Investigação

Empresário amigo de Aras entregou celular com mensagens que envolvem PGR

As mensagens que colocam Aras no centro do escândalo estavam no telefone celular do dono da Tecnisa. Ele é um dos oito empresários alvo da operação contra grupo de Whatsapp que prega golpe de estado em caso de vitória de Lula


Publicado em 24 de agosto de 2022 | 09:56
 
 
 
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A Polícia Federal encontrou uma troca de mensagens dos empresários bolsonaristas investigados por supostamente disseminarem mensagens golpistas com o procurador-geral e eleitoral da República, Augusto Aras, após entrar na casa de um dos alvos da operação desencadeada nesta terça-feira (23).

As mensagens que colocam Aras no centro do escândalo estavam no telefone celular de Meyer Joseph Nigri, dono da Tecnisa. Ele é um dos oito empresários alvo da operação contra grupo de Whatsapp que prega golpe de estado em caso de vitória de Luiz Inácio da Lula (PT). 

O empreiteiro teria entregue imediatamente o aparelho e a senha aos agentes que cumpriram o mandado de busca e apreensão na residência dele. Dessa forma, os federais logo encontraram mensagens trocadas com o procurador-geral da República.

Nigri e Aras são amigos próximos. Foi do PGR, inclusive, que o dono da Tecnisa contraiu a Covid-19 que quase o matou, em 2020. Mais: Aras citou nominalmente o empreiteiro no discurso de posse dele como PGR. 

“Ficaria difícil para mim nominar cada amigo. Então peço vênia para, em nome de Meyer Nigri, cumprimentar a todos presentes, especialmente aos amigos da Bahia aos quais não teria como nominar um a um e a todos os colegas e amigos aqui presente”, disse Aras à ocasião.

Aras assumiu a PGR pelas mãos de Jair Bolsonaro (PL) mesmo sem estar entre os indicados para o cargo por meio da lista tríplice da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) – tradição que era respeitada desde 2003. fontes palacianas dizem que Nigri foi determinante na escolha de Bolsonaro.

A informação de que policiais federais localizaram mensagens entre Nigri e Aras são do site Jota, especializado em assuntos jurídicos. Foi a colunista Malu Gaspar, do O Globo, quem revelou que o dono da Tecnisa entregou o celular e senha aos agentes e facilitou a descoberta da trocas de mensagens.

Segundo o Jota, fontes da PF, do Ministério Público Federal (MPF) e do Supremo Tribunal Federal (STF) contaram que nas mensagens dos celulares apreendidos haveria críticas ao ministro do STF Alexandre de Moraes e comentários sobre a candidatura de Jair Bolsonaro. Elas estão mantidas sob sigilo.

STF “será o responsável por uma guerra civil no Brasil”, escreveu empresário

A operação realizada pela PF na terça-feira foi deflagrada depois que o site Metrópoles revelou a existência de um grupo de WhatsApp chamado “Empresários e Política”, no qual os participantes trocavam mensagens golpistas.

Em reportagem publicada na semana passada, o site mostrou que empresários bolsonaristas passaram a defender um golpe de Estado caso Lula vença as eleições de outubro. Houve quem sugerisse pagamento de bônus a funcionário que declarasse voto a Bolsonaro, o que é crime.

Investigadores desconfiam que esses empresários financiam atos democráticos pelo país, como os que ocorreram em 7 de setembro do ano passado, com ameaças de invasão ao STF e intervenção militar com a manutenção de Bolsonaro no poder.

STF “será o responsável por uma guerra civil no Brasil”, escreveu empresário

O Metrópoles divulgou mensagens dos oito empresários que apoiam o presidente Jair Bolsonaro. No caso de Meyer Nigri, ele encaminhou ao grupo uma mensagem que dizia que o STF “será o responsável por uma guerra civil no Brasil” e outro que defendia a contagem paralela de votos na eleição por uma comissão externa.

Na terça, horas após o “amigo” – nas palavras do próprio Aras – ser alvo da operação, a PGR divulgou uma nota queixando que não foi informada formalmente pelo STF de que ela ocorreria.

Horas depois, o gabinete de Alexandre de Moraes – responsável por autorizar a operação – rebateu e disse, por meio de nota, que a PGR foi intimada na segunda (22), véspera da operação, em um gabinete no STF, e que, posteriormente, ainda na segunda, a decisão foi recebida pelo gabinete da vice-procuradora geral da República, Lindôra Araújo.

Alexandre de Moraes mandou bloquear contas bancárias e redes sociais

Além de autorizar buscas em endereços, para coleta de provas, Alexandre de Moraes mandou quebrar o sigilo bancário e bloquear as contas bancárias e as contas nas redes sociais dos empresários investigados.

A investigação tem por base a Lei de Defesa do Estado Democrático de Direito, que incluiu no Código Penal a previsão de pena para quem “tentar, com emprego de violência ou grave ameaça, abolir o Estado Democrático de Direito, impedindo ou restringindo o exercício dos poderes constitucionais”.

Além de Meyer Nigri, foram alvos de busca e apreensão os empresários Luciano Hang (dono das lojas Havan), José Isaac Peres (rede de shopping Multiplan), Ivan Wrobel (Construtora W3), José Koury (Barra World Shopping), André Tissot (Grupo Serra), Marco Aurélio Raimundo (Mormai) e Afrânio Barreira (Coco Bambu).

Empresários falam em “liberdade” e dizem que estão "tranquilos”

Por meio de nota oficial, Luciano Hang fala em “liberdade de expressão" e diz estar “tranquilo”.

“Sigo tranquilo, pois estou ao lado da verdade e com a consciência limpa. Desde que me tornei ativista político prego a democracia e a liberdade de pensamento e expressão, para que tenhamos um país mais justo e livre para todos os brasileiros. Eu faço parte de um grupo de 250 empresários, de diversas correntes políticas, e cada um tem o seu ponto de vista. Que eu saiba, no Brasil, ainda não existe crime de pensamento e opinião. Em minhas mensagens em um grupo fechado de WhatsApp está claro que eu nunca, em momento algum falei sobre Golpe ou sobre STF. Eu fui vítima da irresponsabilidade de um jornalismo raso, leviano e militante, que infelizmente está em parte das redações pelo Brasil”, diz o texto.

Já o empresário se manifestou por meio do advogado Daniel Maia. Ele disse que a operação desta terça é “fruto de perseguição política e denúncias falsas, as quais não têm nenhum fundamento”. Afirmou ainda que o cliente está “absolutamente tranquilo e colaborando com a busca da verdade, a qual resultará no arquivamento da investigação”.

O advogado de Ivan Wrobel informou, também em nota, que o cliente tem “histórico de vida completamente ligado à liberdade”. “Em 1968 foi convidado a se retirar do IME por ser contrário ao AI5. Nada na vida dele pode fazer crer que o posicionamento daquele momento tenha mudado. Colaboraremos com o que for preciso para demonstrar que as acusações contra ele não condizem com a realidade dos fatos”, informou.

A defesa de Marco Aurélio Raymundo informou que o cliente “ainda desconhece o inteiro teor do inquérito, mas se colocou e segue à disposição de todas autoridades para esclarecimentos”.

A assessoria de comunicação de Luiz André Tissot informou que a empresa e o empresário não irão se manifestar sobre o tema.

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