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Usina falida há 28 anos ainda deve R$ 116 mi a trabalhadores

Cerca de 700 ex-empregados ainda lutam na Justiça para receber seus acertos

Por Tatiana Lagôa
Publicado em 05 de agosto de 2019 | 08:27
 
 
 
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Durante 103 anos, a siderúrgica Queiroz Júnior, antiga usina Esperança, levou empregos e desenvolvimento para a cidade deItabirito, na região Central de Minas Gerais. A empresa foi a primeira do setor a ter características modernas, a pioneira na produção de tijolos refratários e praticamente a única produtora de ferro-gusa do país durante décadas. Mas, há 28 anos, quando declarou falência, deixou um enorme vácuo econômico na cidade e os ex-funcionários em total desalento. Até hoje, os 700 empregados derradeiros lutam na Justiça para receber o acerto integral pelos serviços prestados. 

A estimativa é que a dívida corrigida da empresa com os trabalhadores chegue a R$ 116 milhões. A siderúrgica foi leiloada em 1992, um ano após o decreto de falência, em fevereiro de 1991. Na época, ela foi vendida por US$ 12,5 milhões, valor ao menos três vezes inferior ao de mercado, segundo trabalhadores ouvidos pela reportagem. Com o recurso, que foi pago em dez parcelas, a massa falida conseguiu arcar com apenas 37% dos débitos trabalhistas. E, a cada ano, a dívida corrigida fica maior.

O técnico em metalurgia José Agostinho Antunes, 66, é um dos ex-funcionários que ainda não foram ressarcidos. Ele trabalhou na empresa durante 23 anos. No ano da falência, ocupava o cargo de chefe do departamento de fundição e era responsável por uma equipe de 268 trabalhadores. “A falência foi um susto muito grande e pegou todo mundo desprevenido. Eu passei muito tempo da minha vida me dedicando a uma empresa pioneira em siderurgia e, de um dia para o outro, ela faliu. Meus sonhos se foram juntamente com ela”, lamenta. 

Segundo Agostinho, a empresa deve para ele algo em torno de R$ 1 milhão. “Quando eu perdi o emprego, passei o maior aperto e tinha um filho de 1 ano. Mudei para Contagem com minha família para trabalhar, porque a Queiroz Júnior era a maior empresa da cidade (Itabirito)”, conta.

No ano da falência, Aloísio Marcos Braga, 70, trabalhava na área comercial da empresa e era diretor do sindicato de trabalhadores. “A crise começou a pegar mesmo para a usina uns dez anos antes. Chegamos a ficar uns três meses em casa sem salário, até que declararam a autofalência. Foi um desespero para os funcionários, muitos ficaram anos desempregados. E vários já morreram sem ver a cor do dinheiro”, lamenta. 

O ex-superintendente da empresa Janot Antunes Parreiras, 72, perdeu um alto salário e, com três filhos, se viu obrigado a mudar para o Canadá para manter o patamar de vida. “Quando eu saí da empresa, já estava com 44 anos e tinha meus filhos em idade escolar. Eu tive que me virar porque a situação aqui no Brasil não estava tão boa para engenheiro”, lembra. Ele já voltou para o país e agora aguarda receber os R$ 3 milhões devidos a ele pela empresa.

Processo travado há oito meses

O processo judicial para ressarcimento dos funcionários da Queiroz Júnior, que corre na Justiça há mais de 20 anos, está parado por causa de um relatório. Na ata da última reunião, de novembro do ano passado, na 2ª Vara Cível da comarca de Itabirito, entre representantes dos trabalhadores e das empresas, ficou acordado que a administração da massa falida apresentaria uma prestação de contas em, no máximo, três meses. Mas já se passaram oito, e nada foi feito. 

“A gente já conseguiu o mais difícil, que é comprovar que a siderúrgica tinha passado o patrimônio dela para outra empresa do grupo, a Esperança S.A (ESA), antes da falência. A Justiça já entendeu que existe recurso para nos pagar. Agora, estamos por esse tempo todo esperando a apresentação de um papel”, reclama o ex-funcionário Aloísio Marcos Braga, 70. 

A reportagem tentou, sem sucesso, contato telefônico com o administrador da massa falida, que está responsável por fazer o levantamento. 

Impactos

A falência afetou toda a cidade. “Foi um baque muito grande porque, naquela época, era uma das principais geradoras de emprego de Itabirito. O comércio caiu muito, a arrecadação do município também foi muito prejudicada”, afirma o prefeito da cidade na época, Waldir Salvador. (TL)

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