De um outsider que se recusava a ter “uma estrela colada no peito” a um esforço diário para se aproximar do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na tentativa de garantir a vitória em Minas Gerais. A trajetória política de Alexandre Kalil (PSD) até o atual pleito é recheada de bifurcações.
Como prefeito de BH, entre janeiro de 2017 e março de 2022, ele se aproximou do eleitorado à esquerda ao se tornar o primeiro prefeito a subir no palco da parada LGBTQIA+. Ao mesmo tempo, tornou-se alvo de críticas da mesma corrente de eleitores ao autorizar uma ofensiva da Guarda Municipal contra professores na porta da PBH. Foi acusado de truculência e de resistência ao diálogo com a categoria.
Muito além de sua relação com a esquerda, Kalil deixou a PBH com heranças divergentes aos olhos da população. A principal promessa da campanha que o elegeu prefeito em 2016 foi a de “abertura da caixa-preta da BHTrans”. A prefeitura contratou uma auditoria logo no início do seu mandato, mas a análise de 104 mil documentos decepcionou: a revisão concluiu que a tarifa de ônibus à época deveria subir de R$ 4,05 para R$ 6,35.
Dois anos depois, o próprio Executivo municipal abriu uma investigação sobre a auditoria contratada. Mas o desgaste já estava garantido: a Câmara abriu uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre a BHTrans, e a relação de Kalil com os vereadores desmoronou.
Por outro lado, o ex-prefeito deixou o comando de Belo Horizonte com um legado positivo na saúde. O combate à Covid-19 na cidade, orientado pelo comitê de enfrentamento coordenado por três infectologistas renomados em Minas Gerais, ganhou reconhecimento nacional e internacional. Mas o rigor da defesa da vida desgastou a relação de Kalil com os empresários da capital mineira por manter o comércio da cidade fechado por longos períodos. Resultado: muitos desses setores hoje são apoiadores de Romeu Zema (Novo), principal adversário do ex-prefeito. O trabalho contra o coronavírus, porém, garantiu à saúde municipal o reconhecimento do Imperial College of London em um estudo sobre o controle da pandemia nas capitais brasileiras.
Politicamente, o candidato carrega para o pleito alguns dos desafios que teve como prefeito. Antes mesmo de oficializar sua chapa ao governo de Minas, Kalil se defrontou com a resistência da Câmara de BH. Se a aliança com Lula fez o ex-prefeito ser visto como uma alternativa à esquerda nestas eleições, também resultou na falta de apoio dentro do próprio partido, o PSD. Ele ainda encontrou dificuldades para se fazer mais conhecido no interior, o que limita o potencial do palanque petista. “Eu quero é voto do povo”, é a resposta dele a quem o questiona sobre o diálogo prejudicado com prefeitos, deputados e correligionários.
Este domingo marcará a quarta disputa eleitoral de Alexandre Kalil nas urnas pelo terceiro partido diferente. Em 2014, ele não conseguiu se eleger para deputado federal pelo PSB. Dois anos depois, conquistou a Prefeitura de Belo Horizonte com o PHS, sendo reeleito em 2020 pelo PSD, sigla pela qual concorre a governador.
Aos olhos da campanha, os trunfos para Kalil tentar a terceira vitória em quatro candidaturas são a proximidade com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os ataques contra Romeu Zema (Novo) – seu principal adversário pelo comando do Executivo Estadual –, apostando no “amor” contra a “calculadora”. A escalada medida nas últimas pesquisas será suficiente.
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