“O 150º aniversário da imigração italiana no Brasil não se limita à recordação da chegada dos primeiros migrantes italianos ao país, em 1874, quando o grupo desembarcou do La Sofia em Vitória, capital capixaba. A data, afinal, serve também, e sobretudo, para celebrar uma longa e rica história, valorizando a influência e a importância que essa presença teve para a criação da sociedade brasileira contemporânea”. A avaliação é da cônsul geral da Itália em Belo Horizonte, Nicoletta Gomeiro. Para ela, a imigração italiana no Brasil, de fato, é parte integrante da sociedade brasileira atual, além de constituir uma das maiores comunidades italianas fora da Itália – “uma comunidade que deixou uma marca duradoura na economia e na cultura do país”, aponta.
Nesse contexto, prossegue, Belo Horizonte representa “uma cidade-símbolo para a valorização desse contributo em todas as suas múltiplas formas, sendo uma cidade moderna em que a influência italiana esteve presente desde sua fundação e construção”. Nada mais apropriado, portanto, que esse marco histórico ocupe lugar na agenda cultural da cidade, como propõe o Festival de História (fHist), que, em sua oitava edição, volta-se justamente à celebração dessa centenária comunhão ítalo-brasileira, com atividades e atrações se desenrolando entre os dias 28 e 30 deste mês, nos jardins do Palácio das Artes e Teatro João Ceschiatti. O festival conta com o patrocínio da Sada. “Será um evento a 360°, que abordará a história da comunidade ítalo-brasileira em Minas Gerais sob todos os aspectos”, detalha a cônsul geral.
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Animada, ela lembra que atividades práticas também ocupam a grade do festival, incluindo desde demonstrações culinárias e workshops de língua italiana até espetáculos de teatro e aulas de esgrima histórica italiana. “Os produtos italianos estarão presentes na feira gastronômica, e haverá degustações e apresentações gastronômicas de renomados chefs que virão especialmente da Itália. Haverá uma feira do livro com uma seleção de publicações sobre os temas do evento e algumas apresentações por parte de autores”, detalha, ressaltando que o fHist trabalha para reunir atividades para todos os gostos.
Entre os espetáculos, entram em cena a Fundação Torino, com uma apresentação de teatro de marionetes, e os grupos Música Figurata e Viva Napoli, com shows nos dias 29 e 30, respectivamente. Já nos showcookings, em que chefs vão preparar pratos na frente dos comensais, dando ares de espetáculo ao processo culinário, participam os chefs Angela Daniele, Giuseppe e Massimo Buschini e o pizzaiolo Simone Piranda.
Complementando as atrações, uma feira gastronômica convida o público a degustar iguarias tradicionais do país homenageado enquanto acompanha mesas, debates, palestras e oficinas. Nas tendas, dispostas nos jardins do Palácio das Artes, a mais tradicional casa de doces italianos de BH, a Mole Antonelliana, dirigida por Lorena Cozac; a Aromi Toscani, que, vinda do Sul de Minas, apresenta a culinária tradicional italiana e antigas receitas de “famiglia”; e, claro, o vinho também se faz presente com a Liber Wines, uma importadora que, fundada em 2019, nasceu do respeito e da admiração às seculares vinícolas italianas.
“BH é uma cidade que tem uma forte influência italiana”
Além das atividades práticas, o fHist que celebra as conexões ítalo-brasileiras apresenta uma programação de mesas-redondas temáticas, discutindo aspectos que vão da invenção de Belo Horizonte à história da produção de café e das rotas da migração italiana à importância da memória coletiva. “E, para valorizar aquelas inúmeras histórias de famílias italianas transmitidas de geração em geração com tanta emoção, durante o evento será possível coletar testemunhos históricos do público no ‘espaço da memória’ que será montado para a ocasião”, acrescenta Nicoletta Gomeiro.
Sobre a presença italiana na cartografia e história belo-horizontina, participam da conversa Anísio Ciscotto, historiador e escritor, Leonardo Castriota, arquiteto-urbanista e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e Robson Bessa, doutor em teoria da literatura e literatura comparada pela mesma instituição. Já a tradição cafeeira vai ser discutida, entre outros convidados, por Carlos Eduardo Rovaron, mestre e doutor em história econômica pela Universidade de São Paulo (USP). Por sua vez, as rotas da imigração são o assunto da conversa de Dalmo Ribeiro Filho, autor dos livros “Roteiros Nacionais de Imigração – Santa Catarina” e “O Patrimônio do Imigrante”, Vitória Fonseca, historiadora, pesquisadora de histórias em redes e professora da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha (UFVJM), e do jornalista Fernando Fabbrini.
Em conjunto, os debates se alinham a uma das ideias centrais da edição especial do fHist, que pretende abordar um tema amplo de forma multidisciplinar e democrática, “dando ao público a oportunidade de entrar em contato com aqueles fragmentos da cultura italiana que já podem ser considerados quase fundidos à mineira”, define Nicoletta. E a realização de uma mesa dedicada a falar das contribuições italianas e italodescendentes para a invenção da capital do Estado, claro, não acontece por acaso.
“BH é uma cidade que tem uma forte influência italiana, como exemplificam o estilo arquitetônico, o estilo musical e cultural, a gastronomia, assim como a estrutura econômico-industrial. Existem laços muito fortes entre Belo Horizonte e Itália, assim como entre Minas Gerais e Itália”, opina a cônsul, complementando que, ao longo dos últimos anos, instituições como a escola italiana Fundação Torino e a Casa Fiat de Cultura têm contribuído diariamente para manter vivo esse vínculo. “Mas os contatos e as trocas com a Itália são reavivados a todo momento por uma infinidade de interações que ocorrem em nível familiar, comercial, cultural, acadêmico etc. Nesse sentido, o objetivo do fHist em BH é dar destaque a esse laço, intenso e constante”, estabelece.
SERVIÇO:
O quê. Festival de História (fHist): Conexões Ítalo-Brasileiras
Quando. De 28 a 30 de novembro
Onde. Palácio das Artes (avenida Afonso Pena, 1.537, centro)
Quanto. A entrada e as atividades são gratuitas. Programação completa e mais informações no site do Festival de História