Tradicional templo da cultura em Belo Horizonte, o Palácio das Artes planeja, para 2025, o início da primeira etapa de uma série de obras de restauro, adequação e atualização de suas instalações. A expectativa é que, a partir de outubro, o foyer de entrada e o Grande Teatro sejam fechados para a realização das intervenções, que devem se estender até 2026, com reabertura dos espaços prevista para o primeiro semestre daquele ano.
O custo total da primeira fase da reforma é calculado em R$ 12,3 milhões, informa Sérgio Rodrigo Reis, presidente da Fundação Clóvis Salgado (FCS), que, entre outros equipamentos, gere o Palácio das Artes, onde mantém sua sede administrativa.
Ele detalha que parte dos recursos foram destinados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e pela Vale, via renúncia fiscal por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultural, e outra parte vem de aportes próprios do Governo do Estado de Minas Gerais. O capital foi levantado a partir do edital Resgatando a História, uma iniciativa do BNDES para o apoio financeiro à recuperação do patrimônio histórico.
A ideia é que, no futuro, em outras etapas do processo de restauração integral do prédio, as demais áreas do edifício – como teatros multiuso, salas de ensaio, de reserva técnica, de cinema, estúdios, jardins, área administrativa e salas de diretoria – passem por melhorias. Essas vindouras intervenções, porém, ainda não têm cronograma e orçamento delineados.
“Essas obras vêm para sanar um déficit de quase 30 anos: desde que tivemos o incêndio (em abril de 1997), não passamos por nenhuma nova reforma”, critica Reis. “A gente ficou parado no tempo. E, pela falta de conservação e adequação, sentimos que estamos perdendo espaço para novos equipamentos, que estamos perdendo a competitividade. Nós temos, sim, o teatro mais bonito, objeto de desejo de todo mundo. Mas, a operação, para quem vem montar algo, fica muito cara justamente por conta da falta de atualização”, aponta, acrescentando que a acessibilidade é outra necessidade premente.
“Fizemos um projeto de sinalização em que criamos uma linguagem visual permitindo que as pessoas circulem intuitivamente pelo prédio. Com isso, queremos estar mais preparados para receber pessoas com deficiências e que, mesmo pessoas que não leem ou não falam português, consigam se orientar”, defende, dizendo que o projeto, que já está pronto, será implantado após a realização da primeira etapa da reforma.
Primeiro passo
O marco zero do início do projeto de melhorias do Palácio das Artes foi um inédito processo de levantamento arquitetônico por meio de um escaneamento a laser, que permitiu o escaneamento completo do equipamento. Medida que vem sendo celebrada como estratégica para a preservação do patrimônio, guardando informações sobre a estrutura arquitetônica da edificação, além, claro, de otimizar o diagnóstico e planejamento das intervenções necessárias para a reforma do lugar.
O mapeamento, no caso, foi implementado pela APPA – Cultura & Patrimônio, uma organização sem fins lucrativos especializada na gestão de projetos culturais e patrimoniais que atende diversas instituições em Minas e outros Estados brasileiros, tendo na Fundação Clóvis Salgado (FCS), mantenedora do Palácio das Artes, sua primeira e mais importante parceria.
A partir do escaneamento, foi realizada uma modelagem 3D que resultou em um registro preciso e altamente detalhado de toda a edificação. Ao todo, foram oito meses de trabalho, com custo de R$ 150 mil.
A aplicação da técnica de modelagem da informação da construção, conhecida como “BIM - Building Information Modelling”, gerou medidas que levaram à confecção de 79 pranchas.
Conforme Sérgio Rodrigo Reis, a iniciativa traz inúmeras repercussões práticas para a operação do Palácio das Artes. A partir do escaneamento, cita a instituição por meio de comunicado à imprensa, é possível planejar milimetricamente cenários, pensar em sinalizações espaciais, organizar e reorganizar setores antes mesmo das intervenções físicas. O levantamento também é encarado como peça-chave para a elaboração de novas medidas de acessibilidade em todos os espaços do complexo cultural.
“Esse levantamento proporcionará agilidade e precisão em qualquer intervenção física futura a ser realizada no Palácio das Artes. Isso impactará ainda em economicidade nos contratos uma vez que essa etapa, antes realizada, em cada contrato, foi superada para todo o equipamento”, exalta Felipe Xavier, presidente da APPA.
Outras demandas
Sérgio Rodrigo Reis situa que as obras no Palácio das Artes devem ser realizadas por “capítulos”. “Estamos começando com o Grande Teatro e com o foyer da entrada por serem as áreas com maior circulação de pessoas. Então, este vai ser o nosso critério: vamos implementar melhorias nos espaços que são mais usados pelo público e que são mais estratégicos”, estabelece.
Outras demandas, com o tempo, devem ser sanadas. “O Palácio das Artes é um grande complexo, que abriga diversos projetos e programas culturais. Entre os espaços abertos ao público, temos o Cine Humberto Mauro, um dos poucos espaços de cineclubismo em atividade, sempre com salas cheias, sendo também o maior produtor de mostras de cinema em Minas Gerais atualmente; os jardins internos e café, que são espaços de convivência; além das salas Juvenal Dias e João Ceschiatti, para até 120 pessoas, e das nossas quatro galerias de arte”, comenta, indicando que estas estruturas também receberão melhorias no futuro.
O presidente da Fundação Clóvis Salgado acrescenta que, além das áreas acessadas pelo público, há outras áreas mais restritas, mas essenciais para o funcionamento do equipamento, que também precisam ser atualizadas.
“O Palácio das Artes abriga, por exemplo, o Centro de Formação Artística e Tecnológica (Cefart), para cerca de dois mil alunos. Nós temos salas próprias para abrigar os ensaios dos nossos três corpos artísticos profissionais, que são a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais (OSMG), o Coral Lírico de Minas Gerais e a Cia. de Dança dos Palácio das Artes; uma reserva técnica que reúne mais de 500 obras de artes visuais na instituição; e temos, ainda, as áreas administrativas, a sala da diretoria”, enumera, citando, nesses ambientes, problemas acústicos e de excesso de calor, por exemplo. “São muitas as questões a serem superadas. E, agora, estamos nos preparando para começar a fazer isso”, garante.