Expectativa

Rodoanel deve aumentar PIB da região metropolitana em até 13% em dez anos

Obra deve ser financiada com recursos do acordo entre o governo de Minas, a Vale e as instituições de Justiça para a reparação dos danos do rompimento da barragem

Por Rafaela Mansur e Rômulo Almeida
Publicado em 03 de fevereiro de 2021 | 03:00
 
 
 
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O Rodoanel Metropolitano, obra planejada há anos para desafogar o tráfego do Anel Rodoviário de Belo Horizonte e que, agora, deve sair do papel, com os recursos do acordo entre o governo de Minas Gerais, a Vale e as instituições de Justiça, espera permitir a redução de mais de mil acidentes por ano e aumentar o Produto Interno Bruto (PIB) da região metropolitana entre 7% e 13% em dez anos.

Conforme O TEMPO mostrou, R$ 5 bilhões dos R$ 37 bilhões ajustados entre as partes, para a reparação dos danos socioeconômicos causados pelo rompimento da barragem em Brumadinho, devem ser destinados ao projeto, que tem custo total estimado em R$ 6,21 bilhões. A expectativa é que o edital para a contratação da empresa responsável pelas intervenções seja publicado em maio e que o contrato seja assinado no segundo semestre de 2021.

O objetivo do Rodoanel é desviar o fluxo de veículos pesados de carga do Anel Rodoviário e da área urbana da capital. A infraestrutura vai promover o entroncamento entre três rodovias principais, BR-381, BR-040 e BR-262, e tem extensão prevista de pouco mais de 100 km.

A ideia é criar um corredor logístico para a conexão das diversas regiões do país e de alguns dos principais polos econômicos do Estado. Após a conclusão das obras, a projeção é de crescimento da produção da região metropolitana entre 0,8% e 1,3%, em dez anos. 

O engenheiro de transporte e trânsito e professor da Fumec, Márcio Aguiar, acredita que, se tudo correr dentro da normalidade, as obras de construção do Rodoanel devem levar em torno de três anos.

"O Rodoanel já deveria estar funcionando há pelo menos dez anos. É uma obra muito importante, porque vai tirar, no mínimo, 40% a 50% do tráfego do Anel Rodoviário e segregar o tráfego de longa distância, que é o que mais causa acidentes. Tomara que dessa vez o projeto tenha andamento, porque o grande problema no Brasil é a descontinuidade", afirma. Após a conclusão das obras, o governo espera reduzir o tempo de deslocamento dos condutores dos tráfegos urbano e de cargas em até 50 minutos. 

"O tráfego urbano em geral é muito diferente do tráfego de carga de longa distância. A convivência desses dois tende a causar problemas de acidentes de trânsito, que agora se chamam sinistros de trânsito, porque acidente é aquilo que não se pode evitar, e 99,99% dos sinistros de trânsito poderiam ser evitados", pontua o consultor em transporte e trânsito Osias Baptista Neto.

Procurada pela reportagem, a Secretaria de Estado de Infraestrutura e Mobilidade (Seinfra) informou apenas que o projeto do Rodoanel "depende da finalização do acordo entre a Vale e o governo de Minas, ainda em andamento, com mediação judicial".

Segundo a pasta, o Estado tem "trabalhado para viabilizar todas as compensações e reparações de responsabilidade da mineradora" pelos danos provocados pelo rompimento da barragem.

Além dos R$ 5 bilhões para o Rodoanel, a expectativa é de que cerca de R$ 19 bilhões do acordo sejam revertidos em obras nas áreas de saúde, saneamento e infraestrutura.

Em torno de R$ 9,5 bilhões devem ser destinados aos atingidos e geridos pelo Ministério Público de Minas Gerais e R$ 3,5 devem ser aplicados em municípios da bacia do Paraopeba, segundo uma fonte relacionada ao governo e ao Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG).

Prefeitura de Brumadinho reclama de falta de participação no acordo

A Prefeitura de Brumadinho, na região metropolitana, teme que os recursos do acordo entre o Estado e a Vale não contemplem, da forma esperada, o município, onde a barragem da mineradora rompeu em 2019.

"Desde o início das negociações estamos muito preocupados, porque em nenhum momento Brumadinho, onde a tragédia aconteceu, foi convidada para as discussões, não pudemos opinar em nada. Estão fechando um acordo de R$ 37 bilhões e, pelo menos, 20% desse valor deveria vir para a cidade para a instalação de distritos industriais, para atrairmos emprego e renda", diz o prefeito de Brumadinho, Avimar Barcelos (PV).

Segundo ele, a Vale empregava cerca de 1.000 pessoas no município e gerava aos cofres públicos em torno de R$ 5 milhões mensais, direta e indiretamente. "Essa perda é irreparável. Até conseguirmos atrair novas indústrias, leva tempo, não é fácil", afirma.

O município também reivindica a prorrogação por mais quatro anos do auxílio emergencial pago pela Vale aos atingidos. O dinheiro é destinado a moradores de Brumadinho e de regiões localizadas a até 1 km do leito do rio Paraopeba. "A Vale hoje paga 50% do auxílio a algumas pessoas, enquanto outras recebem 100%. Queremos que toda a população volte a receber o valor integral. As assessorias técnicas contratadas podem dar o parecer de quem realmente precisa", pontua Barcelos. Por enquanto, está definido na Justiça o pagamento do recurso até este mês.

"Eu sou totalmente a favor do acordo, mas temos que ser donos de um pedaço dele. A tragédia foi aqui", conclui o prefeito.

Questionado sobre o assunto, o governo de Minas informou apenas que "não procede a informação de que as instituições que representam o poder público tenham finalizado as negociações" com a Vale. Segundo o Estado, na última semana, a mineradora "apresentou nova proposta que possibilitou a retomada e evolução das negociações".

A Vale informou que não se manifestaria sobre o acordo.

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