Os 80 anos de Raul Seixas, celebrados neste sábado (28), inspiram uma série de novidades que pretendem fazer com que a obra do baiano seja revista pelos fãs e descoberta pelas novas gerações. No streaming, “Raul Seixas: Eu Sou” chegou ao Globoplay na última quinta-feira (26). A produção da O2 Filmes, criada por Paulo Morelli, que divide a direção com Pedro Morelli, tem o ator Ravel Andrade no papel do Maluco Beleza.
Em oito episódios, a série passa por todas as fases da vida de Raul dentro e fora dos palcos – da infância em Salvador e o encontro definitivo com o rock ‘n’ roll ao estrelato, passando pelos relacionamentos amorosos, os parceiros fundamentais, o alcoolismo, a concepção dos grandes discos e sucessos, os excessos e as tormentas existenciais que acompanharam o artista.
“O Raul tinha esse discurso do Maluco Beleza e ele realmente viveu assim. Na série, tínhamos a responsabilidade de sermos ousados, não podia ser algo careta”, comenta Pedro Morelli. “Há cerca de 60 músicas do Raul. É uma série muito musical, a gente vai ouvir muito Raul”, avisa Paulo Morelli.
Fã de Raul desde a infância, o ator Ravel Andrade, ao mergulhar no biografado, diz que se impressionou com um lado até então desconhecido por ele: a atuação do baiano como produtor musical da gravadora CBS, no Rio de Janeiro, no início dos anos 1970, após a dissolução da banda Raulzito e Os Panteras.
Na CBS, Raul produziu discos de Sérgio Sampaio, Miriam Batucada, Renato e seus Blue Caps, Tony & Frankye, Edy Star e Jerry Adriani, entre outros, e compôs sucessos para Diana (“Ainda Queima a Esperança”), Balthazar (“Se ainda existe amor”) e o próprio Jerry Adriany (“Doce, Doce Amor”).
“Eu não sabia da excelência que ele tinha no ramo da produção musical. Fiquei muito impressionado com a quantidade de artistas e discos que o Raul produziu e a quantidade de músicas que fez para outros artistas”, conta o ator. “Para mim, os discursos libertários são o ponto alto da série. Se a juventude absorver esse discurso do Raul vai ser maravilhoso”, completa o protagonista de “Raul Seixas: Eu Sou”.
Disco e exposição
Outra novidade, com data de lançamento prevista para fim de julho, é o disco “Raul 80” (Universal Music), que conta com a participação de nomes contemporâneos da música brasileira: BNegão, Maneva, Ana Cañas, Chico Chico, Baia e Rodrigo Suricato, produtor do álbum. A turma se reuniu para gravar releituras de temas como “Tente outra vez”, “Eu nasci há dez mil anos atrás”, “Metamorfose ambulante”, “Moleque maravilhoso”, “Gita” e “Cowboy fora da lei”.
“Minha maior preocupação e cuidado com esse projeto foi de não cometer o erro de outros tributos que descaracterizam em demasia as escolhas das canções originais para se adaptarem aos artistas escolhidos. Eu fiz o contrário: trouxe os artistas para um universo mais folk, rock e country, que era o ambiente do Raul”, ressalta Rodrigo Suricato.
A partir do dia 11 de julho, a exposição “O Baú do Raul”, a maior já montada em tributo ao compositor, ocupa dois andares do Museu da Imagem e do Som (MIS), em São Paulo. A mostra reúne centenas de itens originais do acervo cedido por Kika Seixas, companheira do baiano entre 1979 e 1985, e Sylvio Passos, fundador do fã-clube oficial do Maluco Beleza.
Os raulseixistas poderão ver fotos, gravações, figurinos de shows, manuscritos, cadernos, roupas da infância, cartas, entre outras peças. No primeiro fim de semana da exposição, de 11 a 13 de julho, haverá performances musicais. Os ingressos começam a ser vendidos neste sábado (28) pelo site do MIS. “O Baú do Raul” ficará em cartaz durante três meses.
“Os primeiros contatos com o MIS começaram em 2016, mas por algum motivo a ideia ficou parada. É muito importante preservar a memória do Raul. Estou muito sensibilizada por retomar esse projeto celebrando os 80 anos dele”, afirma Kika.
Segundo o jornalista e escritor pernambucano Rogério Medeiros, autor de “Eu Sou, Eu Fui, Eu Vou – Uma Biografia de Raul Seixas”, lançado em abril, é muito importante que novas produções surjam para abordar as complexidades de Raul e elucidar folclores em torno dele: “O Raul, até mais que outras figuras da música popular brasileira, muito envolto em mistérios”.
Música inédita
Ao longo de 2025, a 23ª edição do Festival Internacional de Corais (FIC) também irá homenagear o Maluco Beleza em diversas ações até dezembro. Uma delas acontece no dia 13 de julho, na Fazenda Gruta do Baú, em Pedro Leopoldo, que recebe, das 14h às 19h, o evento “Woodstock Mineiro – FIC Toca Raul na Gruta do Baú”. Os ingressos estão disponíveis na plataforma Sympla.
Affonsinho, Arnaldo Brandão, Chico Lobo, Lelo Zaneti, Marina Machado, Telo Borges, Orquestra Mineira de Rock, os corais Ensaio Aberto e Madrigal Scala, e o grupo Cantos de Minas, de Aline Santos, Matheus Lannes e Suelly Louzada, são alguns dos nomes já confirmados.
A edição deste ano do Festival Internacional de Corais teve início em abril e, até dezembro, irá passar por aproximadamente 40 locais de Minas Gerais. Murilo Antunes e Cláudio Venturini compuseram “Toca Raul” especialmente para o FIC 2025. A canção será apresentada pela primeira vez em Pedro Leopoldo.
Antunes e Raul se conheceram nos bastidores do Festival Internacional da Canção (FIC) de 1972. O mineiro, em parceria com Sirlan, havia inscrito “Viva Zapátria” na competição; Raul apareceu com “Let Me Sing, Let Me Sing”. “Ouvi e ainda ouço muito Raul. Agora com o Cláudio, acabei fazendo uma brincadeira sonora com o ‘Toca Raul!’”, conta o poeta e compositor nascido em Pedra Azul.
Neste domingo (29), os 80 anos de Raul Seixas serão comemorados no Bar do Xaxá (avenida Olegário Maciel, 474 – Centro). DJs Maga e Moreno, karaokê, palco aberto, Pistinha da Manu, shows de DiSouza, Alloncio (Bloco Abre-te Sésamo), Olivêra e Toca Raul Agremiação Psicodélica fazem parte da programação, que terá início às 11h.
50 anos de “Novo Aeon”
Além dos 80º aniversário de Raulzito, 2025 também guarda outra data especial: os 50 anos de “Novo Aeon”, terceiro disco da fantástica quadra que Raul emplaca, entre 1973 e 1976, com “Krig-ha, Bandolo!”, “Gita” (1974) e “Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás”.
O álbum, comumente tido como um dos melhores da discografia do baiano, é o ponto alto da fase mais criativa da carreira de Raul e é também uma espécie de síntese da obra dele: pensamentos sobre Deus e o Diabo, vida e morte, monogamia, misticismos, críticas sociais e comportamentais, alusões à Sociedade Alternativa e discursos libertários e irreverentes permeiam “Novo Aeon”, que ganhará relançamento em vinil pela Universal Music.
No disco, os rocks clássicos de “Rock do Diabo” e “A Verdade Sobre a Nostalgia” se juntam ao baião-rap na seminal “É Fim de Mês”; a construção emocional gospel de “Tente Outra Vez” se entrelaça aos questionamentos comportamentais de “A Maçã” e à despudorada “Tu És o MDC da Minha Vida”.
Produtor de “Novo Aeon”, Marco Mazzola, parceiro de Raul em outros trabalhos, viu de perto, da cadeira do estúdio, como tudo aconteceu. “O Raul vinha sendo muito estimulado pelo sucesso e pelos parceiros que começaram a aparecer naquela época. Isso trazia coisas novas para a música dele”, pondera Mazzola.
“Raul tinha tudo na cabeça, me dava explicações que na hora eu não conseguia captar. Ele dizia ‘Mazzolêra, estou querendo fazer uma coisa que virá, que ainda vai acontecer’. Ele sempre dizia que ‘Novo Aeon’ seria um disco que ficaria para o futuro e seria muito celebrado”, finaliza o produtor.