“Não acredito que (a Vale) tenha dolo (pela tragédia em Brumadinho)” – A frase, dita pelo vice-governador de Minas Gerais, Paulo Brant, no discurso de abertura do Conexão Empresarial Mineração & Siderurgia, nesta terça-feira (29), deu o tom para as discussões sobre a atuação de mineradoras no Estado durante o evento.
Se reuniram em Nova Lima, região metropolitana de Belo Horizonte, representantes do setor privado e poder público para colocar em debate o futuro da mineração na região.
A tragédia da Vale na cidade, que ceifou ao menos 252 vidas e deixou outras 18 pessoas desaparecidas com o rompimento da barragem do Córrego do Feijão, em janeiro deste ano, fora tratada como um empecilho para o crescimento econômico de Minas Gerais pela maior parte dos palestrantes.
Embalado pela paralisação de unidades da Vale no Estado, o setor de extração mineral foi o que mais recuou em contribuição para o Produto Interno Bruto (PIB) em Minas no primeiro semestre, com diminuição de 22,2% no segundo trimestre deste ano em relação ao primeiro trimestre e 42,6% se comparado ao mesmo trimestre do ano anterior.
Segundo boletim divulgado pela Fundação João Pinheiro no início do mês, a tragédia em Brumadinho foi “determinante para o resultado negativo do PIB do segundo trimestre de Minas Gerais”, que caiu 0,7% como um todo no segundo trimestre de 2019.
Nos primeiros três meses do ano, a economia já havia recuado 0,2%, na comparação com o quarto trimestre de 2018. Para comparação, o PIB brasileiro teve alta de 0,4% no mesmo período.
“Temos uma tragédia mineira, com 2 milhões de subempregados ou desempregados no Estado”, afirmou Brant em entrevista coletiva, quando questionado sobre sua declaração na abertura do evento.
“Acho que houve erros (em Brumadinho), de várias partes, quando digo que não houve dolo, parto da presunção da boa fé. Até hoje, não houve nenhuma evidência de dolo, dolo”, continua.
As discussões, que foram tocadas por nomes como Germano Vieira, secretário de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Wilfred Bruijin, CEO da Anglo American, e Alexandre Vidigal, secretário nacional de Geologia, Mineração e Transformação Mineral do MInistério de Minas e Energia, passaram por temas como a simplificação de processos de licenciamento ambiental, a importância da mineração para a matriz econômica mineira e perspectivas para os próximos semestres.
Contudo, a perda humana e a tragédia ambiental deste ano só foram citadas com certa veemência quando o Promotor de Justiça do Ministério Público (MP) da comarca de Brumadinho, William Garcia Pinto, que comanda as investigações contra a Vale, tomou a palavra.
“Encontramos um cenário, em janeiro, que se aproximava do pós-guerra”, disse. Durante cerca de 20 minutos, ele discursou sobre a relação entre mineradoras e fiscalização pública.
Segundo Pinto, há um ambiente de “distorção do mercado” causado por extrativas que pressionam empresas especializadas em produzir relatórios de segurança ambiental para conseguirem licenças falsas.
Entretanto, o promotor não fez menção a nenhuma empresa, nem relacionou a prática às investigações que conduz. Sobre o andamento do inquérito, Pinto não revelou novas informações.
A respeito das falas de Brant, ele preferiu não comentar. Em fevereiro, o promotor havia dito que “ocorreu a prática de um crime de homicídio doloso” em Brumadinho.