ECONOMIA

Na vila onde nasci: empreendedores lucram mais de R$ 3.000 nas favelas

Maioria dos negócios em periferia tem donos e colaboradores do próprio bairro, mostra estudo inédito do Sebrae Minas


Publicado em 24 de fevereiro de 2023 | 05:00
 
 
 
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Em um país com 9,5 milhões de desempregados, segundo os dados mais recentes (do último trimestre de 2022) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o empreendedorismo pode significar uma oportunidade de obter renda e gerar empregos. E não é preciso ir longe para realizar o sonho de ter o próprio negócio. Em vilas e favelas mineiras, 91% dos empreendedores abriram um comércio ou serviço na própria comunidade onde moram, e 86% deles conseguem lucrar mais de R$ 3.000 por mês, além de gerarem emprego para a vizinhança – 88% da mão de obra mora por perto.

Os dados são de um estudo feito com 1.004 empreendedores de favelas de Belo Horizonte e do interior do Estado pelo Sebrae Minas, em parceria com o Data Favela/Instituto Locomotiva, e divulgado nesse mês de fevereiro (veja infográfico sobre o estudo no fim desta página).

O empresário Wenderson Moreira de Souza, de 35 anos, morador do Morro do Papagaio, na região Centro-Sul de BH, é um exemplo. Ele dá trabalho a outros quatro residentes da favela desde 2015, ano em que foi demitido de um emprego formal de zelador e decidiu montar uma empresa que lava veículos com apenas 350 mL de água, a OPA (O Planeta Agradece). Wenderson e a equipe atendem cerca de 50 clientes por semana. “Fico feliz de gerar essas vagas. Pago meu aluguel, a prestação do meu primeiro carro, que uso para atender a clientela no domicílio. Amo o que faço”, disse.

"Há muitas pessoas que estão se dando bem na comunidade, e muitas delas usam a comunidade para crescer. Elas servem de exemplo para outras, que também querem começar”, declarou o presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae Minas, Marcelo de Souza e Silva. O estudo, segundo ele, é um radar do presente e uma base para pensar o futuro.

Potencial para mais negócios

As principais áreas de atividade na periferia são alimentação, beleza e vestuário, conforme o Sebrae Minas. No entanto, outros negócios têm potencial para serem abertos em aglomerados e favelas, ampliando a gama de serviços disponíveis para os próprios moradores. Entre eles, segundo a entidade, estão lojas de móveis e de utensílios domésticos, oficinas mecânicas e gráficas.

O professor de matemática e escritor Miltom Souza, de 42 anos, optou pela área da educação. Há seis anos, ele começou a dar aulas de reforço escolar para alunos da pré-escola ao ensino médio, de porta em porta, na região do Cabana do Pai Tomás (Oeste de BH). Com o tempo, abriu uma sede para atender o público, que não parava de crescer. Hoje a 1000tinho Ensinando e Aprendendo tem cerca de cem alunos. “Meu prazer é ensinar do jeito que eu gostaria que tivessem me ensinado”, declarou Miltom. 

A maioria faz tudo sozinho

A grande maioria dos empreendimentos em favelas (89%) é comandada pelo próprio empreendedor, sozinho. Já entre os 11% que chegam a ter funcionários, a maioria (93%) só tem um colaborador.

Viver e trabalhar perto

Uma vantagem de trabalhar perto de casa é evitar duas horas por dia em um meio de transporte até o serviço. “O bairro se beneficia com o movimento criado ali, com comércio, serviços. Ele fica mais rico, do ponto de vista da qualidade”, disse a professora de arquitetura e urbanismo da UFMG Marcela Brandão.

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