O número mais importante para Zeca Pagodinho não são os 40 anos de carreira, nem os 65 de vida, muito menos os incontáveis prêmios e discos vendidos, mas o do sétimo neto que está a caminho. “Quero mais é colocar um colchonete na sala e ficar no meio de todos eles”, confirma o sambista. O sentimento está alinhado à vontade de “diminuir o ritmo de trabalho e passar mais tempo” com a família. 

Antes disso, porém, Zeca se apresenta em Belo Horizonte numa sessão dupla, nesta sexta (22) e sábado (23), com o espetáculo que comemora a sua longeva e rica trajetória em cima dos palcos, já devidamente registrado para gerar DVD e programa de TV, com o anfitrião recebendo amigos como Seu Jorge, Xande de Pilares, Alcione, Jorge Aragão e Iza, dentre outros.

A comunhão, aliás, sempre foi uma característica da personalidade de Zeca, nascido e criado musicalmente no seio do pagode Cacique de Ramos onde, no início da década de 1980, foi descoberto pela madrinha Beth Carvalho, ao lado de bambas da estirpe de Almir Guineto, Jovelina Pérola Negra, Arlindo Cruz e Beto Sem Braço, estes dois últimos parceiros em “Camarão Que Dorme a Onda Leva”. 

Estrelato

Foi com a canção que o esguio garoto de Xerém, na zona Norte do Rio de Janeiro, ouviu pela primeira vez sua voz rodar em uma bolacha, ao participar do LP “Suor no Rosto”, lançado por Beth Carvalho em 1983. “Eu queria ser compositor, ouvir meus sambas sendo cantados por outras pessoas nas rádios”, diz Zeca, que atribui a mudança de rumo a Beth Carvalho.

Ao convidá-lo para assistir a um show, a intérprete de “Andança” aprontou das suas. “Ela me jogou no palco”, diverte-se o sambista, que, na sequência, gravou um clipe no “Fantástico” cantando com Beth, o que, na época, representava ter as portas abertas para o estrelato. 

“Dali em diante, virei o Zeca Pagodinho”, sustenta aquele que, na carteira de identidade, atende pela alcunha de Jessé Gomes da Silva Filho, e, no dia a dia, despido de qualquer glamourização imposta pelo showbiz, atua como um cidadão comprometido com a realidade que o cerca. “Me preocupo muito com as crianças, com a educação, a saúde e a dignidade que elas precisam ter. Eu faço a minha parte dando oportunidade e apoio para mais de 350 crianças no Instituto Zeca Pagodinho”, afiança.

Cidadania

Em seu instituto, as crianças “aprendem música, informática, artesanato e muitas outras coisas”. “Se cada um que pudesse fizesse um pouco, faria uma diferença”, aposta Zeca. Na casa do artista, a riqueza era justamente a música. “A minha família sempre foi muito musical, lembro das cantorias, das serestas onde todos cantavam, meu tio, que também tocava violão, minha mãe, minha tia, minhas irmãs. Eu era moleque e ficava prestando atenção e curtindo aquilo tudo”, recorda Zeca. 

Quando receber a plateia para mais um capítulo dessa história, as lembranças prometem tomar conta do encontro. Clássicos como “Deixa a Vida Me Levar”, “Verdade”, “Seu Balancê”, “Vai Vadiar”, “Lama nas Ruas”, “Judia de Mim” e “Maneiras” já se tornaram atemporais. “Algumas coisas mudaram, outras permaneceram. Não paro para pensar nisso”, garante Zeca, que, atualmente, tenta “cuidar melhor da saúde”. “Tinha gente que achava que eu não chegava nem aos 30, mas estou aí firme e forte”, provoca. 

Legado

A resistência do compositor pode ser comparada ao próprio samba que, como vaticinou Nelson Sargento, “agoniza, mas não morre”. “O samba está sempre aí, né?”, resume Zeca, acostumado a seguir obstinadamente sua “intuição”. “Não existe receita de sucesso, tem que ser música boa”, acredita. 

Sem querer citar os “muitos ídolos” e possíveis herdeiros, “para não correr o risco de esquecer ninguém”, Zeca nada na contramão de um mundo hiperconectado, em que os algoritmos ditam o ritmo. “Não entendo disso, tenho uma equipe que trabalha para mim e cuida desta área”, afirma o avô que não cansa de se espreguiçar entre os netos, deixando-se levar por essa vida…

Serviço

O quê. Show “Zeca Pagodinho – 40 Anos”

Quando. Nesta sexta (22) e sábado (23), às 22h

Onde. BeFly Hall (av. Nossa Senhora do Carmo, 230, Savassi)

Quanto. A partir de R$120 pelo site www.ticket360.com.br ou na bilheteria