Em Minas

Tragédias das barragens fazem nível industrial regredir 15 anos

Produção tem queda de 4,6% no ano impulsionada pela retração de 24,6% da mineração

Por Tatiana Lagôa
Publicado em 09 de novembro de 2019 | 10:10
 
 
 
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Os impactos dos rompimentos das barragens da Vale em Brumadinho, na região metropolitana, em 25 de janeiro deste ano, e da Samarco, em Mariana, na região Central, em novembro de 2015, ainda estão muito presentes na economia mineira. Com a nova queda do setor extrativo que, de janeiro a setembro deste ano, retraiu 24,6%, a indústria mineira em geral retomou ao mesmo patamar de produção do ano de 2004, segundo projeções da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg). É como se o segmento tivesse regredido 15 anos.

Pesquisa divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que, só de janeiro a setembro, a indústria geral (incluindo a de transformação e a extrativa) teve queda de 4,6%. O resultado negativo foi puxado pela mineração, já que a indústria de transformação teve alta de 1,9% no período.

Enquanto isso, no Brasil, a produção industrial teve queda de 1,4%. Minas Gerais é a segunda localidade analisada com o pior desempenho, atrás apenas do Espírito Santo (-13%). 

“A produção industrial de Minas em 2019 está severamente impactada pela queda da atividade extrativa mineral. Estamos falando de uma atividade que representa quase 25% da produção da indústria geral do Estado. Fora os efeitos que ela tem sobre a cadeia produtiva, em setores como serviços, transportes e comércio”, explica a gerente de economia da Fiemg, Daniela Britto. 

Ainda segundo a economista, não há previsão de melhora nessa situação em 2019. Por isso, a Fiemg estima que a indústria terá uma queda em torno de 25% do faturamento no fechamento do ano. “Esse resultado ruim é fruto tanto do evento de Brumadinho quanto das interrupções de produção para descomissionamento de barragens de grandes players do setor ou por medidas de cautela judicial. Isso vai promover essa queda da indústria no ano”, diz. 

E o impacto da tragédia em Brumadinho chegou, inclusive, a outros segmentos da indústria. “A fabricação de produtos de metal, que teve queda acumulada de 1%, ficou no negativo muito em função da piora na mineração. Se tem oferta menor de minério de ferro, repercute na siderurgia e na metalurgia por causa do aumento do preço da matéria-prima. Os produtos de metal ficam menos competitivos no mercado mundial”, explica a analista econômica do IBGE em Minas Gerais, Cláudia Pinelli. Ainda segundo ela, a retomada das atividades da Samarco, prevista para o próximo ano, deve amenizar o quadro negativo a longo prazo.

Outras áreas começam a esboçar uma reação

Se a indústria extrativa vem puxando os resultados do setor para baixo, outros segmentos começam a esboçar reação. É o caso dos fabricantes de máquinas e equipamentos, que acumulam alta de 8,4% de janeiro a setembro deste ano ante o mesmo período de 2018, conforme o IBGE. 

“A indústria de máquinas e equipamentos tende a crescer quando outros setores estão investindo, porque ela atende às empresas. Mas ainda não conseguimos identificar o motivo da elevação, se há algum setor com renovação do parque fabril, por exemplo, ou uma área em expansão”, afirma a analista econômica do IBGE em Minas Gerais, Cláudia Pinelli.

Da mesma forma, segmentos que têm ligação direta com o consumo, como fabricação de bebidas, alimentos, produtos têxteis e veículos, também estão com resultados positivos no acumulado do ano. “Embora a taxa de desemprego caia lentamente, ações como a liberação do FGTS tendem a favorecer a indústria por aumentarem o consumo”, explica a gerente de economia da Fiemg, Daniela Britto. (TL)

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