Em um terço dos lares brasileiros, vive pelo menos um idoso. Neles, 43% dos adultos com menos de 60 anos não trabalham, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, analisados pela pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Ana Amélia Camarano. O impacto da morte de um idoso aposentado ou pensionista, analisa a autora, pode levar a uma queda de metade da renda familiar. 

“Os ‘nem-nem’ jovens, dos anos 90, que não estudam nem trabalham, tornaram-se ‘nem-nem’ maduros, que dependem da renda dos idosos em casa. Mesmo que a renda da aposentadoria seja baixa, ela é constante. Faz anos, há uma tendência de idosos serem arrimo de família”, descreve Camarano. 

Uma realidade que transformou a realidade econômica de muitas famílias brasileiras desde março do ano passado. Somente em Minas, quase 37 mil pessoas com mais de 60 anos perderam a vida após contrair a Covid. 

Para o futuro, a pesquisadora vislumbra um cenário mais difícil para quem ainda está na juventude. “Temos maior informalidade hoje. Os idosos de agora viveram um momento melhor na economia e puderam se aposentar, mas vai chegar um momento em que as pessoas vão envelhecer sem aposentadoria”, diz.

A professora de demografia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Simone Wajnman concorda: “Hoje, os idosos estão em uma posição relativa melhor que os jovens, porque nossos programas de transferência de renda são voltados para os mais velhos. Mas o cenário está extremamente incerto, a Previdência está tentando se equilibrar minimamente para se manter existindo. Vai ser necessário que as gerações jovens planejem suas próprias trajetórias financeiras, porque nada indica que poderão depender do Estado”.