Eleições 2022

Moro e partido trocam acusações de corrupção e ex-juiz ataca antigo aliado

Podemos, que lançaria o ex-juiz da Operação Lava Jato à Presidência da República, diz que ele usou dinheiro público para beneficiar um amigo, dono de uma consultoria jurídica


Publicado em 31 de agosto de 2022 | 09:08
 
 
 
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Antigos aliados, Sérgio Moro (União Brasil) e o senador Alvaro Dias (Podemos) agora trocam acusações diversas, em meio à disputa pela única vaga no Senado pelo Paraná. Em outra frente, o Podemos, legenda que lançaria o ex-juiz da Operação Lava Jato à Presidência da República, diz que ele usou dinheiro público para beneficiar um amigo, dono de uma consultoria jurídica. O partido quer a restituição de valores, enquanto o ex-ministro da Justiça afirma que a sigla pratica corrupção e lavagem de dinheiro.

A disputa entre Moro e Dias já parou na Justiça. O ex-juiz acionou o senador no Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR)  para derrubar a veiculação de uma propaganda eleitoral do parlamentar, supostamente irregular. O caso foi aberto na noite de terça-feira (30). Dias foi maior entusiasta da entrada de Moro na política e defensor ferrenho da Lava Jato, mesmo quando a operação vivia a derrocada por causa das acusações de parcialidade e outras irregularidades. 

O senador queria Moro como candidato a presidente, mas, com as fracassadas tentativas de lançar seu nome no Podemos e o veto da Justiça Eleitoral à candidatura ao Senado do ex-juiz por São Paulo – ele não comprovou domicílio no estado –, Moro decidiu concorrer ao mesmo cargo pelo Paraná, onde Álvaro Dias sempre atuou politicamente. 

No caso da ação de Moro contra Dias, o advogado do ex-juiz diz que o senador enviou a emissoras de rádio peça com resultados da pesquisa Ipec (antigo Ibope) sem citar todos os dados previstos em lei. Não houve, segundo a ação, alusão ao período em que foi feito o levantamento, número de entrevistados nem margem de erro. A defesa pede a suspensão da divulgação, sob pena de multa de R$ 5 mil.

Conforme a pesquisa Ipec citada por Dias, ele lidera a corrida pelo Senado com 35% da preferência do eleitorado paranaense. Já Moro tem 24% e Paulo Martins, do PL de Jair Bolsonaro, 4%. 

Podemos diz que Moro usava dinheiro do Fundo Partidário para comprar artigos de luxo

O Podemos, que pretendia lançar Moro como candidato a presidente do Brasil – ele se filiou em novembro de 2021, em evento com tom de campanha –, também acusa o ex-ministro da Justiça do governo Bolsonaro de exigir que o Fundo Partidário fosse usado para pagar personal stylist, alfaiataria, roupas, sapatos e óculos de grife, entre outros itens e “hábitos de luxo”. Moro negou tudo.

“É uma clara prática da velha política. Cortina de fumaça para esconder o principal: os indícios de corrupção e lavagem de dinheiro envolvendo a alta cúpula do Podemos, encontrados e formalizados no relatório de auditoria que foi revelado pela revista Veja. A falta da tomada de qualquer providência pelos dirigentes e o fim prematuro da auditoria determinaram a minha saída do partido”, disse o ex-juiz ao Estado de S. Paulo.

De acordo com Moro, o assunto era conhecido também por Álvaro Dias. “Decidiram não tomar qualquer medida após o resultado preliminar. Essa é a principal razão que me levou a sair do partido”, afirmou Moro. O senador informou, por meio de sua assessoria, que não integra a direção do Podemos e quem pode comentar o assunto é a presidente da legenda, deputada Renata Abreu, e o próprio partido.

Amigo de Moro recebeu R$ 60 mil de sigla para colaborar com programa de governo

O aliado do ex-juiz no centro da briga com o Podemos é Luis Felipe Cunha, primeiro-suplente ao Senado na chapa do ex-ministro. Amigo do ex-juiz há mais de uma década, Cunha é dono da consultoria Bella Ciao, que recebeu R$ 60 mil do partido para colaborar na elaboração do programa de governo do então presidenciável. Segundo a legenda, o serviço não foi prestado e ainda acusa Cunha de ter tentado buscar outras formas de receber dinheiro do Fundo Partidário.

“A despeito de todo e qualquer pedido, o Podemos jamais aceitou pagar qualquer despesa pessoal do senhor Sérgio Moro. Além disso, não admite a manutenção de contratos que não tenham comprovação de execução. A não entrega de relatórios de prestação de serviços foi a razão da suspensão de pagamentos à consultoria do Bella Ciao, cujo sócio é Luis Felipe Cunha, indicado pelo senhor Sérgio Moro como seu assessor direto”, disse o Podemos, por meio de nota oficial.

O partido afirmou, ainda, que Cunha queria fechar um segundo contrato por meio de seu escritório de advocacia Vosgerau e Cunha Advogados Associados, mas o pedido teria sido negado, segundo a legenda, “por inexistir objeto para o serviço”.

Pìvô da briga, amigo de Moro tinha como cliente a Petrobras, investigada na Lava Jato

Especialista em contencioso, Cunha teve em sua clientela a Petrobras – que esteve no centro da Lava Jato –, o Sesc de Brasília e jogadores de futebol. Ele entrou na campanha pré-campanha de Moro à Presidência em meados de dezembro, quando o ex-juiz começava a se distanciar da cúpula do Podemos.

Com a chegada de Cunha, começou uma disputa por dinheiro entre a equipe do ex-ministro e a presidente do Podemos, Renata Abreu. O partido se comprometeu a dar R$ 40 milhões para a campanha de Moro. Integrantes da legenda afirmaram ao Estado de S. Paulo que Moro e Cunha pediam R$ 70 milhões. 

“Em nome de Moro, Luis Felipe Cunha fazia questão de mostrar as notas de alto valor ao Podemos, para pressionar por mais pagamentos. Ele chegou a preparar mais um contrato também no valor de R$ 30 mil, justificando ‘ser caro a manutenção do estilo de vida de Sergio’”, disse o Podemos, também na nota.

“Aliás, a decisão de filiação de Moro ao Podemos começou no estilo ‘proposta indecente’: que o partido custeasse um salário de R$ 40 mil – remuneração de ministro do STF – e pelo prazo de quatro anos, a pretexto de lhe garantir segurança familiar e o luxo ao qual está habituado, caso o projeto eleitoral naufragasse”, completou o partido.

Moro negou que tenha pedido ou recebido desembolso, mas admite que a empresa do aliado recebeu recursos do Podemos. “Bella Ciao foi a consultoria que auxiliou o partido na formulação do plano de governo, tendo recebido parcialmente pelos serviços prestados”, afirmou.

Moro diz que partido tinha rede de captação ilegal de dinheiro

Moro diz que as acusações do Podemos se devem ao fato dele não ter aceitado a existência de uma suposta rede de captação ilegal de dinheiro que envolveria a cúpula do partido. Segundo reportagem da Veja, a investigação teria sido feita de maneira sigilosa e o caso batizado de Operação Cerrado. O documento final da auditoria, que foi obtido pela revista, teria sido apresentado por uma empresa de compliance que Moro alega ter exigido a contratação.

Os auditores listam operações “estranhas” e coincidências como a de uma funcionária do partido que montou uma empresa de transporte e em seguida assinou contrato com uma prefeitura do interior de São Paulo na base da presidente da sigla, Renata Abreu. 

O partido rebateu: “Inicialmente é necessário informar, corretamente, que a conclusão da auditoria interna foi de que não há qualquer irregularidade no Podemos, sendo que o resultado foi apenas consolidado pela empresa em 21 de julho, muito tempo após a saída de Sérgio Moro do partido que ocorreu em março”.

Antigo marqueteiro de Moro acusa calote e agora trabalha para Tarcísio de Freitas

O suplente de Moro no Paraná foi decisivo na contratação da agência que atendeu o Podemos na pré-campanha, na qual trabalhava o marqueteiro Pablo Nobel. Ele assumiu a pré-campanha do ex-juiz, mas ficou sem receber após a ida dele para o União Brasil e por isso recorreu à Justiça. Hoje, Nobel atua na campanha de Tarcísio de Freitas (Republicanos), candidato a governador de São Paulo apoiado por Bolsonaro – Tarcísio era ministro da Infraestrutura do atual governo.

Cunha era figura presente em reuniões estratégicas de pré-campanha no Hotel Intercontinental, em São Paulo. Custeado pelo partido para hospedar Moro, o estabelecimento também foi palco da reunião que selou a ida do ex-juiz para o União Brasil.

Ao Estado de S. Paulo, o advogado disse que sua empresa foi contratada pela Fundação Podemos para “elaborar um projeto de melhorias para o País, visando subsidiar uma possível candidatura presidencial”, mas que o partido ainda está devendo pelos serviços prestados. 

“O trabalho vinha sendo desenvolvido regularmente com a previsão de pagamentos mensais. Entretanto, somente as duas primeiras parcelas referentes à prestação do serviço foram efetivamente quitadas”, disse.

Cunha afirmou, ainda, que a “situação de inadimplência” teria afetado outros prestadores de serviços contratados pelo Podemos no período. Segundo o advogado, a equipe de marketing contratada não foi remunerada pelo trabalho referente a propagandas partidárias veiculadas. (Com Estadão Conteúdo)

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