Aprendizagem

Preço e comodidade aquecem mercado online de ensino de idiomas

Aplicativos e canais no YouTube, gratuitos em sua maioria, ganham milhões de seguidores no país

Por Rafaela Mansur
Publicado em 07 de outubro de 2019 | 03:00
 
 
 
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Atrativos como preço e comodidade têm levado cada vez mais pessoas a procurar a internet para aprender um novo idioma. Vídeos de professores no YouTube, aplicativos de celular e podcasts tornam a experiência mais simples para os estudantes, que, nas redes, encontram uma infinidade de recursos a seu dispor. Para não ficarem para trás, cursos de idiomas tradicionais também estão apostando em tecnologia.

A doutora em letras e produtora editorial Aline Sobreira, 33, estudou alemão em um curso presencial há quase 15 anos e, há alguns meses, voltou a praticar o idioma, desta vez online.

Ela utiliza todo tipo de método disponível: aplicativos para treinar vocabulário e gramática, podcasts e canais no YouTube dedicados ao ensino da língua. Tudo gratuito.

“Tenho gostado muito dessa experiência, há uma infinidade de bons materiais pra estudar e treinar. Tenho certa disciplina para estudar de forma independente, e não tenho metas ambiciosas, apenas gosto do idioma, então tem sido confortável e prazeroso”, diz Aline.

“Mas também não diminuo a importância do professor. Para mim, o cenário ideal é ter acesso a aulas, com acompanhamento e situações de diálogo, e tendo todos esses recursos como complementos. O que mais faz falta são feedback e interação”, afirma ela, ressaltando que os cursos de idiomas costumam ter custo alto.

Para o professor Paulo Barros, dono do canal Inglês Winner, com quase 1 milhão de inscritos no YouTube, o preço é um dos fatores que explicam o crescimento da procura por ensino de idiomas na internet.

Além dos vídeos gratuitos, com dicas de inglês para o dia a dia, ele oferece um curso pago que custa R$ 997, com direito a acesso vitalício. “Pela internet tem mais comodidade, o curso se encaixa na rotina da pessoa, ela pode aprender no caminho para o trabalho, na academia ou quando tiver um tempo livre. Ela ainda evita o trânsito do deslocamento e paga bem mais barato”, afirma Barros, que morou nos Estados Unidos por oito anos e sempre teve vontade de passar os conhecimentos adiante.

De Belo Horizonte, o professor de inglês Leonardo Leite abandonou as salas de aula de um curso tradicional para se dedicar à internet, em 2008. Seu canal no YouTube, Agora Eu Falo, tinha cerca de 100 mil inscritos no início de 2018. Hoje, são mais de 400 mil, um crescimento de 300%.

“Os vídeos ensinam uma doutrina diferente de aprendizagem e incentivam as pessoas a prestar mais atenção na escuta do que no estudo de livros, a aprender mais com os ouvidos do que com os olhos”, diz Leite.

Ele também tem um sistema pago de aulas online, organizadas em módulos, que permite aos estudantes esclarecer suas dúvidas. O curso custa R$ 497. “A grande vantagem é que, na internet, as pessoas têm acesso a material de treinamento num volume muito maior do que em uma escola”, pontua.

Os aplicativos de ensino de idiomas também estão em alta: o Duolingo tem mais de 40 milhões de usuários no Brasil. Em um ano, entre janeiro de 2018 e o mesmo mês de 2019, o número de alunos brasileiros cresceu 31% na plataforma.

A cirurgiã-dentista Lorena Marinho, 24, está aprendendo finlandês online há dez meses, por meio de um aplicativo. “Por ser uma língua muito difícil, está sendo um grande desafio, mas gosto da experiência de interagir com nativos e aprender o idioma de forma mais informal, que é uma das vantagens que o aplicativo proporciona”, conta.

Escolas investem em tecnologia

Os cursos de idiomas estão investindo em tecnologia e adotando métodos mais modernos de ensinar, para atrair e manter alunos em um contexto de competição cada vez mais acirrada com a internet.

De acordo com a diretora do Sindicato dos Cursos Livres de Idiomas de Minas Gerais (Sindilivre Idiomas) e parte do setor pedagógico da Wizard Savassi, Carla Attilia Longobucco, as escolas estão engajadas.

“Todos os cursos estão partindo para essa mudança tecnológica a passos largos, porque, hoje, os alunos querem ter tudo à mão, as informações têm que ser rápidas. Estão todos correndo atrás do que há de mais moderno”, diz Carla.

Segundo ela, a Wizard trabalha, por exemplo, com inteligência artificial, por meio de uma assistente virtual que monitora a rotina de estudos dos alunos e propõe exercícios personalizados, e com uma caneta que lê o conteúdo de livros para auxiliar na pronúncia.

Conforme Carla, houve uma queda na procura por cursos de idiomas nos últimos anos, sobretudo entre 2016 e 2017, mas ela acredita que a redução não tem relação com a internet, e sim com a crise.

“Nós passamos por um período de recessão, mas já vejo a economia mais aquecida, as pessoas estão buscando os cursos e as empresas estão fazendo parcerias com escolas de idiomas”, diz. “Quem conseguiu enfrentar e continuar no mercado já se encontra em um patamar de mais matrículas. As escolas de idiomas são especialistas no assunto”, afirma.

Ela pontua que o professor em sala de aula ainda é essencial no ensino de novas línguas: “As pessoas conseguem interagir, tirar dúvidas. Nada vai substituir isso tão cedo”.

 

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