A partir desta quinta-feira, o Circuito Urbano de Arte (CURA) volta a ser realizado na praça Raul Soares, na região central de Belo Horizonte, onde tem concentrado suas ações desde 2021. Detalhe: em sua 8ª edição, o evento terá elenco totalmente feminino.
Neste ano, o projeto deixa como legado mais três murais em fachadas cegas de prédios da capital mineira, sendo que todos podem ser avistados a partir da Raul Soares – tudo a ver com a missão do CURA, que, desde sua fundação, se propõe a criar mirantes de arte na cidade.
Entre as responsáveis pela empreitada está a belo-horizontina Clara Valente, anfitriã da vez, que já participou da criação de trabalhos em outras edições do evento, como artista assistente de outras criadoras. Desta vez, ela será responsável pela pintura do Edifício Claro (rua Espírito Santo, 1.000).
A indígena Liça Pataxoop, educadora e liderança da aldeia Muã Mimatxi, em Itapecerica, no Centro Oeste de Minas, vai atuar no Edifício Leblon (avenida Amazonas, 1.054), onde imprime no lugar um símbolo do seu povo, os tehêys, que são como redes, armadilhas tecidas com corda de tucum e cipó, utilizados especialmente pelas mulheres e crianças pescarem nos rios.
Já Bahati Simoens, nascida no Burundi, com descendência congolesa e belga, estando, atualmente, radicada na África do Sul, que, em BH, leva seu traço no Edificio D'Ávila (rua Guaranis, 590), onde ela apresenta a obra “Você não pode chorar se está rindo” (You can’t cry if you’re laughing), que faz parte da série “Papai nunca chegou com flores” (Daddy never came with flowers).
Na atual edição, o evento conta também com a instalação brincante concebida pela arquiteta Isabel Brant, da Mutabile Arquitetura. “Com o nome de 'Brincacidade', a obra propõe transformar a Praça Raul Soares em um espaço onde as crianças possam brincar. Ao reivindicar o espaço público como um lugar de vida, a instalação desafia a lógica que prioriza os carros e o capital, propondo uma cidade pensada para as pessoas”, detalham as organizadoras do CURA.
Vale dizer, a curadoria do festival, como ocorre tradicionalmente, também é assinada inteiramente por mulheres, reunindo a pesquisadora de arte Flaviana Lasan, e as fundadoras do projeto, Janaína Macruz, Juliana Flores e Priscila Amoni.
Repensar a cidade
Ainda conforme as realizadoras, a edição de 2024 convida a comunidade a repensar como os espaços públicos podem ser vividos e ocupados, propondo uma visão que coloca a imaginação como o primeiro passo para a ação.
“Este ano, a provocação é clara: e se a praça fosse mais que uma rotatória, fosse mais do que apenas um lugar de passagem? E se ela pudesse se transformar em um verdadeiro parque, um espaço de convivência que acolhesse mães, crianças e idosos? O CURA 2024 propõe uma transformação do espaço urbano em um ambiente de pertencimento e permanência”, descreve o quarteto curador, que prossegue levantando outras questões.
“Como seriam as cidades se fossem regidas por tradições matriarcais? Que formas tomariam seus espaços públicos? Essa reflexão amplia as possibilidades de reinvenção dos territórios urbanos e convida à imaginação coletiva de novas formas de convivência e vida em comunidade”, apontam.
Números e histórico
Idealizado por Janaina Macruz, Juliana Flores e Priscila Amoni, o CURA presenteou BH com o primeiro Mirante de Arte Urbana do mundo na Rua Sapucaí.
Depois, a iniciativa seguiu com edições itinerantes. Tanto que, ultrapassando as fronteiras municipais e regionais, chegou, em 2023, a Manaus, onde está construindo um mirante de arte indígena em prédios na capital amazonense.
Veja alguns números do festival em BH:
- Ao todo, em sete edições, a última delas em 2022, o CURA já realizou 25 obras de arte em fachadas, empenas e também no chão;
- Desse conjunto de obras, 18 estão na região do hipercentro da capital mineira e quatro na região da Lagoinha;
- Esta é a maior coleção de arte mural em grande escala já feita por um único festival brasileiro.
SERVIÇO:
O quê. 8ª edição do CURA - Circuito Urbano de Arte
Quando. A partir de 24 de outubro. Até 3 de novembro.
Onde. Praça Raul Soares
Quanto. Gratuito