O ponto em comum entre “Queer”, cartaz a partir de hoje nos cinemas, e os filmes anteriores de Luca Guadagnino é a maneira como conecta as histórias a alguns códigos homossexuais masculinos. Ele pode ser muito bem definido como o Rainer Werner Fassbinder do século 21, só que menos frio e intelectualizado.

“Queer” é bem diferente de “Me Chame pelo Seu Nome” e “Os Rivais”. São projetos estéticos diferentes, mas estão ligados por seus personagens gays, mostrados em fases de vida diversas. Há desde a iniciação homossexual vivida por um jovem em “Me Chame pelo Seu Nome” ao gay sessentão de “Queer”.

É como se Guadagnino estabelecesse uma linha cronológica, tentando radiografar questões importantes dentro do universo gay, apesar de as histórias e os personagens não guardarem grandes ligações entre si. E por isso que é tão próximo de Fassbinder, que bebeu em várias fontes para a construção de sua filmografia.

“Queer” é muito fiel à sua origem, baseada em obra homônima do escritor beat americano William Burroughs, que tem um estilo delirante e metafísico, ancorado em personagens obsessivos e viciados em drogas. O Lee interpretado por Daniel Craig nos chega assim, como protagonista de um grande ato de desespero.

Lee está muito distante da doçura romântica de Elio, em “Me Chame pelo Seu Nome”, e da engraçada disputa entre Art e Patrick, em “Rivais”. Não é fácil simpatizar com ele, porque suas atitudes obsessivas põem quase tudo a perder, como um inepto vampiro querendo tirar o sangue de jovens desavisados em plena luz do dia.

Enquanto em “Me Chame” tudo acontece de forma poética, como deve ser nos primeiros amores, a narrativa em “Queer” é marcada por rupturas, expressas no jeito sempre nervoso e abrupto de Lee. E não há nada muito glamouroso na calorenta cidade mexicana, diferentemente do paraíso italiano do primeiro.

Outra conexão entre Guadagnino e Fassbinder é a questão dos duplos, evidente em “Queer” quando Lee e seu namorado praticamente se fundem, numa sequência muito bem executada, após tomarem ayahuasca no Equador. Um universo psicodélico próprio de Burroughs, mas que traz a assinatura inebriante do diretor italiano