Um pedacinho do Amapá será transportado para Belo Horizonte a partir desta quarta-feira (13). A mostra “Quilombo Groove – Preces, Louvores e Batuques do Quilombo do Curiaú” chega ao CCBB-BH, trazendo expressões artísticas que representam a cultura do Estado do Norte do país, oferecendo atividades como oficinas, contações de história, exposição fotográfica e shows.
Produtor e curador do evento, Cláudio Silva salienta porque é tão importante apresentar à capital a rica cultura do Estado amapaense. “A base do nosso projeto é o marabaixo, dança de origem africana que retrata o sofrimento dos negros trazidos da África, que foi reconhecido em 2018 pelo Iphan como patrimônio cultural imaterial do Brasil. É importante empoderar esse assunto porque é uma referência cultural do país”, assinala.
Além do marabaixo, o batuque, expressão religiosa festiva, também ganha destaque na programação da mostra. A junção das duas manifestações artísticas deu origem ao Quilombo Groove, que celebra a ancestralidade afro-brasileira por meio da música, das danças e vivências que se conectam ao quilombo Curiaú, comunidade do Macapá, onde vivem famílias remanescentes de quilombolas.
“Estrela principal da mostra, o Grupo Raízes do Bolão, que vive no quilombo e é uma das maiores referências da cultura do Amapá, buscou atrações musicais que dialogam com essa história. O principal foco da mostra é destacar a importância do negro no desenvolvimento social do Brasil a partir do marabaixo, e isso vai além da estética musical”, pontua Silva.
No processo de curadoria, Silva prezou pela escolha de obras artísticas que celebrassem a cultura amapaense na totalidade e que pudesse ser comportadas em um espaço como o CCBB-BH. “Quisemos representar a dança e a literatura, por meio das contações de histórias. Nosso processo curatorial focou nas manifestações da cultura negra, e isso se reflete nas atrações musicais, que são o carro-chefe da mostra. Mas além da música, esse evento apresenta diversas manifestações culturais do Amapá, em uma rica cartografia cultural”, comenta.
O destaque da programação, portanto, fica com as atrações musicais. Os últimos quatro dias do festival são dedicados às produções sonoras feitas pelos amapaenses. “O público que deseja interagir e compreender a música poderá tecer diálogos com os 25 artistas participantes. Haverá vivências sobre o batuque, abordando o processo de produção dos instrumentos, além de rodas de conversa com personalidades da música amapaense e referências étnico-raciais. Além disso, uma surpresa foi preparada para o evento em BH: o grupo Raízes do Bolão realizará uma vivência com a Irmandade do Rosário Os Ciriacos, de Belo Horizonte. Dependendo da sintonia dos grupos, eles se apresentarão juntos ao final da mostra”, destaca o curador.
Dentre os músicos, está Jorge Filipe Silva de Araújo, o Pretogonista. De Macapá, ele fará um show de rap, na próxima segunda-feira (18), trazendo influências da sua cidade-natal. “Costumo falar sobre a sociedade e dos problemas que ela enfrenta, mas também gosto de cantar o empoderamento negro, a ancestralidade e o regionalismo do Amapá, incluindo marabaixo e batuque, que são muito fortes na minha música. Faço essa mistura, acrescentando ainda elementos de rock, blues, reggae, samba, entre outros”, comenta o artista.
Pretogonista, a propósito, vem de uma família que sempre valorizou a cultura local. Ele é filho de MC Popa, fundador do primeiro grupo de rap do estado, o C.R.G.V - Pororoca Sonora, e neto de cantores. “Desde que me conheço por gente, escuto o rap. Meu pai sempre me levou aos ensaios e aos eventos que ele participava. Além do meu pai ser o fundador do primeiro grupo de rap, ele é filho de artistas: minha avó cantava samba e marabaixo, e o meu avô cantava samba e bolero. Minha bisavó, por sua vez, era do marabaixo”, revela.
Veja detalhes da programação
A programação da mostra “Quilombo Groove – Preces, Louvores e Batuques” começa nesta terça-feira (13) com a contação de histórias “Histórias do Meu Quilombo”, às 11h, seguida da abertura da exposição “Preces, Louvores e Batuques”, do artista Paulo Rocha. Também na terça, haverá a vivência “Percursos Sonoro Coreográficos Acerca do Marabaixo Mediador”, ministrada por Adelson Preto, às 15h. No dia seguinte (14), a programação conta novamente com “Histórias do Meu Quilombo”, em sessões às 11h e às 15h, seguida pela vivência de Pedro Bolão, “Percursos Sonoro Coreográficos Acerca do Batuque”, às 16h.
A programação continua com diversas atividades nos dias seguintes. Na sexta-feira (15), às 15h, acontece a “Oficina de Percussão”, ministrada por Nena Silva e Ismael Biluca, e shows de Capitão Pupunha e Paulinho Bastos, às 20h. No sábado (16), às 15h, Pedro Bolão realiza a “Oficina de Confecção de Instrumentos com Materiais Recicláveis”, seguida de shows de MC Deeh e Brenda Melo a partir das 20h.
No domingo (17), às 11h, ocorre a “Roda de Conversa: Interferências Étnico-Raciais na Música Amapaense”, mediada por Alan Gomes, Hian Moreira e Edson Costa, e, às 20h, shows da cantora Sabrina Zahara e da Banda AfroBrasil. No último dia (18), o “Intercâmbio Troca de Saberes” será promovido pelo Grupo Raízes do Bolão, com a participação da Irmandade do Rosário Os Ciriacos, e uma degustação de Gengibirra às 19h. A partir das 20h, a programação de encerramento conta com um cortejo afro e a apresentação especial do Grupo Raízes do Bolão e da Irmandade do Rosário, celebrando o encontro entre as culturas negras mineira e amapaense.
SERVIÇO
O quê. Mostra “Quilombo Groove – Preces, Louvores e Batuques do Quilombo do Curiaú”
Quando. Desta quarta-feira (13) a 18 de novembro (segunda), de quarta a segunda, das 10h às 22h
Onde. Centro Cultural Banco do Brasil Belo Horizonte (praça da Liberdade, 450, Funcionários)
Quanto. Gratuito, disponíveis em ccbb.com.br/bh