Entre os 513 deputados federais do Congresso Nacional, apenas uma mulher é indígena. Já em Minas Gerais, o cenário é ainda pior: não há nenhuma representatividade. Postulante de uma cadeira na Câmara, a candidata do PSOL Célia Xakriabá defendeu em entrevista ao Café com Política da Rádio Super a necessidade do aumento da participação dos indígenas na política. 

“Nós precisamos mudar essa realidade, porque se nós povos indígenas não somos nem 1% da população brasileira e 5% da população do mundo e protegemos mais de 83% da biodiversidade. Se estamos preparados para cuidar do planeta, estamos mais que preparados para estar no Congresso Nacional e não somente isso, também combater a bancada ruralista que tem sido agressora e responsável por grande parte do ecocídio”, afirmou.

A candidata lembrou ainda a importância da defesa do meio ambiente nas políticas públicas e na legislação. “Para enfrentar a bancada ruralista e defender as questões ambientais e a redemocratização do uso da terra, somos nós, a bancada do cocar que está mais que preparada. Aqui em Minas também é realidade a questão da mineração. As pessoas perguntam se somos índios de verdade, se fomos primitivos, e eu tenho perguntado se a mineração é civilidade de verdade? Porque ela tem comido as montanhas de Minas Gerais, tem comido as águas, as pessoas, então são eles que são primitivos”, enfatizou.

Avanços da Lei de Cotas

Legislação que completa 10 anos neste mês, a Lei de Cotas conseguiu ampliar em mais de 160% o número de negros, indígenas, pessoas com deficiência, além de estudantes de escolas públicas e de baixa renda nas universidades federais. Para a candidata, os números mostram que o texto tem cumprido seu papel de reparação histórica.

“As pessoas vão falar que a cota é um privilégio, mas na verdade é que somente no século 21 chegaram os primeiros indígenas na universidade. Em todo o Brasil, são quase 70.000 indígenas chegando na universidade, e se não fosse pela reparação da Lei de Cotas não conseguiria ter essa presença indígena. A cota não é privilégio, a cota é para saldar uma dívida histórica”.

Desmonte de políticas públicas

Para a candidata, a Fundação Nacional do Índio (Funai), criada para proteger os direitos dessa população, tem sido usada pelo governo de forma contrária: para perseguir essas populações. “O governo tem acentuado e usado a mão do estado para ter como projeto de país o genocídio, que escolheu nós povos indígenas como inimigo número um. Mas nós também escolhemos ser os primeiros a resistir, porque nesse momento decidiram em uma reunião interministerial passar a boiada em cima do nosso território. E nós decidimos passar com o nosso cocar”.

Demarcação de terras indígenas

Por fim, Xakriabá lembrou que o atual governo já prometeu desde o primeiro dia de gestão que não seriam demarcados nem um centímetro de terras indígenas no país. Além disso, a liderança falou sobre o aumento da violência contra essa população nos últimos anos. “Não somente não demarcou, como acentou o genocídio e o etnocídio, que é a matança da identidade, do nosso povo indígena. A morte de Don e de Brun é um caso de repercussão geral, mas naquela mesma semana assassinou quatro guarani kaiowá. Ao todo, são mais de dez lideranças assassinadas somente no mês passado”.