Entrevista

Sam Metais vai fazer barragem de água no Norte do Estado

A diretora da empresa Gizelle Tocchetto e o CEO Jin Yongshi visitaram o jornal O TEMPO e a rádio Super 91,7 FM

Por Helenice Laguardia
Publicado em 20 de fevereiro de 2020 | 03:00
 
 
 
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Gizelle Tocchetto
Diretora de relacionamento e meio ambiente da Sul Americana de Metais (Sam Metais)

Empresa apresenta projeto de mineração que beneficiará população do Norte de Minas com reservatório de água, irrigação e energia solar, entre outros. Diretora Gizelle Tocchetto e o CEO Jin Yongshi visitaram o jornal O TEMPO e a rádio Super 91,7 FM para falar da empresa.

O que é a Sam Metais, que chegou a Minas para instalar um complexo de mineração?

A Sam é uma empresa brasileira, subsidiária integral da chinesa Hombridge, listada na Bolsa de Hong Kong. A Sam foi criada em 2006 e surgiu da Votorantim Novos Negócios. Em 2010, a Votorantim negociou esse projeto com a Hombridge, que assumiu a partir de 2013. A Sam está chegando para desenvolver um grande projeto de mineração no Norte de Minas.

Qual é a geração de empregos, quando esperam estar produzindo as 27,5 milhões de toneladas por ano, e qual é o impacto para o Norte de Minas, uma das regiões mais pobres?

O impacto é grandioso. É um projeto que vai quebrar paradigmas, inclusive no mercado de mineração, porque vai partir da extração de minério de ferro de baixo teor. As jazidas no Norte de Minas têm essa característica. No caso do nosso minério, a média de teor é de 20%. Hoje, no Brasil, não tem minerações trabalhando com esse teor. O Norte de Minas pode ser uma nova fronteira mineral no Estado. É uma região carente de oportunidades, e com isso a gente ajuda a fomentar o desenvolvimento da região.

São mais de 6.000 empregos gerados na fase de execução e mais de mil empregos na região quando ela estiver em operação, certo?

Durante a fase de implantação, que deve durar cerca de três anos, no pico da obra teremos 6.200 empregos diretos e, quando estiver em funcionamento, mais de 1.100 empregos diretos, e a gente prevê 6.000 empregos indiretos gerados.

Quais são as fases do projeto e qual o valor do investimento, que parece ser o maior no Norte de Minas?

São US$ 2,1 bilhões, cerca de R$ 8 bilhões, quase R$ 9 bilhões, dependendo da cotação do dólar, é um investimento muito grande para região. Estamos falando do projeto Bloco 8, que engloba um complexo minerário e uma barragem de água, que vai ser a fonte de água para o nosso projeto. A barragem vai permitir a disponibilização de água também para as comunidades da região. No Norte de Minas, a questão hídrica é muito importante. Quando falamos do projeto Bloco 8, dividimos em duas partes: o complexo de minério onde vai acontecer a extração e a concentração do minério. A gente prevê retirar um minério de 20% e elevar o teor desse minério até cerca de 66% para ter um produto final de alta qualidade.

É uma barragem de captação de retenção de água que a Sam vai usar para lavrar o minério e também para transportar esse minério, pois faz parte do projeto a construção de um mineroduto que vai ligar essa mina até um porto no Sul da Bahia, certo?

Estamos falando de um reservatório de água. No Norte de Minas, tem uma característica que tem um período de chuva concentrado, mas tem poucos reservatórios de água. Então, vamos construir esse reservatório de água, e ele vai prover a água necessária para operar o projeto. Na operação, é a água que vamos usar no processo de concentração e também água para fazer a polpa que vai dentro do mineroduto. Ele que tem uma previsão de 480 km (de comprimento). O mineroduto sai do município de Grão Mogol, no Norte de Minas, e chega até Ilhéus, no Sul da Bahia.

Em quanto tempo fica pronta essa barragem?

A previsão é de que todas as estruturas do projeto estejam prontas do final de 2024 ao início de 2025. A água que o reservatório vai captar é suficiente para atender cerca de 640 mil pessoas por dia, isso é cerca de uma vez e meia a cidade de Montes Claros. Vamos disponibilizar uma quantidade de 4.000 m³ por hora.

É uma nova forma de trabalhar. Não vai ter barragem a montante?

A barragem que vamos construir é diferente das barragens que vimos em Brumadinho e Mariana. Vamos fazer uma barragem que se chama “metodologia por linha de centro”. É extremamente segura. Trouxemos outros aspectos de segurança como filtros que evitam a infiltração no corpo principal da barragem, ou seja, evita que se aconteça o que vimos nos desastres. Temos tecnologia suficiente para fazer um projeto inovador. Ele está sendo auditado por profissionais da USP.

Atualmente, a maior barragem no país tem 399 milhões de metros cúbicos. A da Sam vai ter 845 milhões de metros cúbicos de rejeitos. A de Brumadinho, onde aconteceu o rompimento, tem 12 milhões de metros cúbicos. Vai ser uma barragem segura?

Extremamente segura. A segurança da barragem está relacionada à tecnologia de construção e de operação da barragem. Não basta ter um projeto estruturado, tem que ter uma operação correta da barragem. O volume é grande, mas não nos assusta, porque tecnicamente estamos tranquilos do que está sendo feito.

O projeto está em fase de licenciamento. Atualmente, o Ministério Público está questionando esse licenciamento. Podemos prever embates e um licenciamento bem difícil?

A previsão é de começar a operar em 2025. O projeto precisa passar por todas as fases de licenciamento. São três fases. Estamos na primeira fase que atesta a viabilidade ambiental do projeto. Tem uma discussão com o Ministério Público, mas é relacionada à competência administrativa de licenciamento. Ela não gira em torno da viabilidade ambiental do projeto. O que está discutindo é quem é que tem que licenciar esse projeto: é o Estado de Minas ou é o Ibama? Na percepção da empresa, o licenciamento tem que ser feito no Estado de Minas, porque estamos falando de um projeto em Minas, que os impactos estão restritos ao Estado. É um projeto que segue o que os projetos de outras empresas seguiram: a mina foi licenciada num Estado, o mineroduto foi licenciado no Ibama por ultrapassar mais de um Estado.

A população do Norte de Minas tem mais benefícios?

Além do reservatório de Vacaria, vamos aliá-lo a uma irrigação para fomentar o pequeno agricultor. Está previsto irrigar até 950 hectares na região. A partir do quinto ano, a Sam tem como meta se tornar autoprodutora na energia e ela terá que vir de outros parceiros para montar plantas de energia na região. Não tem como fazer um projeto desse tamanho sem ter parceiros, sem fazer com que o benefício venha para a região. Essa tem que ser a nova mineração que pensa não só na empresa, mas em quem está recebendo a empresa.

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