O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, anunciará, até a noite desta quarta-feira (4), qual é a nova meta da taxa básica de juros do Brasil, a Selic. A expectativa do mercado é que ela aumente um ponto percentual e é dado como certo que chegue a 12,75%, o maior valor desde 2017. O aumento é estimulado para frear a inflação, mas o consumidor não deve esperar que a mudança baixe os preços em geral no futuro próximo.
Professor de economia do Ibmec BH e economista da Associação Comercial de Minas (ACMinas), Paulo Casaca explica que a elevação da taxa de juros na reunião do Copom é uma estratégia de contenção da inflação no médio prazo, com possíveis efeitos em 2023. “A inflação deste mês, do próximo, já é dada. Quando o Banco Central começa a trabalhar com a nova taxa de juros, aos poucos ela vai sendo incorporada pelo mercado financeiro, de crédito e tudo mais. A pessoa que fizer um financiamento na Caixa amanhã não vai já pegar a nova taxa. Os bancos privados aumentam a taxa mais rapidamente e fica mais caro contratar crédito”, detalha.
Ou seja, para o consumidor que precisa pegar empréstimos, o aumento da taxa Selic na reunião do Copom é uma péssima notícia. Por outro lado, ela é positiva para quem poupa, já que os investimentos tendem a render mais neste período de alta dos juros. O aumento dos juros busca, justamente, desaquecer o consumo e, com a demanda reduzida, conter a inflação.
O câmbio também não deve sofrer uma nova baixa significativa, como quando o dólar baixou para menos de R$ 5 em no último mês em meio aos juros elevados no Brasil. Isso porque, neste momento, o país não é o único a aumentar os juros, já que a inflação se elevou globalmente. Hoje, o Federal Reserve (Fed), banco central dos EUA, também decide sobre a nova taxa. Como a decisão dos dois países coincidem, especialistas do mercado chamam a data de Super Quarta.
Quanto mais altos os juros, mas rendimento os investimentos estrangeiros costumam ter. Esse não é o único fator para que investidores coloquem dinheiro em determinada região, mas, agora que outras nações, mais ricas que o Brasil, também elevam os juros, o país perde parte da atratividade. Com menos investimento estrangeiro, a entrada de dólares no país decai e o valor da moeda tende a subir — ou, pelo menos, a não cair tanto mais.
Nesta prática, os dez aumentos consecutivos da Selic decididos nas reuniões do Copom não derrubaram a inflação, que continua escalando, porém eles têm servido com um curativo, descreve o professor Paulo Casaca. “O problema dessa política é que vieram o preço do petróleo, custo do alimento com a guerra na Ucrânia... Mas, mesmo assim, é melhor tratar essa doença [da inflação] com o remédio errado, minimamente efetivo para combatê-la, do que deixá-la se espalhar”, diz.