Aposta na ficção e nos encantamentos como ferramenta para transformar o mundo, disputa por ideias de terra e território, imaginário e cultura populares e, ainda, o desejo de discutir o papel do trabalho e das instituições marcam fortemente a exposição 9ª Bolsa Pampulha: Camará, resultado da residência artística do Museu de Arte da Pampulha (MAP).

Com abertura marcada para o dia 18 de dezembro, a partir das 10h, nas Galerias do Térreo do Centro Cultural do Banco do Brasil Belo Horizonte - CCBB BH, a mostra apresenta obras desenvolvidas pelos onze bolsistas participantes do programa, provenientes das cinco regiões do Brasil.

Sob curadoria de Juliana Gontijo e Pollyana Quintella, a exposição é composta por pinturas, instalações, vídeos, esculturas e objetos, que escavam histórias da cidade, das lutas ambientais, da incidência de raios, dos fluxos que cruzam as novas formatações de trabalho e controle, de processos conceituais e modos de vida, das maternidades, dos patrimônios imateriais e manifestações de fé, dentre tantas outras. 

Realizada pela Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Secretaria Municipal de Cultura e da Fundação Municipal de Cultura, em parceria com o Viaduto das Artes e apoio do Centro Cultural do Banco do Brasil Belo Horizonte - CCBB BH, a exposição 9ª Bolsa Pampulha: Camará ficará em cartaz até 24 de fevereiro de 2025, de quarta a segunda, das 10h às 22h.

No dia da abertura, às 19h, também haverá uma palestra com as curadoras e com os tutores Froiid e Lucas Menezes. Ainda ao longo do período expositivo, atividades e palestras ajudarão o público a compreender o processo curatorial e de desenvolvimento das obras. Toda programação é gratuita.

Uma das principais iniciativas do Museu de Arte da Pampulha, instituição vinculada à Fundação Municipal de Cultura de Belo Horizonte, o Bolsa Pampulha reforça o museu como espaço de formação, pesquisa e experimentação junto à comunidade artística local e nacional, algo testemunhado ao longo das edições anteriores.

O programa de residência reuniu em sua 9ª edição, de abril a outubro de 2024, onze bolsistas, sendo dez artistas: Ana Raylander Mártis dos Anjos, André Felipe Cardoso, Anti Ribeiro, Dyana Santos, Érica Storer, Gilson Plano, Rafael Prado, Val Souza, Wisrah C. V. da R. Celestino e Yanaki Herrera, que desenvolveram projetos com ênfase em seus processos artísticos, e uma bolsista com ênfase em pesquisa curatorial, Luíza Marcolino.

O fruto desse processo revela a força que surge de uma convivência de seis meses com investigações de temas que brotam de forma potente sobre incertezas e complexidades contemporâneas, marcando os rumores deste século. Os trabalhos revelam uma trama de histórias pessoais e coletivas, assim como o gosto em se debruçar sobre arquivos, memórias e modos de construção de narrativas. 

Camará: planta que abre seus próprios caminhos

 Camará, que dá nome à mostra, é uma planta nativa das Américas, de nome tupi-guarani, presente por todo Brasil. Reconhecida por sua resistência, esse pequeno arbusto de flores contrastadas foi uma das espécies adotadas por Roberto Burle Marx para compor inúmeros de seus jardins, dentre eles os do Conjunto Moderno da Pampulha.

Por se propagar rapidamente, foi considerada uma espécie invasora de pastos e lavouras, mas suas impressionantes variedades cromáticas a tornaram uma opção acessível para fins ornamentais. “Camará não apenas cresce, mas também molda o ambiente ao seu redor. Ele abre – e fecha – seus próprios caminhos”, afirma a curadora Pollyana Quintella.

A um só tempo invasor e ornamental, gracioso e resistente, Camará forneceu uma boa premissa para abordar a presente edição do Bolsa Pampulha. Hoje, o anseio de distinção modernista do conjunto arquitetônico do qual o Museu de Arte da Pampulha faz parte encontra a periferia do Barreiro através da sede temporária do programa, o Viaduto das Artes, desafiando a fronteira simbólica da Avenida do Contorno. Tal como o camará, o programa se espraia por uma cidade múltipla, permeada por disputas. 

A curadora Juliana Gontijo explica que camará também remete à capoeira: “A palavra é parte do linguajar da capoeira, uma corruptela de “camarada”, oriunda do espanhol, que evoca a camaradagem entre aqueles que dividem o mesmo teto. Camará simboliza, portanto, a convivência durante um intenso processo de residência artística que durou seis meses, com seus encontros, conflitos e parcerias”. No gingado da capoeira, nas esquivas, nos golpes, na dança e no aperto de mão, encontramos uma sequência rítmica de ações que são, como uma provocação, expressadas, mas não executadas, em um jogo lúdico de equilíbrio e instabilidade.

SERVIÇO

Exposição “9ª Bolsa Pampulha: Camará”

Data: 18 de dezembro de 2024 a 24 de fevereiro de 2025

Local: Galerias do Térreo do Centro Cultural Banco do Brasil – CCBB BH 

Praça da Liberdade, 450 - Funcionários, Belo Horizonte - MG

Funcionamento: de quarta a segunda, das 10h às 22h

Ingressos gratuitos: disponíveis na bilheteria física ou pelo site ccbb.com.br/bh