Transparência é o desafio do terceiro setor brasileiro

A necessidade de uma maior transparência e comunicação com a sociedade foi um dos assuntos tratados por diversos especialistas no primeiro dia de painéis e palestras do 15º Encontro Nacional do Terceiro Setor (Enats), no Cine Theatro Brasil Vallourec, em Belo Horizonte.

Mostrar a sua força é um dos desafios do terceiro setor, destaca a presidente do Centro Mineiro de Aliança Intersetorial (CeMais), Marcela Giovanna Nascimento de Souza. “Isso envolve comunicação, transparência nas organizações com seus sites. Não vale só querer fazer o bem, a gente precisa ter uma gestão profissional”, analisa. Para ela, a profissionalização é caminho a ser seguido pelas organizações, sem deixar de lado a sua missão na sociedade.

No primeiro dia do evento, que foi marcado pela entrega do Prêmio Enats de Boas Práticas de Gestão, o especialista em empreendedorismo social Thiago Alvim destacou a importância da transparência das organizações para conseguir contribuições para a sociedade.

A presidente do CeMais, que é a entidade organizadora do Enats, conta que o setor foi afetado pela crise econômica. “As pessoas físicas e jurídicas reduziram as contribuições, ao mesmo tempo que a demanda aumentou, pois muita gente ficou sem emprego”, diz.

E conseguir recursos não é das tarefas mais fáceis. De acordo com levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), das 820 mil organizações da sociedade civil (OSCs) em atividade no Brasil, 22 mil, ou 2,7%, receberam recursos federais entre 2010 e 2018. Foram repassados a essas entidades R$ 118,5 bilhões, o equivalente a 0,5% do orçamento anual da União.

Os dados fazem parte do Mapa das Organizações da Sociedade Civil. O estudo do Ipea aponta tendência de queda nos repasses desde 2010. Naquele ano, 14% dos empenhos foram destinados às organizações sociais. Em 2018, esse percentual caiu para 9,8%. O Enats é um evento anual que reúne organizações sociais, financiadores e fomentadores privados, além de Ministério Público, governo e sociedade civil. O encontro conta com o apoio do jornal O TEMPO.

Falta mais incentivo à doação

O presidente da Confederação Brasileira de Fundações (Cebraf), Paulo Haus Martins, afirma que não existe incentivo às doações ao terceiro setor no país. “Lutamos contra os problemas criados pelo sistema, como crianças abandonadas e idosos sem condições de se manterem. Somos importantes, e sem recursos”, reflete.

Carola Mattarazzo, presidente do Movimento Bem Maior – fundado por filantropos brasileiros –, destacou uma pesquisa na qual 46% dos entrevistados no país disseram que doariam mais se soubessem como o dinheiro vai ser gasto, o que confirma a necessidade de melhorar a comunicação com a sociedade.