A Quaresma, iniciada nesta Quarta-Feira de Cinzas (22), tradicionalmente contribui para aumentar o preço dos ovos, já que parte dos consumidores pagam penitência e deixam de comer carne neste período. Neste ano, a alta supera 20% e uma só unidade de ovo pode custar mais que R$ 1, segundo levantamento do site de pesquisa Mercado Mineiro, divulgado nesta semana.

A dúzia de ovos vermelhos ficou 20,3% mais cara em um ano e saltou de R$ 10,25, na Quaresma passada, para R$ 12,33 em 2023. A dúzia de ovos brancos é, em média, mais barata, e custa R$ 10,61. Mas sua alta foi mais expressiva, de cerca de 21,8% — em 2022, o preço era R$ 8,71. Os ovos estão mais caros não somente nas lojas, mas no Ceasa. Entre fevereiro de 2022 e o mesmo período de 2023, a cotação da caixa de 30 dúzias subiu 40% e foi de R$ 125 para R$ 175.

O economista Rodolfo Coelho Prates, professor da PUCPR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná), avalia que os ovos ficaram mais caros devido a uma combinação entre aumento nos custos de produção e demanda aquecida. Ele destaca que a valorização da soja e do milho na pandemia pressionou os preços da ração usada na alimentação das galinhas.

Além disso, diz, houve uma pressão de demanda porque os ovos representam uma fonte de proteínas mais barata na comparação com a carne, que segue em um patamar elevado de preços, apesar dos recentes sinais de trégua. "São as duas coisas. A população sofreu um processo de empobrecimento e substituiu proteínas, e o setor de frangos, galinhas, depende muito da ração", indica Prates.

Não é somente no Brasil que os ovos ficaram mais caros. Nos EUA, eles passaram por uma escalada e ficaram até 70% mais caros. O jornal britânico “The Guardian” relatou, no final de janeiro, que a dúzia de ovos orgânicos em uma mercearia em Nova York chegava a custar US$ 17,99 — algo em torno de R$ 91, pela cotação do período.

No país, os preços subiram por um motivo diferente: a gripe aviária. A doença provocou a morte de aves poedeiras, gerando escassez de ovos. Com a oferta restrita, houve uma pressão sobre a inflação dos produtos. "Está faltando ovo porque lá o pessoal está tendo de abater os animais", diz Serigati. Na Europa, além da gripe aviária, a alta dos custos de grãos e da energia também afetam a produção neste momento. "Os ovos estão caros no mundo", ressalta o pesquisador.

(Com Leonardo Vieceli/Folhapress)