A inclusão vai além de rampas na entrada e banheiros acessíveis que permitam que pessoas em uma cadeira de rodas frequentem um estabelecimento. Fora as adaptações do espaço para acolher pessoas com deficiências físicas, é um desafio adequar um local para deixar qualquer pessoa confortável. No Dia Mundial do Orgulho Autista, celebrado neste domingo (18/06), conheça uma cafeteria no bairro Santo Agostinho, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, que tenta se adaptar para receber melhor pessoas neurodivergentes — isto é, quem tem características neurológicas atípicas, como autismo.

O Grumo Café foi inaugurado nos últimos dias de 2022, em uma casa de 1935 tombada pelo Patrimônio Histórico Municipal, e as adaptações mais urgentes que precisaram ser realizadas foram na fachada, que recebeu uma rampa impensável na época em que a edificação foi construída. “De cara, o que adotamos foi ter um ambiente mais calmo. Fora os quadros pequenos nas paredes, de uma artista autista, tudo tem tonalidades claras para ninguém ficar hiperestimulado, as mesas não têm quinas pontiagudas e as próprias cadeiras têm um formato ergonômico para a pessoa ficar confortável e ter menos estímulos”, descreve o fundador do Grumo, Luiz Felipe Torrent.

São pequenos ajustes no espaço que ele atesta em primeira mão que fazem diferença para pessoas com diferentes necessidades. Aos 30 anos, Luiz recebeu o diagnóstico de Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH). Conhecer essa característica explicou muitas de suas dificuldades do dia a dia, conta: “Eu tenho uma sensibilidade muito grande para sons. Em ambientes muito cheios, coloco meus fones com cancelamento de ruído, porque para mim é difícil quando a música está muito alta, por exemplo”.

No Grumo, ele disponibiliza abafadores de ouvido, descartáveis ou não, para quem precisar se concentrar — seja pela hipersensibilidade a ruídos, seja para ler um livro. “Para falar em acessibilidade, uso a metáfora da rampa: qualquer pessoa consegue subir uma, com ou sem cadeira de rodas. Então, a questão dos abafadores também é esta: qualquer um pode se beneficiar deles, mesmo que o foco sejam neurodivergentes”.

Para pensar nas adaptações necessárias, Luiz contou com assessoria da educadora e ativista Luciana Viegas. Ela própria é autista e, nas redes sociais (@umamaepretaautistafalando), compartilha conteúdos que ajudam a compreender melhor essa característica. Ela preparou uma cartilha listando os cuidados necessários com o espaço. Uma das orientações é organizar o ambiente da forma mais lógica possível, para que ninguém tenha dúvidas sobre o funcionamento — por isso, Luiz tentou escrever o cardápio de forma clara, com ingredientes detalhados, por exemplo.

Mesmo com o cuidado no olhar para atender bem qualquer pessoa que entrar no estabelecimento, ele reconhece que ainda precisa fazer uma série de adaptações, que pretende identificar na medida em que mais clientes apontarem como poderiam se sentir mais confortáveis na cafeteria. “Não encontrei outros negócios com esse tipo de iniciativa em BH e acho que aqui é um começo, uma ideia para outras pessoas fazerem isso também”, conclui.

Quer saber mais sobre o Grumo Café? Ouça o terceiro episódio da série de podcasts “Empreendedorismo: Sonho, Pesadelo ou Realidade?”, que conta a história de quem abriu um negócio motivado por num sonho:

Serviço

Grumo Café
Endereço: rua Rio Grande do Sul, 940, bairro Santo Agostinho
Horários de funcionamento: de terça a sexta-feira, das 9h às 18h; aos sábados, das 9h às 14h.