Hoje é dia de Toninho Horta soltar a voz em show no Sesc Palladium. Antes que alguém corrija, a frase não está errada. O que era para ser uma noite em que o músico mineiro mostraria mais uma vez os talentos na guitarra, para reverenciar os 45 anos do icônico álbum “Terra de Pássaros”, ganhou notas de suspense após o artista sofrer, há poucos dias, um acidente a caminho de Liverpool, na Inglaterra.
“Estava numa turnê de um mês com 20 eventos em oito países da Europa. Carregando mala grande para cima e para baixo, entrei numa escada rolante, prendi minha mão e caí até lá embaixo, numa estação de trem de Londres. Resultado: quebrei o rádio, o úmero e três costelas. Os dedos não foram afetados, mas o pulso e o braço sim”, lamenta Toninho, que preferiu adiar a cirurgia para poder completar a temporada, na Europa e no Brasil.
Mesmo “quebrado”, ele não perde o humor, assinalando que a queda poderia ter sido motivada “pela emoção de chegar à terra dos Beatles”. Brincadeira que tem um fundo de verdade. Afinal, o quarteto de Liverpool foi uma das influências declaradas do Clube da Esquina, movimento que o guitarrista participou desde o primeiro momento, tocando guitarra, baixo e percussão no disco inaugural lançado em 1972.
Como no jargão do futebol, Toninho, com os seus 76 anos completados na última segunda-feira, “foi para o sacrifício”. Depois de receber os primeiros socorros na própria estação, cumpriu a programação europeia, sem cancelar nenhum show. Só foi fazer um raio-x e receber um diagnóstico mais preciso quando aterrissou no Brasil. Por conta da apresentação de hoje, só aceitou ir para a mesa de cirurgia na próxima semana.
“Foi melhor assim. Porque aqui posso fazer (a operação no rádio e no úmero) com calma, dando um tempo para me recuperar, em torno de um mês e meio, dois meses, e poder voltar a tocar”, registra. Sem o seu principal instrumento de trabalho, com o qual foi eleito um dos melhores do planeta, ele se garante: “Como estou com a banda, não importa. Estou inteiro. E posso cantar. Na Europa, deu tudo certo. E aqui vai dar também”.
O show no Palladium terá dois momentos. O primeiro é dedicado a tocar, de forma integral, o disco “Terra dos Pássaros”, gravado em parte em Malibu, nos Estados Unidos, com a preciosa ajuda de Milton Nascimento. E o segundo promoverá o lançamento da The Birdland Band, um grupo formado por seguidores da obra de Toninho e do Clube da Esquina, que estará acompanhado de convidados como Wagner Tiso e Joyce.
Toninho explica que as músicas de “Terra dos Pássaros” viraram clássicos ao longo do tempo, como “Diana”, “Céu de Brasília”, “Serenade” e “Beijo Partido”, frequentes no repertório do guitarrista. “Pedra da Lua” e “No Carnaval”, que tem letra de Caetano Veloso, são mais raras. O nome do disco, por sinal, virou uma espécie de amuleto para Toninho, batizando o grupo recém-formado (Birdland) e a empresa dele.
Essa obsessão só comprova como foi marcante a realização do álbum, que demorou três anos para ser completado e lançado. “Foi um presente do Milton, que tinha acabado de gravar o disco dele e ainda tinha quatro dias de gravação, com o técnico disponível, e sobras de fitas de rolo de duas polegadas para mesa de 16 polegadas. Como ele me ofereceu e não pagaria nada, juntei uma galera que estava lá”, recorda Toninho.
Nesse meio tempo, até “Terra dos Pássaros” chegar às prateleiras, ele participou de dois álbuns – um do Bituca, “Minas”, e outro de Airton Moreira, “Promessas do Sol”. Por causa deles, a revista inglesa “The Melody Maker” colocou Toninho no top 5 entre os melhores guitarristas de jazz do mundo em 1977. No ano seguinte, apareceu em sétimo lugar na eleição da mesma publicação.
“Terra’ é um disco de muita história, em que escolhi as melhores músicas daquela época e depois viraram clássicos, tornando-se referência para muitos artistas aqui no Brasil, apesar de que ninguém acreditava nele antes e não havia o prestígio das gravadoras”, relata.
SERVIÇO
O quê. Show Toninho Horta & convidados – 45 anos do álbum “Terra dos Pássaros”
Quando. Hoje, às 20h
Onde. Grande Teatro do Sesc Palladium (rua Rio de Janeiro, 1.046, centro)
Quanto. Entre R$ 100 e R$ 200. Ingressos pelo site da Sympla