Inês Peixoto volta a Belo Horizonte com espetáculo 'Órfãs de Dinheiro'

Dentro de uma canoa imóvel, Inês Peixoto navega por três mundos distintos. No monólogo “Órfãs de Dinheiro”, que volta a Belo Horizonte neste fim de semana, a atriz do Gupo Galpão se lança em águas solitárias para contar a história de uma tríade de mulheres que compartilham da mesma mazela: a vulnerabilidade social. Quando estreou, em 2019, Inês lançou redes em mares desconhecidos, já que este é seu primeiro trabalho autoral em mais 40 anos de carreira. Mas arriscar-se lhe rendeu um belo peixe: com o monólogo, ela venceu o Prêmio APCA 2022 de melhor atriz.

De volta aos palcos, depois surfar com o espetáculo em ambientes on-line durante a pandemia, além de levá-lo para fora do Estado e para centros culturais e espaços periféricos de Belo Horizonte, ela diz se sentir como se voltasse para a casa depois de uma pescaria frutuosa. “Teatro é isso: é sempre um reencontro com as personagens, uma reconstrução de diálogo, um reverso. É um espetáculo que gosto muito de fazer, me emociona de verdade”, reitera. 

Com direção de Eduardo Moreira e trilha sonora original criada por Tiago Pereira, filho da atriz, o texto de Inês conta histórias dolorosas de três mulheres: uma vendida à exploração sexual ainda na infância e construiu uma dura casca em torno de si por conta disso; outra é uma refugiada que luta pela sobrevivência com um bebê nos braços; e, por fim, a trama de uma empregada doméstica que percebe que talvez não conseguirá alcançar seu ideal de família.

Para a construção do texto, Inês visitou seu repertório de vivências e experimentações. “O espetáculo passeia pelo drama, pela comédia e pela tragicomédia. Eu fiquei algum tempo tentando escrever esse texto e queria escrever um monólogo para mim, um trabalho que eu buscasse falar de coisas que me atravessam. E durante muito tempo, fui separando histórias, situações vindas de memória, de lugares que eu visito, de imagens, de livros, de autores que eu amo, dos jornais, enfim, de todas essas histórias que estamos vivendo o tempo todo”, aponta. 

Inês só sabia que queria fazer o espetáculo dentro de uma canoa, mas ainda precisava de algo para dar liga às histórias. “Lendo o livro ‘O Modernismo Localista das Américas’, em que o Paulo da Luz Moreira analisa a obra do Juan Rufo, do Guimarães Rosa e do William Faulkner, vi um capítulo chamado ‘Órfãs de Dinheiro’, em que ele analisa três contos e as personagens de cada autor, que se encontram numa situação muito precária pela falta de possibilidade de autossustentação, por não serem independentes financeiramente. E isso me bateu de uma maneira muito forte, esse título, essa premissa, e eu falei, ‘poxa, eu acho que por aí eu consigo estruturar essas minhas histórias’”, indica.

A atriz contou com ajuda para a construção de uma embarcação que fosse totalmente adaptável, inclusive ao tamanho do seu carro, para transportá-la com facilidade de uma casa para outra. “Foi um processo muito interessante, porque eu queria que tudo acontecesse ali dentro do barco. Queria que as músicas, os efeitos de luz e as personagens saíssem de dentro do barco. Elas estão em situações muito diferentes, e eu sou tomada, no mais íntimo do meu ser, pela história delas. Então, com os elementos em cada uma, eu consigo mergulhar nesse universo tão distinto das três”, evidencia.

Ela ganhou o APCA, inclusive, após uma temporada em um “teatro pequenininho de 98 lugares”, em uma sala do terceiro andar do Sesc Pinheiros, em São Paulo. “As pessoas quase que ficavam junto comigo dentro dessa canoa. Foi muito bonita a uma jornada. Eu tive uma grande sorte de conseguir trazer o espetáculo para São Paulo, e essa premiação foi muito linda”, comemora.

SERVIÇO

“Órfãs de Dinheiro”, com Inês Peixoto

Quando. 10 a 12 de maio (de sexta a domingo), sempre às 20h

Onde. Teatro da Cidade (rua da Bahia, 1.341, centro)

Quanto. R$ 60 (inteira), R$ 30 (meia-entrada) e R$ 25 pelo Sympla, com o cupom LISTAAMIGA 

Observações. Dia 10 de maio será acessível em libras, e, no dia 11 de maio, haverá bate-papo com Inês após a apresentação