Diversidade é a ideia de que somos todos iguais, ainda que diferentes. Pelo menos, é o que a maior parte dos pequenos e microempreendedores de Minas Gerais entende quando se fala sobre diversidade, equidade e inclusão no mundo corporativo, segundo pesquisa recém-divulgada pelo Sebrae Minas. Para 47% deles, a ideia de igualdade é a primeira que vem à mente quando se fala em um ambiente de trabalho mais diverso.

É um ideal colocado em prática: a pesquisa também demonstra que políticas inclusivas são uma prioridade para os entrevistados. Para 71%, a diversidade é um tema relevante ou muito relevante, e 66% afirmam já ter colocado a mão na massa e estimular ações nesse sentido em suas empresas. Os resultados demonstram que, hoje, o assunto não se restringe às grandes empresas, que, muitas vezes, têm até departamentos próprios para trabalhar a diversidade.

“Essa temática é urgente em todos os setores. Os desafios são inúmeros, porque uma mudança da cultura organizacional requer tempo, estratégia e treinamentos. Ela também é mudar a maneira como as pessoas pensam e agem”, resume a analista técnica do Sebrae Minas Tábata Moreira, uma das responsáveis pelo levantamento, que ouviu uma amostra de 1.126 empreendedores, tanto microempreendedores individuais (MEI) quanto donos de microempresas e de empresas de pequeno porte. 

Para algumas pequenas empresas, a inclusão é uma decisão ativa. Quando abriu o restaurante Massa Madre, que hoje funciona no Prado, na região Oeste de Belo Horizonte, o argentino Gastón Almada fez questão de montar uma equipe com pessoas de diferentes origens. Ele próprio, imigrante e gay, identifica-se com grupos minorizados, embora reconheça ter privilégios. “Na equipe, tive homens e mulheres trans, mulheres pretas que já foram presas. Eu tive minhas oportunidades por ser homem e branco, então dou visibilidade a quem pode não ter”, conta. Como na Massa Madre, em 53% das empresas o quadro de funcionários contempla algum tipo de diversidade. 

Apostar na inclusão não é somente uma questão social, mas também uma oportunidade de negócio. Dona do bar Jacinta, no bairro Santa Efigênia, na região Leste de BH, Keyla Monadjemi tem uma equipe que tradicionalmente inclui pessoas negras e trans. Embora nunca tenha aberto vagas específicas para grupos minorizados, ela diz que grupos minorizados tendem a ser atraídos para os cargos do restaurante, que já é conhecido por acolher a diversidade. 

Isso também se reflete nos clientes e movimenta os negócios, diz ela: “Ao frequentar o espaço, o público se reconhece. É um lugar em que as mulheres se sentem à vontade para ir sozinhas. É um negócio que traz acolhimento ao público”, disse. 

Em cinco anos de casa, ela diz ter flagrado duas situações de desrespeito dos clientes, nas quais precisou intervir. Na pesquisa do Sebrae, a menor parte dos empreendedores (15%) declara já ter presenciado ou sofrido ações ou discursos discriminatórios na empresa — a maior parte dos ataques, 47% e 42%, são contra pessoas negras e mulheres, respectivamente. Diante desses casos, como Keyla, do Jacinta, diz ter feito, 69% afirmam ter tomado alguma ação. Para 66%, a alternativa foi diálogo e conscientização. Para outros 47%, repreensão verbal.

Diversidade pode ampliar mercados, mas maior parte das empresas não aproveita potencial

A diversidade vai além da inclusão de pessoas de diferentes grupos nas equipes. Ela também pode impulsionar a inovação nas pequenas empresas. Essa oportunidade, porém, ainda não foi aproveitada pela maioria dos empresários entrevistados pelo Sebrae Minas. Embora a maior parte reconheça a importância da diversidade, 77% admitem não ter nenhum produto ou serviço voltado para grupos minorizados.

“Muitas pessoas têm consciência da relevância da diversidade, todavia não estão pensando em como produzir, elaborar e comercializar novos produtos voltados para esses grupos”, pontua uma das responsáveis pela pesquisa, a analista Tábata Moreira. “A inclusão nas empresas traz muitos benefícios econômicos, porque dá oportunidade de inserção em novos mercados, desenvolvimento de novos produtos e serviços”.

É a lição da Savassi Pride, loja na região Centro-Sul de BH especializada em produtos focados no público LGBTQIAPN+, carregados com as cores da bandeira do arco-íris. Por trás do negócio, a empreendedora Naiara de Castro Silva já contou, em outra reportagem de O TEMPO, está o desejo de incluir. “Eu criei a minha loja para ser um local de acolhida, para que as pessoas pudessem se encontrar, conversar. Por isso fiz questão de ter esse espaço físico. Faz parte da minha proposta oferecer também essa questão afetiva. Muitos jovens frequentam a loja acompanhados dos pais, de outras pessoas da família e dos amigos. Então, mais do que o meu negócio, a Savassi Pride é também um espaço dessas pessoas”.

Entre as empresas que oferecem produtos e serviços voltados a grupos minorizados, o público mais frequente é o de pessoas com mais de 50 anos — 16% dos entrevistados voltam-se a esse público.

Pequenos negócios podem ser ‘escola’ para profissionais de grupos minorizados

As empresas com menos de cem funcionários não têm obrigação legal de contratar pessoas com deficiência como as maiores, que precisam reservar vagas para esse público, segundo a legislação brasileira. Mas a contratação desse público em empresas menores podem ter benefícios tanto para elas quanto para eles. É o que defende a psicóloga, professora e doutoranda pela Universidade Federal de São João del-Rei, Raissa Tette, especialista no tema.

Ela ressalta que, especialmente para pessoas com deficiência que tiveram poucas oportunidades de educação e trabalho, o contato próximo com os gestores é uma oportunidade de crescimento.

“Nas micro e pequenas empresas, o número de funcionários é baixo. Isso faz com que o gestor, e geralmente nem existe essa cadeia hierárquica de vários níveis de gerência, seja direto do dono da empresa com a equipe de funcionários. É um contato muito próximo, de forma que ele conhece muito bem esses funcionários e a singularidade de cada um. Com isso, consegue alinhar muito melhor as expectativas que ele tem e o resultado que o funcionário apresenta, consegue dar feedback constante. E isso, para pessoas com deficiência, tem um potencial benéfico maior ainda”, conclui.