

A Gabardo Transportes e o empresário foram procurados, mas não responderam até o fechamento desta edição. Sergio Gabardo, 64 , começou no ramo de transporte de veículos na década de 90, em Porto Alegre. Atualmente, sua empresa concentra as ações na região Sul do país.

Coação

“Ela foi levada à força para Porto Alegre, mantida trancada num quarto de hotel. Foi obrigada a assinar uma procuração˜, disse Marcelo Rezende, advogado de Ana Cristina.

Entrevista com a empresária Ana Cristina Silva de Aquino

"Ele (Gabardo) disse que meus filhos poderiam não me ver mais"

Quando você conseguiu na Justiça uma liminar com bloqueio dos bens do Gabardo, você foi a Porto Alegre e assinou uma declaração desistindo da ação. Como ele te convenceu?

Mais uma vez, ele me enganou. Fui a Porto Alegre porque ele prometeu pagar todos os investidores. Chegando lá, me manteve em cárcere privado e depois me levou ao escritório do advogado, exigindo que eu fizesse baixa da ação. Disse que meus filhos poderiam não me ver mais, que eu poderia não voltar dali.

O dinheiro dos investidores foi aplicado de que forma?

Toda a movimentação era feita por ele ou sob orientação dele. Não se movimentava nada sem orientação dele. Houve compra de equipamentos, ampliação de pátio em São José dos Pinhais. A gente não sabia de tudo que era movimentado na empresa.

Mesmo após a coação, você decidiu retomar a luta na Justiça...

Uma batalha até o reconhecimento da Justiça de que ele era o verdadeiro dono da empresa. Esse bloqueio de bens traz um alívio. Eu já não tenho mais condições psicológicas e morais para lidar com isso, tanto que há cinco anos me mudei de Belo Horizonte.

Gabardo pagou R$ 1,5 milhão pela festa de 15 anos de sua filha. Por quê?

Ele queria evidenciar meu nome como proprietária da empresa, evidenciar a Ag Log como uma empresa de grande porte para conseguir contratos com montadoras. Eu planejava uma festa de até R$ 30 mil, mas ele dizia que a minha filha merecia muito mais.

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