Uma placa avisa que há uma sala secreta no Palácio da Alvorada, cenário principal do filme ”Caindo na Real”, em cartaz nos cinemas. O tal compartimento nunca aparece e, se indagarmos ao diretor André Pellenz sobre o motivo da inclusão da cena, ele simplesmente irá dizer “não sei”. Fã de comédias tresloucadas, como as assinadas pelo trio ZAZ (David Zucker, Jim Abrahams e Jerry Zucker) na década de 1980, o realizador brasileiro confessa que caprichou nas sequências absurdas do longa, que tem Evelyn Castro e o cantor Belo como protagonistas.
“Minha referência nesse filme é ‘Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu!’, é ‘Top Secret!’, é o cinema dos irmãos Zucker, completamente surtado. Não sei como os produtores me suportaram, porque o filme tem muita piada visual”, observa Pellenz, o mesmo diretor de “Minha Mãe é uma Peça”, um dos grandes sucessos do cinema brasileiro. Ele cita a recriação da piada do grilo que faz “cricri” em "Top Secret!". O som para ou continua de acordo com o movimento do personagem. O mesmo acontece durante a execução de uma música em “Caindo na Real”.
“Aí você pergunta ‘De onde vem essa música?’. Não sei. Se também me perguntar a razão de o mordomo ser vampiro, também não vou saber. Talvez porque tenha achado legal (risos). No roteiro, não tinha isso, mas quando o (ator) Carlos Moreno surgiu na minha frente, eu falei: ‘Esse cara tem que ter algo a mais’. É um filme que se permite não ser levado a sério, enquanto tem uma história muito séria por trás”, salienta. A trama parte do retorno da monarquia no país, quando uma funcionária de uma lanchonete de subúrbio descobre ser o primeiro nome da linhagem real.
O filme, frisa Pellenz, passa longe de querer defender a monarquia. “Dito isso, nos permitimos relaxar. É uma grande brincadeira que tem um fundo de verdade permanente. As pessoas tendem a se encantar, achando que, por ser a rainha, ela pode resolver tudo, mas não. Por melhor que seja a pessoa, ninguém pode”, pondera. Na história, a personagem de Evelyn Castro assume o trono, passando a se tornar vítima das artimanhas de sua, até então desconhecida, família real e de políticos que promoveram um grande golpe com a volta do regime.
“O segredo desse filme é não se levar muito a sério. Acho que a comédia brasileira está se levando a sério demais. A gente inaugurou a comédia sem graça. Estamos com um problema sério. Acho ‘Caindo na Real’ uma comédia engraçada. Você pode achar o filme ruim, mas em algum momento irá rir. Ele não tem medo de ser comédia. É infame mesmo”, destaca Pellenz, que foi bastante influenciado por um livro recebido três meses antes do início das filmagens, sobre os 40 anos de “Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu!”.
“O livro mexeu comigo. Revi o filme e percebi o quanto os caras não levavam a sério. Ao mesmo tempo, era tudo muito trabalhado. O som do nosso filme, por exemplo, tem piada de ruído”, sublinha Pellenz, que coleciona sucessos em sua trajetória de 12 anos por trás das câmeras. Nesse período, ele realizou oito longas, entre eles o infantil “DPA - Detetives do Prédio Azul”, além de “Minha Mãe é uma Peça”, que levou 4,7 milhões de espectadores aos cinemas em 2013 e ganhou duas continuações igualmente bem-sucedidas.