Belo Horizonte é considerada, atualmente, um dos pólos de tecnologia e inovação que contribuem para que o Brasil seja destaque nesse mercado. Trata-se de um nicho que está se transformando por causa da Inteligência Artificial (IA) e demandando cada vez mais mão-de-obra qualificada - o que a capital mineira tem de sobra. É que a cidade reúne diversos hubs de inovação e conta com uma formação de talentos que atrai todo tipo de empresa desse setor, inclusive as de fora do país.

A Hotmart é uma das empresas nativas da capital mineira e que ajudou a construir o mercado de tecnologia local. A primeira startup unicórnio de Minas Gerais, ou seja, a primeira a receber avaliação acima de 1 bilhão de dólares antes de abrir capital nas bolsas de valores, nasceu no bairro São Pedro, em 2011, dividindo o escritório com outras startups na época.

Desse compartilhamento de espaço surgiu o San Pedro Valley. O nome é uma brincadeira com o Silicon Valley (Vale do Silício), pólo de tecnologia que abriga as maiores startups e empresas globais nos Estados Unidos. Em solo belo-horizontino, San Pedro Valley cresceu, agregou diversos parceiros e se tornou a primeira comunidade de startups do Brasil, com mais de 300 empresas. 

E foi do San Pedro Valley que, em 2017, nasceu o Órbi Conecta - um hub de inovação e empreendedorismo localizado na região da Lagoinha, em BH. “O Órbi já tem 7 anos de trajetória na área de inovação aberta. E, agora, nós nos tornamos um ICT (Instituição Científica e Tecnológica). Então, além de continuar sendo uma das grandes vozes em inovação aberta, a gente vem agora também com o apoio de pesquisa e desenvolvimento, não só para as empresas, mas também sendo um elo entre empresas e pesquisa aplicada”, comenta Sabrina Oliveira, executiva do Órbi Academy e diretora de Pesquisas Tecnológicas e IA.

Outro hub de inovação que se destaca em BH é o P7 Criativo, localizado no coração da cidade, em um prédio histórico da Praça Sete, no Hipercentro. Inaugurado em 2022, o espaço reúne empresas de inovação de diversos segmentos e tem parceria com o sistema Fiemg, além de apoio financeiro do BNDES.

“Belo Horizonte vem consolidando há anos sua posição como um dos grandes pólos nacionais de tecnologia, ao lado de Recife, Rio e São Paulo. A cidade reúne as melhores universidades do país de base tecnológica e também setores da economia criativa, fortalecendo nosso ecossistema de inovação”, comenta Márcia Azevedo, Gerente de Economia Criativa do P7.

De acordo com o Sebrae, os maiores pólos de inovação no país são o parque tecnológico do Recife (PE), considerado um porto digital, com movimentação de aproximadamente R$ 1 bilhão anuais, o San Pedro Valley, em Belo Horizonte (MG), o Parque Tecnológico de São José dos Campos (SP), a Capital da Inovação em Florianópolis (SC) e a Fundação Unicamp, Campinas (SP).

“No P7, temos acompanhado de perto esse crescimento (de BH). A cidade se destaca não apenas pela quantidade de negócios criativos, mas também pela qualidade das conexões e pela diversidade das áreas: do audiovisual à moda, do design à gastronomia, passando por tecnologia, games e economia digital”, diz Márcia.

BH tem mão-de-obra qualificada

A formação qualificada de mão-de-obra é também um dos grandes atrativos de Belo Horizonte no mundo digital. “Temos universidades de referência, como a UFMG, PUC Minas, UNA e outras instituições como o SENAI que formam talentos altamente qualificados em tecnologia e demais segmentos da Indústria Criativa. Existe aqui uma cultura empreendedora em que as pessoas trocam experiências, compartilham aprendizados e constroem juntas”, enaltece Márcia Azevedo, que destaca ainda o “espírito de ecossistema” de BH: “há uma sinergia entre empresas, startups, artistas, designers, programadores e outros. É uma atmosfera que convida à criação.”

“Você tem um celeiro de talentos aqui, tem muitos talentos novos sendo formados, a gente tem grandes universidades”, comenta Gabriel Lages, Diretor Sênior de Dados & Analytics na Hotmart. Ele lembra que um dos pontos que ajudaram a transformar BH em um pólo de economia criativa é o fato de que as grandes empresas estavam concentradas em São Paulo. “Você tinha muita gente boa saindo das faculdades, com uma formação muito boa de profissionais, mas não tinha tantas oportunidades quanto em SP, e isso acabou alavancando a cultura de empreendedorismo e de startups na capital mineira”, comenta. 

Desafio é reter esses talentos

O desafio, no entanto, é reter esses talentos e atraí-los para permanecer na capital. “Quando a gente fala de TI, eu tô falando de profissionais que trabalham de forma remota, na maioria das vezes. Então, eu posso formar um profissional aqui, mas ele acaba sendo absorvido por grandes empresas internacionais”, pontua Sabrina Oliveira, do Órbi Conecta.

Uma das soluções para esse cenário trabalhado dentro da Órbi é dar suporte às faculdades para reter juntos os bons profissionais. E um dos trabalhos do hub é fazer a ponte entre as faculdades e as empresas. “Eu consigo desenvolver projetos de extensão em que o aluno consiga receber um valor a nível de mercado para desenvolver um produto dentro da faculdade. E aí, depois, ele é absorvido pela empresa”, cita. 

Para Gabriel, da Hotmart, a moeda é um fator desafiador no mercado de tecnologia. “Porque tem muita empresa que paga em dólar e tem muita empresa que paga em euro, moedas mais fortes que o real. Para uma pessoa que está morando no Brasil, receber em euro é multiplicar o valor”, comenta. Ele pontua que, no entanto, o profissional que está bem inserido na empresa e conhece a importância do próprio trabalho supera essa barreira e cria raízes localmente.

“Muitas vezes a pessoa prefere trabalhar na Hotmart em uma posição em que ela vai estar lidando com uma tecnologia transformadora, com um produto que realmente modifica positivamente a sociedade, do que trabalhar em uma empresa de fora do Brasil, em que simplesmente ela aperta um parafuso, faz uma tarefa repetitiva, uma tarefa em que não consegue ver tanto significado”, exemplifica.

Para não perder talentos, a empresa tem investido num plano de carreira, para que os novos colaboradores já saibam onde podem chegar. Gabriel detalha outras estratégias: “além disso, levar a pessoa para desafios inovadores combate a desmotivação. Outra coisa é a própria comunidade: muitas vezes o profissional que trabalha remoto, para fora do Brasil, se sente muito sozinho, que não tem colegas e que não está se desenvolvendo. A comunidade cria um potencial de transformação”.

Márcia, do P7, reforça que o talento criativo e tecnológico de BH é muito valorizado fora do país. “Temos também visto profissionais sendo contratados por empresas globais, muitas vezes atuando remotamente, e isso é um indicativo da qualidade da nossa formação. Por outro lado, também traz o desafio da retenção e valorização local desses talentos”, acrescenta. “No P7, temos programas de fomento, aceleração e qualificação que ajudam empresas a oferecerem não apenas boas condições de trabalho, mas também propósitos e oportunidades de desenvolvimento que conectem esses profissionais com o ecossistema local”, cita Márcia.